About Me

Entrevista aos Earth Drive


Os Earth Drive, oriundos do Montijo, falaram com a Metal Imperium sobre o novo álbum; a primeira demo; o que sentiram por passarem por festivais de renome e muito mais. Conheçam melhor a banda.

M.I. - O que nos podem dizer sobre vocês e a história da banda?

Os Earth Drive são caracterizados por um som denso, melódico, visceral, catártico e pesado. A banda formou-se em 2007 no Montijo e passou por vários locais e festivais de prestígio da cena underground, como o Festival Reverence Valada, Under the Doom IV Edition, Sprint to Rock festival, VOA Heavy Rock Festival, VOA Heavy Rock Festival, Festival Woodrock, Stonefest, Sabotage Club, RCA, Music Box, Hard Club, Woodstock 69, Cave Avenida, Barracuda, Marginália, Cine Incrível Almadense, Cinema Teatro Joaquim de Almeida, Timilia das Meias, Bota´baixo, DRAC e muito mais clubes de igual importância. A banda também partilhou palcos com conhecidas bandas nacionais e internacionais da cena underground, como Sasquatch, Steak, Crippled black Phoenix, Glowsun, Isaak, Radar man from the Moon, Planet of Zeus, Spectral Haze, Ecstatic Vision, My Master the Sun, Sinistro, Process of Guilt, The Black Wizards, The Quartet of Whoa!, Basalto, Vircator, Riding Panico, Marbles, Moes Implosion, Son of Cain, Heavy Cross of Flowers, Sun Mammuth, Wells Valley, Earth Electric, Desert Smoke, muitas outras grandes bandas. Os Earth Drive foram homenageados com o prémio pelo melhor Álbum de Metal Alternativo de 2017 com o disco “Stellar Drone” através da revista World of Metal (Edição 13, página 174), e mereceu uma menção prestigiosa na LOUD! “Um dos projetos mais brilhantes do actual underground nacional” - José M. Rodrigues | ALTO! nº202 A banda lançou "Planet Mantra" em 2015, pela editora Raging Planet e o seu primeiro álbum "Stellar Drone" foi lançado em 20 de outubro de 2017 pelo mesmo selo com méritos reconhecidos da imprensa underground nacional e internacional. “Helix Nebula” será lançado, mais uma vez, pela Raging Planet em março de 2020. Este é o segundo LP, onde, além de suas influências cósmicas e psicadélicas tradicionais, onde exploramos o potencial do nosso som intenso com tons viscerais quentes, saturados e ambientais. A identidade da banda, para além de seu poder e volume, tem uma forte componente atmosférica, intensas vibrações de texturas imersivas e meditativas. Os efeitos espaciais, tons pesados ​​e atmosferas meditativas / ritualísticas criam uma estética nebulosa e única, tornando este trabalho numa experiência notável para nos deixar fluir e viajar dentro de nós mesmos.


M.I. - A vossa primeira demo (“Reset") saiu em 2008. O que nos podem contar sobre a mesma?

Obrigado por nos fazeres relembrar essa demo. De facto, creio que a mesma se intitulava “Take it Down”, “Reset” era o single dessa demo. Foi um momento realmente determinante para a banda poder começar a ter a perceção do que era o processo de gravação e de quais as potencialidades que esse mesmo processo proporcionava relativamente à imagem que tínhamos de nós próprios enquanto artistas e qual era o reflexo do nosso enquadramento sónico e estético. Foi muito importante para nos dar um incentivo a continuar e poder utilizar essa demo para ir tentando marcar concertos. No fundo, é o que continuamos a fazer. 


M.I. - Graças a essa demo, apareceram em vários eventos, de salientar no Clube Offbeatz e no programa de rádio do Pedro Moreira Dias, e também partilharam palco com nomes como Marbles Power Trio e Riding Pânico. Como se sentiram?

Foi uma grande emoção, para ser sincero. Tal como ainda hoje é cada vez que sentimos a nossa arte reconhecida pelas pessoas e pela comunicação social que muito generosamente ainda dedica tempo a projetos de menor dimensão e que nos faz sonhar. Foi uma oportunidade de trabalharmos com mais dedicação ainda e um grande incentivo termos merecido essa atenção e termos participado nesses eventos partilhando o palco com bandas que nos influenciaram também a querer tocar, gravar e andar na estrada. As bandas que referiste são muito boas e foi um prazer poder privar com toda a malta e aprender com eles. 


