Antes de Rudolf Schenker começar a compor baladas para os Scorpions nos anos 80, eles possuíam uma sonoridade bastante característica, muito por culpa de um virtuoso guitarrista e compositor chamado Uli Jon Roth que com eles gravou quatro álbuns na década de 70 que se viriam a tornar icónicos. A estes devemos ainda juntar Tokyo Tapes, um álbum ao vivo que ainda hoje é uma referência, gravado pouco antes da sua saída para formar os Electric Sun. Eram, pois, alguns desses temas que o público que se deslocou ao Titanic esperava ouvir nesta noite que tinha por objetivo angariar fundos para uma boa causa, prestar auxílio a cães abandonados. A sala estava bem composta e tal como no ano anterior, Uli Jon Roth não atuou sozinho. A ele juntaram-se os Attick Demons e o repetente Manuel João Vieira.
Coube aos Attick Demons iniciarem esta noite com toda a energia que lhes é reconhecida. Na verdade, os seus concertos deviam trazer aqueles selos que acompanham alguns produtos e que dizem “Marca de Confiança”, tal é a qualidade dos seus espetáculos. O seu último álbum Let´s Raise Hell continua a predominar no setlist dos Attick Demons e foi, portanto, com naturalidade, que eles começaram com “The Circle of Light”, logo seguida de “Adamastor”, onde assistimos a um confiante Dário Antunes a solar em despique com Nuno Martins. Depois houve tempo para uma visita a Atlantis, primeiro álbum da banda, para interpretar os temas “City of Golden Gates” e “The Flame of Eternal Knowledge”. Logo de seguida, foi a vez de um visivelmente cansado Artur Almeida se dirigir ao público para proceder aos habituais agradecimentos e afirmar ser uma enorme honra para os Attick Demons poderem abraçar esta causa.
As atuações dos Attick Demons, já o disse, são sempre fantásticas, mas quando a Liliana dos Inner Blastse se junta a eles em palco para interpretar “Dark Angel”, acontece algo mágico, é como a cereja no topo do bolo. O tema é uma excelente composição e Liliana uma reconhecida vocalista que se entrega de corpo e alma. Prova disso é a forma como dançou sozinha em palco durante a introdução do tema, captando a atenção de todos os presentes. O concerto continuou com temas de Let´s Raise Hell para terminar com nova visita ao primeiro álbum, com as músicas “Back in Time” e “Atlantis”.
Depois de um leilão flash conduzido por António Freitas, onde se leiloaram alguns artigos autografados por Blaze Bailey, foi a vez de Uli Jon Roth entrar em palco, fazendo-se acompanhar por uma banda composta por cinco magníficos músicos portugueses, que se juntaram para este concerto em particular. O interesse de quem estava a assistir era em especial por temas dos Scorpions, mas foi com um tema dos Eletric Sun que o concerto teve início. Após esse primeiro tema, Uli Jon Roth, a simpatia em pessoa, agradeceu a todos os presentes, lembrando que estavam todos a fazer algo de maravilho, contribuindo para uma nobre causa. Prometeu ainda que esta noite seria melhor do que a do ano passado. “Indian Dawn” foi a música que se seguiu e só depois interpretou “Sun in My Hand” um tema dos Scorpions. Seguiu-se “Don´t Tell the Wind”, com um incrível solo de guitarra (nem parece ter 65 anos) e logo se voltou ao período Scorpions, com um desfilar de temas que visitou os quatro álbuns em que participou, tocando “We´ll Burn the Sky”, “In Trance” e “Fly to the Raibow”, com mais um solo de guitarra que demonstrou que a sua guitarra é mesmo elétrica, não só pelo magnifico som que produz, mas também por todas as luzes que dela emanam. “Pictured Life”, “Catch Your Train” e “Dark Lady”, que permitiu a todos os restantes músicos poderem solar e mostrar também as suas qualidades e “The Sails of Charon”, que deveria ter sido o último tema da noite, mas a pedido do público houve tempo para um pouco de Hendrix, com o tema “Watchtower”, com que encerrou a sua atuação.
Como que a provar que a grande atração desta noite era mesmo o músico alemão, a sala esvaziou consideravelmente após a sua atuação. No entanto, faltava ainda atuar o grande Manuel João Vieira que, com a simplicidade que lhe é reconhecida, interpretou temas do seu vasto reportório, acompanhado apenas por mais um guitarrista e um baterista. Músicas como “Alice”, “Colhão Colhão” fizeram as delícias de todos aqueles que não arredaram pé do Titanic. A pedido dos presentes houve tempo para “Baltazar”, “Marilú”, “Vida de Cão” e “Menina Azul”, parecia os “Discos Pedidos”. Eram cerca das 02h30 e os resistentes queriam mais. Mesmo depois da restante banda sair, Manuel João Vieira ainda interpretou dois “fados”, dando por concluído assim este evento que se espera ver repetido por muitos mais anos. Os cãezinhos agradecem e os apreciadores de boa música também.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Ana Carvalho
Agradecimentos: Concert For Street Dogs