Os Garganjua são um trio inglês de sludge/doom progressivo, com ainda uma breve história no mundo da música. Entraram em cena com o EP "Trip Wizard" de 2014 e a sua mistura de stoner progressivo profundamente complexo, está sempre presente desde o seu álbum de estreia em 2016, "A Voyage in Solitude", seguido por "Through the Void" em 2018 e, agora, acabaram de lançar "Toward the Sun". Venham conhecê-los melhor.
M.I. - Olá! Antes de mais, obrigado pelo vosso tempo. Deixem-me dar-vos também os parabéns pelo novo e grande álbum!
Muito obrigado!! Obrigado pelo teu tempo também!
M.I. - São uma banda relativamente recente - lançaram um EP em 2014 e o primeiro álbum em 2016... Para quem não vos conhece, como caraterizam o vosso grupo? Para o nosso público em Portugal, como explicam o vosso som?
Eu acho que, principalmente, somos considerados uma banda doom, mas o som mudou continuamente ao longo do tempo. Então, agora, somos classificados como muitas coisas diferentes. Principalmente, epic doom, melodic doom e post-metal (risos).
M.I. - Como é que a banda se juntou? O que faziam antes de formar os Garganjua?
Todos tocávamos em bandas diferentes, mas fazíamos parte da mesma cena de metal dos últimos 18 anos. O Gaz (baixista) tinha uma carreira diferente na época e, durante algum tempo, não esteve em nenhuma banda, mas, depois, voltou à música. Eu e ele reuníamo-nos quando podíamos, para gravar riffs que acabaram por se transformar no nosso primeiro lançamento, o Trip Wizard. O Ben (bateria) também foi vocalista noutra banda em que estávamos, mas como também é um baterista muito bom, contratámo-lo. Depois de nos divertirmos com o primeiro EP, decidimos que queríamos continuar, mas explorar mais no sentido musical e sabia que, definitivamente, precisávamos de um segundo guitarrista para isso. Um bom amigo nosso, o Gazz, que estava noutra banda local e que tinha acabado de se separar – foi o timing perfeito - convidámo-lo para um jam e o resto é história.
M.I. - O que é Garganjua? Como pensaram nesse nome? Parece algo grande e aterrorizante como Gojira ou Mastodon! Alguma influência daí?...
Queríamos algo que soasse enorme, então sim, na altura tínhamos bandas como Mastodon em mente (risos). Queríamos apenas um nome que acompanhasse a música que queríamos criar, mas a maioria dos bons nomes já eram usados. Adoramos a palavra Gargantuan, mas já havia algumas bandas com esse nome, então trocámos algumas letras (risos).
M.I. - Os vossos álbuns têm sempre poucas faixas - o "Toward the Sun" é o mais longo até agora, com 7 músicas -, mas têm mais de 40 minutos. Algumas das vossas músicas chegam aos 12 minutos. Porque decidiram fazer músicas tão longas em vez das "normais" canções de 4 ou 5 minutos?
Para ser sincero, não houve uma decisão ou um plano para fazer canções dessa forma. É assim que as coisas funcionam para nós. Eu sou um grande fã de deixar as coisas acontecerem organicamente e permitir que o espaço das músicas respire para que elas tenham esse tamanho naturalmente. Mas estamos sempre a mudar coisas subtis nas nossas canções. Para nós, elas nunca são entediantes.
M.I. - Trip Wizard, A Voyage in Solitude, Through the Void e agora, Toward the Sun ... Todos se referem a uma jornada. Os álbuns estão de alguma forma ligados? Existe um conceito por detrás deles?
O EP Trip Wizard nem tanto, mas diria que os outros três álbuns são continuações da mesma jornada. Mas, para nós, a música que criamos é um meio terapêutico. Todos passamos por altos e baixos e vivemos essas experiências através da nossa música. De modo que o conceito se baseia numa luta humana a ser superada e nas escolhas que enfrentas quando as coisas estão contra ti. Afundar ou nadar. Lutar ou fugir. Escale a montanha, em direção ao sol (Toward the Sun).
