No passado dia 23 de fevereiro, os espanhóis Crisix regressaram ao RCA Club, em Lisboa, numa das datas The Underground Tour, para mais um concerto em cheio, desta vez acompanhados pelas bandas portuguesas Mindtaker e Mass Disorder.
O início dos concertos estava marcado para as 17:30 e o prometido é devido. O RCA apresentava uma plateia bastante despida, mas bem sabemos que um domingo à tarde, definitivamente, não é o momento predileto. Sem demoras e não se mostrando intimidados, os Mindtaker entram em palco, prontos para aquecer a sala. O público foi-se chegando à frente e rapidamente se rendeu ao old school thrash do quarteto alentejano, abrindo o primeiro mosh da noite ao som de “Seven Gates Of Hell”. Estava decidido. O álbum de estreia dos Mindtaker, a ser lançado no dia seguinte, iria ser um sucesso. Destacando-se temas como “Skull Impaler”, que apanhou todos num som indomável e poderoso e ainda “Destruição Total”, que promete não deixar nenhum mosh por fazer.
Vindos de Almada, seguiram-se os Mass Disorder, que traziam na bagagem um metal mais moderno, algo entre o thrash e o death. Sonoridade esta que ficou bem caracterizada com “The Way To Our End” e que imediatamente conseguiu puxar para a frente a audiência. Com a energia incansável do vocalista Bruno Envagelista e as malhas pesadas que ecoavam por toda a sala, o grupo da margem sul mostrou-se pronto para deitar a casa abaixo, ao som do mais recente álbum “Conflagration”. Aqui, não havia maneira de escapar, sendo que “Rats” e “Modus Operandi” não deixaram ninguém livre do indispensável headbang, ao som de riffs melódicos e intensos blastbeats.
O palco estava agora estava pronto para entrada dos Crisix em cena e decorado a rigor: uma sanita e uma garrafa de cerveja gigante e personalizada em palco, com o pano da tour no fundo (este pano ainda tem que se lhe diga, mas já lá chegamos). A banda entrou em cena pelo meio do fumo, ao som da característica “A.S.F.H.”, passando logo de seguida para a brutal e violenta “Xenomorph Blood” e um circle pit a acompanhar.
Sem muito tempo para descansar, seguiu-se uma cover dos Vio-lence, “World In a World”, sucedida por “Rise… Then Rest”. Ainda agora a banda havia começado o espetáculo e já era possível sentir a vibe de old school thrash que acompanhava a banda, trazendo, no entanto, algo de novo e refrescante ao subgénero, mantendo-o tão agressivo e catártico como sempre. Mas deixo as ações falarem por mim, thrash que se preze tem que ter mosh e Marc Busqué não queria ficar de fora. Não se deixando prender ao palco, em “Conspiranoia” o guitarrista saltou para o meio dos fãs, que prontamente iniciaram um pit infernal ao seu redor, num momento fotográfico e digno de um videoclip.
Foi notória a paixão que os membros da banda têm pela música e o quanto se divertiram a tocá-la. Os fãs de Crisix sabem bem que os cinco são ávidos fãs de bandas desenhadas e em particular do Dragon Ball, uma série que acompanhou a infância de uma geração. Os próximos temas, Spawn, Frieza, The Tyrant e Brutal Gadget foram inspirados exatamente na cultura da BD, sendo cada uma das faixas referente a personagens diferentes, Spawn e Frieza (como indicam os nomes) e a máscara, respetivamente. A setlist já ia a meio e não havia o menor sinal de cansaço por parte de nenhum dos lados, mas quem corre por gosto não cansa. De volta ao álbum “Sessions #1 - American Thrash”, o som familiar da “Imitation Of Life” dos Anthrax e da pujante “The Toxic Waltz” dos Exodus foi a injeção de adrenalina ideal, intercaladas pela destruidora “Leech Breeder”, que permitiu aos membros mostrar a sua boa dinâmica em palco.
“Get Out Of My Head” foi a próxima faixa na setlist e aqui não se permitiu a ninguém que ficasse com os pés colados ao chão, quando digo ninguém, é mesmo ninguém. Ao som da batida de Javi Carrión, o vocalista Julián Baz pediu a todos que se sentassem para, ao soar do “breakdown”, se lançassem de volta para o ar. Demonstrando a versatilidade da banda, os músicos trocaram de lugar uns com os outros, Marc na voz, Julián no baixo, Javi na guitarra, Albert na bateria e Pla na guitarra, para um medley que incluiu os temas “(You Gotta) Fight For Your Right (To Party!)”, “2 Minutes To Midnight”, “Walk” e “Seek And Destroy”. A fechar a setlist estiveram as faixas “G.M.M” e “Bring ‘em To The Pit”. Uma festa não é uma festa sem balões, não é verdade? Ao som de uma melodia alegre e divertida, Julián propôs aos fãs que agarrassem nos balões que foram atirados, até a música voltar a arrancar, num imenso wall of death. Por incrível que pareça, nem todos rebentaram! Os Crisix mostraram, sem dúvida, que sabem fazer a festa e de que maneira, levando um espírito de família ao RCA e muita paixão ao thrash. Por fim, o espetáculo não estava completo sem a famosa “Ultra Thrash”, que levou toda a gente para cima do palco, todos convidados ainda a assinar o pano de fundo da tour, personalizado pelos fãs. Ainda que naquela tarde, o RCA não tenha enchido, esta foi, de certeza, uma das tardes mais memoráveis que já se passou lá. Não só pelo enorme talento musical de todas as bandas, como pela sua paixão, dedicação e diversão que conseguiram levar a todos.
Texto por Miguel Matinho
Fotografias por Ana Carvalho
Agradecimentos: Metal's Alliance