Cinco anos após a sua criação, o festival Xxxapada na Tromba cimentou o evento, na agenda de todos os amantes de death/grind. E se dúvidas houvesse, a sala esgotada do RCA, nos passados dias 17 e 18 de janeiro, dissiparia todas elas. Depois do "sold out" da edição do ano passado, Sérgio Páscoa e Rita Limede viram a dose ser repetida, com uma plateia a falar diversas línguas, unidas pelo desejo de ver traduzido em palco mais um excelente cartaz.
Dia I
Voltando à tradicional fórmula de dividir ambas as noites em duas partes, com pausa para jantar pelo meio, as hostilidades iniciaram-se ao final da tarde de sexta-feira 17 de janeiro, com os Diaroe. O quarteto germânico iniciou da melhor maneira as hostilidades, perante uma sala surpreendentemente bem composta. "Misanthropia", o mais recente single, acabou por ficar mais na retina.
Sem perder o ritmo em cima do palco, o deathgrind dos Diaroe foi substituído pelo death-slam dos MDMA. Com novo disco "Chemical Obliteration" debaixo do braço, o trio de Bilbau teve 30 minutos para mostrar o que valia, com a plateia algo fria ainda mas já uns tímidos mosh pits se formavam em frente ao palco. Imediatamente antes do intervalo para jantar, tempo para ver a atuação dos britânicos Twitch Of The Death Nerve e o seu brutal death metal. O trio está a gravar novo disco "A Resting Place for the Wrathful" e brindou o Xxxapada com alguns temas novos mas foi do disco de estreia “A New Code of Morality” que tivemos a prata da casa de uma boa performance.
Após encherem a barriga, a plateia do RCA esteve de gala para a segunda parte, do primeiro dia do Xxxapada na Tromba. E quem colheu primeiro os frutos foi o colectivo nacional Bleeding Display. Sempre favoritos do público nacional, os comandados por Sérgio Afonso, que apareceu com o corpo coberto de "sangue", não deixaram ninguém indiferente com oito faixas repletas de agressividade e guturais acima da média. Destaque para os convidados especiais Diogo Santana e Tiago Correia, ambos dos Analepsy, e excelente demonstração de poder death metal que para aí vem, com "Killing Spree" e "Hungry Beast". Da Alemanha pela segunda vez estiveram no Xxxapada os Acranius e o regresso ao slam/deathcore. Do EP "The Echo of her Cracking Chest" vieram as melhores faixas da noite, com a plateia a aderir em massa ao breakdown característico dos germânicos. Plateia essa que já quase esgotava a sala e que recebeu os Holocausto Canibal com imensa vontade de se divertir. A estreia da banda de Orca no festival foi brilhante, com temas como "Esquartejada" ou "Magrudergordo" a gerar grandes mosh pits, e uma interessante troca de posições entre Orca e o baterista Diogo Pereira.
Do Reino Unido chegaram os Unfathomable Ruination e o brutal death metal técnico a navegar entre passado e futuro, com “Defy The Architect” em destaque, num alinhamento completamente novo e a estrear muitas das faixas do novíssimo "Enraged and Onbound". Xxxapada na Tromba sem grindcore não pode ser, e os espanhóis Nashgul deram trabalho a quem achava que ia descansar um bocadinho. Para além dos seus próprios temas, a banda de A Corunha brindou-nos ainda com duas excelentes versões, "Electric Funeral" dos Black Sabbath e um "Crucificados pelo Sistema” dos Ratos de Porão a ser gritado a plenos pulmões por um RCA lotado. Da República Checa chegou a banda mais bem recebida pela plateia, neste primeiro dia do festival.
Os Spasm faziam a sua estreia no evento e a mostrar que se pode falar de massacres, profanação de cadáveres e violação de velhinhas esventradas, com um sorriso no rosto. O vocalista Radim entrou em palco vestido apenas com um fato de banho popularizado por Sasha Baron Cohen no filme "Borat" (esse mesmo!!!) e um gigante pénis na testa, e o caos instalou-se na sala. Com temas como "Suck My Dick", "Paedophilic Kinder Party" ou "Masturbation" (com o público a ajudar no refrão), foram 40 minutos que passaram num instante e deixaram muita gente fã do porngrind dos checos.
