Muito fértil neste tipo de surpresas, o Sabotage proporcionou nesta noite mais um bom motivo de interesse para que os apreciadores de Stoner, ou de rock em geral, saíssem de casa e visitassem o seu espaço. Se ainda recentemente por ali tinham passado bandas como os Vircator e os Stones of Babylon, dando um concerto que ainda deve estar na memória de quem os presenciou, desta vez cabia aos Sun Mammuth e aos Heavy Cross of Flowers terem a sua oportunidade de fazerem o mesmo.
Foram os Sun Mammuth que iniciaram esta noite com o seu stoner instrumental, onde pontua muito experimentalismo e um pouco de psicadelismo. Agressivos, com riffs fortes, este trio da Lousada surgiu em 2013, embora tenha apenas um álbum, Cosmo, de finais de 2015. Às 23h30 arrancou a sua atuação com “Evocation II” e logo no final desse tema se teve que proceder à troca do cabo da guitarra de Nuno Henriques. Um mau presságio? Nada disso, a noite continuou sem mais percalços ao som da sua música. “Sibir” foi o tema seguinte e a sala, como que por artes mágicas começou a compor-se. O espaço que estava bastante vazio ao arranque da atuação dos Sun Mammuth, pareceu encher durante o seu concerto e o Sabotage estava com uma excelente casa.
Já na ponta final da sua atuação voltaram a “Evocation I”, antes de terminarem com “Terlamonte”, tema mais agressivo do seu álbum e que de stoner, não tem nada, provando que os Sun Mammuth são muito mais que isso.
Era chegada a vez dos Heavy Cross of Flowers. Esta banda de Paços de Ferreira lançou o seu primeiro álbum no início do ano passado e a qualidade desse trabalho é evidente. Um conjunto de temas que revelam a amplitude da sonoridade desta banda. Stoner, doom, sludge e grunge. Está lá tudo para quem o queira comprovar. Ao contrário da banda anterior, os Heavy Cross of Flowers têm vocais nos seus temas, se bem que não em todos. Apesar de começarem com um tema instrumental que serviu como introdução, logo tocaram “DEAD ON DRUGS” que já tem as vocais bem agressivas, que surgem em muitos dos seus temas. Este quarteto tem dois guitarristas que se entendem muito bem, suportados por um baixista que também auxilia nas vocais e por uma baterista fantástica. Seguiu-se “In Memory Of” que até fez recordar um pouco os Soundgarden, antecedendo a instrumental “MAGMA”, ou como lhe chamou Telmo Cruz, “a música dos batuques”. Depois deste tema e após os habituais agradecimentos, o vocalista fez ainda questão de mencionar o quanto a banda gosta de vir tocar a Lisboa. O álbum estava a ser todo interpretado e assim, seguiu-se “Shell”, um tema forte que não consegue deixar ninguém indiferente quando chega à parte do coro. Estávamos a caminhar a passos rápidos para o final da atuação dos Heavy Cross of Flowers, mas faltava ainda “DOGMA”.
Depois de terem tocado o último tema e de terem vincado esse aspeto, dizendo não terem mais musicas para apresentar, ouviu-se um forte apelo por parte da audiência que pedia “só mais uma”, ao que a banda acedeu, dizendo ir tocar um tema novo, que pouco tinha sido ensaiado, descartando assim a responsabilidade, em jeito de brincadeira, sobre algo que pudesse correr menos bem. Mas nada de estranho sucedeu e o concerto terminou ao som de uma música que deixa antever que o próximo álbum vai ser semelhante ao homónimo álbum de estreia, no que diz respeito a boas composições.
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Daniela Jacome Lima
Agradecimentos: Sabotage Club