A música é, sem dúvida alguma, uma besta deveras… sui generis. A música extrema, essa então, é uma besta de maior dimensão ainda. Cada vez mais os músicos procuram desenvolver novas e diferentes abordagens à criação musical, o que leva a que trabalhos como aquele que temos hoje perante nós vejam a luz do dia.
França e Black Metal andam de mão dada desde o fim dos anos 80, em muito devido às sobejamente conhecidas Les Legions Noire. Verdade seja dita, o Black Metal criado então em nada se assemelha a este, dos Amnutseba, mas tal não nos impede de ver/ter a França como um dos países que se mantém na vanguarda do subgénero. Os Amnutseba surgiram em "desconhecido" a partir do desejo de "desconhecidos" fazer música extrema. Até aqui tudo bem… mas de quem falamos?! "desconhecido" oh well, Black Metal e as suas… manobras! Aceito. Sigo.
Com duas demos editadas em 2017 e 2018, 2020 vê a edição do primeiro longa-duração, "Emanatism”. Iron Bonehead Productions, once again! Sem dúvida que a IBP tem, nos últimos anos, dado uma exposição fantástica a imensa música, também ela fantástica. De resto, muito pouco – ou nada – mais pode ser dito acerca da banda, visto não haver por onde lhe pegar… por não haver informação à deriva pela internet. De certo modo aqui reside muito do mistério que alimenta a cena, mas isso dava pano para mangas.
Ao carregar play e deixar o álbum tocar, depressa me vejo remetido para dois nomes – também eles franceses – nos quais estes Amnutseba se encaixam imensamente bem: Blut aus Nord e Deathspell Omega. Esta abordagem maquinal, fabril, encontra-se aqui. E como… há aqui um caos controlado. Tal como nas duas bandas referidas, essa ideia, essa imagem mental proveniente da música, é a de uma realidade maquinal – como referido – em que riffs de guitarra, essencialmente melódicos, se entrosam e crias paisagens sonoras em tons escuros e pesados.
De certo modo, e para lá das bandas supracitadas, estes ainda me remetem para uns Mysticum. Há, sim, menos controlo. Há, sim, mais caos. É tudo efeito do Industrial e fabril, não é propriamente uma linha sonora que tenha próxima, mas consigo apreciar o ambiente que a mesma pretende criar. Há um sufoco, há um aperto no peito… há também Portal. É toda esta quasi-cacofonia – desculpem-me os mais musicalmente abrangentes – que os coloca, de novo na minha opinião, na mesma esfera destes australianos. No fundo, a música destes Amnutseba acaba por ser uma tremenda descarga de riffs e raiva, batidas e agressividade.
Pessoalmente, não faz o click. Aceito que, em alguns momentos, a banda consiga criar esses ambientes sufocantes, mas sinto sim, aqueles que me soam mais orgânicos que maquinais. Esses, os industriais, soam-me descontrolados (“Dislumen”) e impessoais. Não há aquele calor do orgânico. É aqui, nestes momentos, que a bateria se mostra um portento de força. Inegável como a secção rítmica é poderosa e como preenche os espaços que poderiam existir.
As vocalizações, essas, estão soterradas o bastante por debaixo da parede sonora para que soem imensas. Acaba por ser o pormenor que mais me diz. A execução vocal é meio caminho andado para que se crie o ambiente que aqui ouvimos. A variação instrumental é muita parca e, ainda que o álbum não soe todo ao mesmo, não há grandes variações, o que faz com que a fluidez com que o mesmo corre não seja muita.
Em jeito de conclusão: aqueles que apreciam a dupla francesa e o pessoal da terra dos cangurus, vai sentir que chegou a casa. Os demais… deixem estar. Podem, claro, dar a vossa atenção aos Amnutseba na esperança de encontrarem a linha melódica na sua música, mas se não a encontram nos nomes referidos, dificilmente a encontrarão aqui.
Nota: 5/10
Nota: 5/10
Review por Daniel Pinheiro