O final do primeiro dia do Xxxapada ficou a cargo dos nacionais Raw Decimating Brutality, que fecharam com chave de ouro uma sala ainda muito bem composta, pese serem já duas da manhã. Grindcore Death vindo das Serras, com Tiago Correia a ajudar a banda nas peles, com temas como "O Muro Está Mal Pintado" ou "Devaneio do Homem Cabra" a deixarem as últimas forças no recinto.
Dia II
O segundo dia começou logo com uma afluência de público, que demonstra bem o interesse no evento criado pelo Sérgio e a Rita. Muitos espectadires para assistirem ao regresso aos palcos dos Cronaxia, que após uma década de afastamento faziam aqui o seu regresso.
Death metal de qualidade mas sem secção rítmica de carne e osso, com pistas pré-gravadas de baixo e bateria. Os russos ByoNoiseGenerator mostraram como o grindcore pode ser reinventado e explorar novas sonoridades. Pessoalmente, tirando John Zorn, nunca tinha visto alguém aliar saxofone a este tipo de sonoridade, mas a verdade é que resulta na perfeição.
Muitas cabeças voltadas para o palco a assimilarem esta nova maneira de fazer as coisas. Infelizmente, cabeças na plateia foi algo que faltou aos espanhóis Disturbance Project. A hora de jantar e a vontade de não perder pitada do que estava para vir, fez com que muitos decidissem não espreitar o grindcore dos madrilenos, apesar da enorme falange de apoio vinda do país vizinho que se fez sentir.
Death metal de qualidade mas sem secção rítmica de carne e osso, com pistas pré-gravadas de baixo e bateria. Os russos ByoNoiseGenerator mostraram como o grindcore pode ser reinventado e explorar novas sonoridades. Pessoalmente, tirando John Zorn, nunca tinha visto alguém aliar saxofone a este tipo de sonoridade, mas a verdade é que resulta na perfeição.
Muitas cabeças voltadas para o palco a assimilarem esta nova maneira de fazer as coisas. Infelizmente, cabeças na plateia foi algo que faltou aos espanhóis Disturbance Project. A hora de jantar e a vontade de não perder pitada do que estava para vir, fez com que muitos decidissem não espreitar o grindcore dos madrilenos, apesar da enorme falange de apoio vinda do país vizinho que se fez sentir.
Não tínhamos ainda aqui falado das várias bolas de praia, que a espaços se foram vendo no primeiro dia do festival, mas com bandas como Party Cannon e Serrabulho no cartaz, não foi surpresa sermos recebidos após o jantar, por uma boa quantidade delas. O slam dos britânicos Party Cannon fez a festa recomeçar a toda a velocidade.
Os Analepsy eram os senhores que se seguiam, com a tristeza de ser a última atuação com Diogo Santana na guitarra e voz, algo que deixa o futuro da banda ainda por descobrir. Problemas técnicos acabaram por estragar a performance da banda, que se apresentou como power trio. Mesmo assim a plateia apoiou sem parar o death metal excelentemente bem tocado, e foi até possível ver a Rita Limede a fazer alguns saltos do palco para o público. Sala a abarrotar recebeu os Rectal Smegma, uma das mais interessantes bandas de porn gore grind. Os holandeses não desiludiram e arrasaram a plateia com temas como "Finger Bang Orang-utan", "2 Girls 1 Cupcake" o "Cream Bukkake". Excelente dinâmica entre banda e comunicação com a plateia muito divertida, como é apanágio deste género.
Os norte-americanos Malevolent Creation podiam ser considerados os cabeças de cartaz não oficiais do evento, com muita gente na plateia à espera de os ver. As lendas do death metal não decepcionaram, e ver Phil Fasciana no palco do RCA foi tremendo. "The Ten Commandments", o disco de estreia da banda, é sinónimo do que saía da Flórida no início dos anos 90, e acabar a sua participação no Xxxapada com "Multiple Stab Wounds", seguido de "Malevolent Creation", foi simplesmente sublime. Mas pelo meio, ainda tivemos oportunidade de ouvir os temas novos, “Release The Soul” e “Mandatory Butchery”.
Depois dos norte-americanos, e sem o RCA ter perdido público, em números que se notassem, entraram em palco os Cytotoxin, com temática centrada na radiação e seus efeitos. Excelente death metal na sua vertente mais brutal, serviu bem de banda tampão entre Malevolent Creation e a festa dos Serrabulho.