M.I. - O vosso primeiro concerto foi em 2009, na Lituânia, Rokiskis, num intercâmbio de jovens. Podem-nos falar sobre a experiência e o que recordam?

Sim, embora ainda numa fase embrionária da banda, mas já tínhamos originais compostos e acabámos por apresentá-los lá. Interagimos com vários músicos de diferentes países e foi, sinceramente, uma experiência intercultural muito importante. Recordamos com grande nostalgia esses bons momentos e esperemos que algum dia possamos experienciar novamente emoções semelhantes em contextos interculturais.


M.I. - Gravaram um EP, de nome “Ink Storm”. Falem-nos, por favor, sobre o processo de escrita e música para o mesmo.

Já foi gravado em 2011/2012, por isso já vai longe essa experiência, mas por acaso ouvimos ontem temas dessa altura e ainda soam atuais. Foi pena que a gravação e mistura tenha sido feita por nós e tenha ficado terrível. Ainda chegámos a regravar esses temas no nosso estúdio e até já estavam a soar melhor. Talvez um dia vejam a “luz do dia” com uma nova captação e mistura. O processo de escrita foi simplesmente a experimentação de vários riffs que vamos apresentando e verificando se, de facto, têm algum impacto emocional em nós de forma a que tenhamos vontade de voltar a tocá-los e expressar conteúdo vocal por cima. É assim que continuamos a compor. 


M.I. - Já participaram em festivais, tais como o Under The Doom IV, o VOA Heavy Rock, o Festival Stonefest em Espanha. Como foi a experiência de tocar em festivais? 

A experiência de tocar em festivais é muito boa. Continua a ser aquele feeling que sempre tivemos de cada vez que íamos ver bandas aos festivais que mais gostávamos, só que dessas vezes tínhamos o privilégio de tocar. Andamos pelos festivais como espectadores e depois apercebemo-nos que é a nossa hora de tocar. No entanto, reconhecemos que a ansiedade é sempre maior até chegar a nossa hora de tocar. Talvez seja aquela responsabilidade de quereremos retribuir a oportunidade com um bom espetáculo. Quando acaba o concerto, voltamos a ser espectadores e já podemos beber uma cerveja a mais, relaxar e apreciar as outras bandas na plenitude. 


M.I. - Em 20 de outubro de 2017, “Stellar Drone” foi lançado através da editora portuguesa Raging Planet. Foi um álbum difícil de escrever e gravar? O que nos podem também dizer sobre a capa?

O processo de escrita tem sempre algo em que a expressão das nossas ideias e emoções é muito visceral e catártica, portanto é complicado dizer se é difícil ou fácil. É um processo de tensão e libertação todas as vezes que passamos pelo processo. A gravação foi complicada sim, porque fizemos tudo sozinhos e tivemos um contratempo em que desgravamos mais de metade das baterias devido a um erro no nosso pc e voltamos a regravar tudo. Depois foi um longo processo de misturas em que tivemos ajuda do André Eusébio e do Pedro Mau, que nos ajudaram a chegar ao melhor resultado possível com as captações que tínhamos feito. Quanto à colaboração com o Daniel Martin Diaz, surgiu de um contacto que lhe fizemos com uma ideia que tínhamos para a capa. Nunca pensamos que respondesse e ficámos bastante surpreendidos pela sua resposta e por aceitar que a sua arte estivesse presente num disco de Earth Drive. Foi algo que nos deixou bastante gratos, porque, de facto, são duas obras suas de excelência que ele já tinha e que queríamos usar para o conceito do disco. Numa estão representações gráficas de buracos negros (Black hole universe) e a outra é representativa da hierarquia da consciência (Hierarchy of Consciousness). Sendo que estes temas fazem parte do universo conceptual dos Earth Drive, achamos que faria todo o sentido esta colaboração.


M.I. - A 13 de março de 2020, o álbum «Helix Nebula» será lançado novamente através da Raging Planet. Foi gravado nos The Pentagon Audio Manufacturers Studios pelo produtor Fernando Matias e, a capa foi idealizada em colaboração com o artista Daniel Martin Diaz. Falem-nos, por favor da ideia para o álbum, em termos de escrita, sonoridade e design.