M.I. - As vossas capas também são conceptuais... Quem pensa nelas?
Todos nos envolvemos nesse tipo de coisas ao longo do caminho, mas o Gaz era o grande motor por detrás disso. Especialmente para o primeiro álbum em que trabalhou com um artista na capa de A Voyage In Solitude. Com Through The Void, o Gaz encontrou uma incrível artista da Irlanda chamada Mairead McGuiness. Correspondi-me com ela e trabalhei na arte de Through The Void, que foi um processo muito porreiro e foi algo que eu nunca tinha feito. O último álbum foi totalmente DIY, trocamos várias ideias e sabíamos o tipo de coisa que queríamos. Então decidi tentar com a ajuda dos rapazes e acho que ficou muito bom.
M.I. - Relativamente ao álbum "Toward the Sun"... O que abordam liricamente?
Musicalmente, tem uma energia completamente diferente e renovada e vem de um lugar totalmente diferente dos nossos álbuns anteriores. Então pensei que era importante combinar a letra com isso. Como seres humanos, passamos por muitas batalhas e uma das maiores batalhas é aquela com as nossas próprias mentes. Passamos tanto tempo a viver no passado, ansiando por objetivos futuros e, na maioria das vezes, não prestamos atenção ao presente. E depois perguntamo-nos porque é que a vida passa tão rapidamente. Toward the Sun, concentra-se mais na força que todos temos dentro de nós para superar os desafios que a vida nos lança e grande parte disso é permanecer presente e ter consciência de que a tua mente se está a desviar.
M.I. - O álbum começa com um monólogo sobre os benefícios de permanecer no momento. É um pouco surpreendente porque o doom metal não tende a caminhar para reflexões positivas …
Isso é verdade. Tentamos usar a música para recolher o nosso pensamento negativo e canalizá-lo para outra coisa. É por isso que digo que a música desta banda foi como uma terapia para todos nós. Para mim, o Toward The Sun não é diferente, mas sinto que é importante lembrar o bem e a força em todos nós e, como já referi, a música tinha uma certa energia e não parecia correto escrever sobre negatividade. Desta vez, também não parece muito "doom" para nós, o que contribuiu para o conceito deste álbum.
M.I. - O que vos influenciou durante a gravação do álbum?
Honestamente, entre todos, ouvimos quase todos os tipos de música. Nos últimos dois anos, acho que já ouvi mais músicas do que antes disso e acho que essa variedade é visível neste disco. Há um pouco de Doom, Black Metal, Post-Rock, Metal e alguns elementos descontraídos também. Achamos importante manter todas as portas abertas musicalmente. A música é sobre progressão. Não somos as mesmas pessoas que éramos há 3 anos, então a música também se desenvolveu. Divertimo-nos muito a desenvolver o nosso som e a tentar coisas novas. O primeiro álbum foi bastante simples, o segundo tinha acústica e violinos envolvidos. Este novo álbum tem alguns dos nossos trabalhos mais melódicos, bem como samples e teclados.
M.I. - O que ouvem hoje em dia? Quais são as melhores bandas por aí?
Esta é difícil. Há tanta música boa por aí. Para citar alguns que gostamos e ouvimos - Black Peaks, Every Time I Die, Conjurer, Dvne, The Moth Gatherer, Svalbard, Rolo Tomassi, Boss Keloid, Lightbearer, Cult Of Luna, Yob e Bossk... Essa lista é interminável para ser sincero, (risos).
M.I. - Têm planos para concertos fora do Reino Unido? Alguma hipótese de vos ver em Portugal?
Temos dois concertos na Europa planeados para este ano. Até agora, Holanda e Bélgica nos dias 3 e 4 de abril. Gostaríamos de fazer mais, mas teremos que ver o que é possível. Fica à vontade para nos informar sobre qualquer promotor português (risos).
M.I. - Últimas palavras para nossos leitores?
Obrigado por reservarem um tempo para conversar connosco / ler esta entrevista. Nunca parem de ouvir música nova, a inspiração está em toda a parte.
Obrigado pela disponibilidade e boa sorte para a vossa carreira.
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Entrevista por Ivan Santos