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Reportagem: Wells Valley e Soul of Anubis @ Sabotage Club, Lisboa – 22/02/2020


Foi com um misto de alegria e tristeza que me desloquei ao Sabotage Club nesta noite. Alegria por saber que ia assistir a mais um grande concerto naquela sala, tristeza por saber que pode ser um dos últimos a ter ali lugar. Pouco ou nada posso acrescentar ao que o Vasco Rodrigues apontou aquando da sua reportagem sobre os Artigo 21, apenas lamentar que exista ainda quem pense que a música em Portugal passa apenas pelo Pop in Rio, com uma sempre presente Ivete, ou pelos concertos do grande Tony, onde ele interpreta os seus “originais”. Há no nosso país quem aprecie sonoridades alternativas, ou se quiserem, underground. O Sabotage Club sempre se pautou por ser um elo entre o artista e o consumidor desses estilos musicais. Conhecido por ceder o seu palco a inúmeras bandas ao longo do tempo, sempre lhes deu a exposição de que elas tanto necessitam, tal como aconteceu uma vez mais nesta noite. Desculpem o desabafo, mas o Sabotage faz falta.

Vamos então falar sobre o concerto dos Wells Valley e dos Soul of Anubis. O mote para este concerto passava pela apresentação do último álbum dos Wells Valley, Reconcile the Antinomy e como convidados de luxo, os Soul of Anubis estreavam-se a tocar na Capital, assegurando a primeira parte. Pelas 23h20 os Soul of Anubis começavam a sua atuação. Também eles têm um álbum novo que se esforçam por promover. E que álbum, lançado em setembro passado, The Last Journey é um poderoso trabalho, muito pesado e progressivo. “Beyond the Plague” deu início a uma atuação que incidiu precisamente sobre esse álbum, tocando quase todos os seus temas. Se o primeiro apanhou o público ainda distraído, o segundo, “Black Mountain”, colocou todos a mexer com uma entrada de bateria forte, que não deixou ninguém indiferente. Após os agradecimentos feitos aos Wells Valley, ao Sabotage e ao público presente, o concerto prosseguiu e “Emperor” surpreendeu pela sua rapidez, antes de a banda visitar o anterior álbum, The Monster Among Us para tocar a malha “Ba´al”. Este trio de Santa Maria da Feira despediu-se fechando o círculo. Se o concerto tinha arrancado com o primeiro tema do último trabalho, o derradeiro tema desta noite, “The Last Journey”, é também ele o último desse mesmo álbum.

Os Wells Valley atravessam um bom momento. Os seus trabalhos têm recebido críticas favoráveis, as suas atuações são enérgicas e assim, é natural que o número de pessoas que se identifica com a sua música tenha vindo a crescer. A somar a estes juntam-se os curiosos que, tal como São Tomé, querem ver para crer e por essa razão o Sabotage Club tinha uma sala muito bem composta esta noite. A apresentação do álbum foi feita da forma que, na minha opinião, é a mais honesta, ou seja, na integra. A ordem não foi a mesma que se encontra disposta no álbum, é verdade, mas os temas foram todos interpretados, sem a necessidade de usar o velho truque de incluir uma malha das antigas aqui e ali, como forma de disfarçar um tema novo que seja menos bom.
Praticamente a tocar em casa, este trio começou com “Antient”, que marcou o início de um desfilar de pós metal onde o doom se mistura com uma energia muito escura. O ritmo da sua música não é acelerado e os riffs sucedem-se. “Henosis” foi talvez a exceção, fez todo o público presente na sala movimentar-se de forma mais brusca, afinal, os Wells Valley também sabem fazer temas com mais ritmo, embora tal fuja um pouco ao seu padrão. Agradecimentos feitos, Filipe Correia pediu ao Sabotage que nunca se esqueça dos Wells Valley, pois é para eles motivo de satisfação tocar naquele palco. “Forty Days”, tema com que termina Reconcile the Antinomy, deveria também encerrar a atuação desta noite, mas Filipe perguntou aos presentes se aguentavam mais uma e perante a resposta afirmativa, interpretaram “Ophanim”, único tema que não pertence ao último trabalho. Ótimo concerto de duas grandes bandas que se estão a afirmar cada vez mais dentro do underground nacional.


Texto por António Rodrigues
Fotografias por Sabena Costa
Agradecimentos: Sabotage Club