É um orgulho e um privilégio merecermos novamente a aposta do Daniel Makosch para a edição deste disco e foi um prazer enorme também trabalhar com o Fernando Matias que realizou um trabalho fantástico com o nosso som. Pretendíamos que este álbum fosse o seguimento do “Stellar Drone” até porque, conceptualmente, os conteúdos estavam muito interligados e a sincronicidade foi de facto um denominador comum em ambos os discos. Fazia parte das nossas intenções editar o disco mais cedo, mas de facto enfrentámos um período de instabilidade com a mudança na formação e todo o processo de composição atrasou bastante. Como todo este caos se organiza de uma forma absolutamente fantástica tudo ocorreu de modo a que “Helix Nebula” fosse uma realidade e agora sentimo-nos gratos por tudo o que aconteceu. É um álbum de mudança e de transformação e, de facto, desde a sua génese até à sua conclusão, têm sido períodos e experiências de aprendizagens e adaptações a novas realidades dentro e fora da banda, que nos fazem crescer cada vez mais como pessoas e como artistas. Agora é uma fase em que a partilha com as pessoas possa ir também transformando estas canções e entregando o pedaço de cada uma delas a cada uma das pessoas que aguarda pela sua mensagem. Seria excelente que estes temas fizessem também parte de algum processo de mudança, crescimento ou desenvolvimento pessoal para cada um que se envolva com este disco. Quando à colaboração com o Daniel Martin Diaz, tudo se processou da mesma forma. Sendo este um disco que seria a sequência do “Stellar Drone”, já tínhamos a ideia de voltar a ter a arte do Daniel Martin Diaz expressa no nosso disco. Assim foi e desta vez utilizou-se também uma foto da NASA. Contactámos o Bert Ulrich na Nasa a solicitar autorização para utilização de uma imagem que fundimos com a arte do Daniel e que resultou na perfeição. Contactámos novamente o Daniel Martin Diaz que aceitou, novamente, o conceito para utilizarmos a imagem que representa os mistérios cosmológicos (Cosmological Mysteries) e que fazia novamente sentido perante todo o conteúdo conceptual que tínhamos para este disco. 


M.I. - O que podem os fãs esperar deste registo? 

Podem esperar algo honesto e autêntico que resultou das experiências e das influências que as nossas vidas tiveram, quer ao nível pessoal, quer ao nível artístico, de coisas que fomos ouvindo e vivendo. Podem esperar uma viagem contínua em que cada tema se interliga num todo através de interlúdios e introduções meditativas e experimentais que acabam por adornar esteticamente este disco de uma forma única, na nossa modesta opinião. Podem viajar na flutuabilidade ambiental que proporcionamos e podem libertar-se através de pesados riffs, capazes de serem catárticos o suficiente para nos sentirmos mais leves. 


M.I. - O single de apresentação chama-se “Dharma Throne”. Qual o significado do mesmo?

Claro que o interessante será sempre cada um interpretar da sua forma a respetiva letra. 
Mas agradecemos bastante o vosso interesse e é um privilégio poder partilhar que o tema fala sobre a nossa Deusa mãe que representa a Terra e todas as criaturas vivas e o Pai que representa o Cosmos e o universo. Uma eterna dança da Terra num Cosmos que nos projeta no Dharma (lei cósmica) e nos conecta na complexidade da sincronicidade, tornando assim o tempo circular e não linear. Assim, passado, presente e futuro tornam-se num só trono cósmico e dinâmico e não num trono estático. 


M.I. - Quais as referências para o single e álbum?

Vamos encontrando inspiração em tudo o que nos rodeia. Vamos ouvindo muita coisa diversificada, uma panóplia de influências e que vão ficando no nosso inconsciente que as mistura para, mais tarde, devolver à existência algo autêntico, criativo e honesto.


M.I. - O que acham que mudou de um álbum para o outro, em termos musicais e líricos?

O que mudou foram apenas as experiências vividas e a maturidade que a vida nos vai incutindo. As nossas influências musicais, embora sejam muito diversificadas, encontram-se sempre no rock e é natural para nós expressarmo-nos da forma como nos têm ouvido e, apesar disso, temos também interesses comuns no âmbito do desenvolvimento pessoal através da arte e que resultam naturalmente neste imaginário estético e sonoro que vamos criando. 


M.I. - Obrigada por esta entrevista e espero conversar convosco novamente.

Obrigado nós por toda a atenção e interesse que demonstraram pela banda. Foi uma entrevista muito interessante e que nos fez também revisitar a nossa história e o nosso propósito enquanto pessoas e artistas. É para isto que a arte serve. Para nos conectarmos, aprendermos e evoluirmos em conjunto desta forma tão entusiasmante. Tudo de bom para todos e até breve. 

Entrevista por Raquel Miranda