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Sacred Reich - "Awakening" Review


Os Sacred Reich fazem parte daquela segunda fornada de bandas do thrash metal norte-americano, que entraram em força na cena mas sem nunca chegarem ao nível ou popularidade dos pioneiros. Os primeiros dois álbuns, "Ignorance" e "The American Way", são fortíssimos, mas mostraram uma banda mais seguidora do que influenciadora, que fazia o que se praticava nos períodos dos respetivos lançamentos, sem nunca ter desenvolvido uma identidade muito própria. O que abonou a seu favor foi a sua boa capacidade como intérpretes e compositores naquela altura.

Se há algo que não se pode apontar à banda de Phil Rind e Wiley Arnett, é que estes tenham feito álbuns repetidos. De facto, todos os álbuns dos Sacred Reich soam diferentes, embora nem todos sejam fortes ou consistentes. "Independent", lançado em pleno 93, já não tinha aquele thrash à séria dos primeiros tempos e vinha na linha do que alguns nomes grandes do género andavam a fazer. Já "Heal" (1996) mostrou uma banda permeável às influências groove metal de uns Pantera ou mesmo Machine Head, com uma sonoridade quase irreconhecível relativamente aos primeiros tempos. É pena que a banda não tenha desenvolvido a sua identidade ao invés de ir demasiado atrás de outros nomes, musicalmente falando. No início deste milénio, a banda esteve parada até que regressou ao ativo, embora somente para alguns concertos. Só mais recentemente é que a atividade ao vivo aumentou e, em fevereiro de 2019, o grupo anunciou que se encontrava a trabalhar no primeiro álbum em mais de duas décadas, em 23 anos, para ser mais preciso. "Awakening", editado em agosto do ano passado, foi literalmente um novo acordar para a banda, a nível de registos discográficos, o início de uma segunda vida para os Sacred Reich. Este álbum também marcou o regresso do músico mais famoso da história do grupo, nada mais nada menos do que Dave McClain, o ex-baterista de longa data dos Machine Head, que gravou com os Sacred Reich os supramencionados discos menos consensuais, durante a década negra para o thrash.

Dave McClain, que não tinha feito nada de especial na anterior passagem pela banda, evoluiu bastante como músico, tendo estado presente em alguns dos melhores álbuns da banda de Robb Flynn, e agora, com outra capacidade, veio acrescentar algum brilho ao disco de regresso dos Sacred Reich. Mas o mérito não é todo dele porque a banda, de facto, escreveu aqui boas malhas como fica bem patente ao escutar "Divide & Conquer", com um verso a fazer lembrar os primórdios do thrash mas com produção atual e um refrão orelhudo. Outro dos destaques deste trabalho é "Manifest Reality", que a meio da tracklist nos conquista com 3 minutos de thrash a sério e direto ao assunto. O tema-título também foi bem escolhido para iniciar o álbum e é uma boa representação deste trabalho e do que os Sacred Reich quiseram fazer em 2019, com ótimos riffs, e uma voz que parece um cruzamento de James Hetfield e Joey Belladonna. Mais uma vez os Sacred Reich não copiaram álbuns anteriores e deram-nos um trabalho que é thrash metal, sem dúvida, mas que tem momentos heavy metal, hard rock, ou mesmo punk e rock n' roll, conforme se pode constatar ao ouvir as faixas finais "Revolution" e "Something to Believe". De salientar o bom groove ditado pela bateria e baixo no último tema.

Ainda que não seja desta que se pode pensar nos Sacred Reich como um nome singular no metal, este é um bom regresso, com temas divertidos de se ouvirem e que mostram uma banda com vontade de provar que ainda consegue fazer boa música. Se "Awakening" fica uns furos abaixo dos seus dois melhores álbuns, fica claramente acima dos álbuns de meados dos anos 90. Ouçam e comprovem.

Nota: 8.1/10

Review por Mário Santos Rodrigues