Presente em todas as edições do evento, os nortenhos são sempre garante de movimento, festa, maluqueira, invasão de palco, comboio na plateia, mosh com gente vestida de pijama, etc etc etc. Obviamente que nada disso faltou, nem mesmo a habitual intro de Carlos Guerra em relação às bandas cabeça de cartaz, com o "We are the real Malevolent Creation" a mostrar exatamente isso. Mas se tudo o que descrevemos acima já é habitual, desta feita fomos surpreendidos por um dueto surpresa, com “Sweet Grind ‘O Mine” a contar com a participação vocal de António Freitas (sim, esse mesmo!!!). Memorável!!! Podia ter acabado ali mesmo o Xxxapada na Tromba versão 2020, com Sérgio Páscoa de tronco nú, em palco, com um sorriso de orelha a orelha. Podia e se calhar devia, porque acabou por ser penoso ver a atuação dos Kadaverficker, visivelmente deturpada pela presença de algum álcool a mais nos elementos da banda, e a plateia com elementos a menos, mal Serrabulho terminou a sua prestação. Fim de festa e mais uma aposta ganha pelo Sérgio e Rita num festival que cada vez ganha mais espaço (e se calhar precisa de mais espaço para o número de interessados??). Em 2021 voltamos a encontrar-nos, desta feita a 22 e 23! Grind is love!!!
Os Analepsy eram os senhores que se seguiam, com a tristeza de ser a última atuação com Diogo Santana na guitarra e voz, algo que deixa o futuro da banda ainda por descobrir. Problemas técnicos acabaram por estragar a performance da banda, que se apresentou como power trio. Mesmo assim a plateia apoiou sem parar o death metal excelentemente bem tocado, e foi até possível ver a Rita Limede a fazer alguns saltos do palco para o público. Sala a abarrotar recebeu os Rectal Smegma, uma das mais interessantes bandas de porn gore grind. Os holandeses não desiludiram e arrasaram a plateia com temas como "Finger Bang Orang-utan", "2 Girls 1 Cupcake" o "Cream Bukkake". Excelente dinâmica entre banda e comunicação com a plateia muito divertida, como é apanágio deste género.
Os norte-americanos Malevolent Creation podiam ser considerados os cabeças de cartaz não oficiais do evento, com muita gente na plateia à espera de os ver. As lendas do death metal não decepcionaram, e ver Phil Fasciana no palco do RCA foi tremendo. "The Ten Commandments", o disco de estreia da banda, é sinónimo do que saía da Flórida no início dos anos 90, e acabar a sua participação no Xxxapada com "Multiple Stab Wounds", seguido de "Malevolent Creation", foi simplesmente sublime. Mas pelo meio, ainda tivemos oportunidade de ouvir os temas novos, “Release The Soul” e “Mandatory Butchery”.
Depois dos norte-americanos, e sem o RCA ter perdido público, em números que se notassem, entraram em palco os Cytotoxin, com temática centrada na radiação e seus efeitos. Excelente death metal na sua vertente mais brutal, serviu bem de banda tampão entre Malevolent Creation e a festa dos Serrabulho.
Presente em todas as edições do evento, os nortenhos são sempre garante de movimento, festa, maluqueira, invasão de palco, comboio na plateia, mosh com gente vestida de pijama, etc etc etc. Obviamente que nada disso faltou, nem mesmo a habitual intro de Carlos Guerra em relação às bandas cabeça de cartaz, com o "We are the real Malevolent Creation" a mostrar exatamente isso. Mas se tudo o que descrevemos acima já é habitual, desta feita fomos surpreendidos por um dueto surpresa, com “Sweet Grind ‘O Mine” a contar com a participação vocal de António Freitas (sim, esse mesmo!!!). Memorável!!! Podia ter acabado ali mesmo o Xxxapada na Tromba versão 2020, com Sérgio Páscoa de tronco nú, em palco, com um sorriso de orelha a orelha. Podia e se calhar devia, porque acabou por ser penoso ver a atuação dos Kadaverficker, visivelmente deturpada pela presença de algum álcool a mais nos elementos da banda, e a plateia com elementos a menos, mal Serrabulho terminou a sua prestação. Fim de festa e mais uma aposta ganha pelo Sérgio e Rita num festival que cada vez ganha mais espaço (e se calhar precisa de mais espaço para o número de interessados??). Em 2021 voltamos a encontrar-nos, desta feita a 22 e 23! Grind is love!!!
Texto por Vasco Rodrigues
Fotografia por Joana Leonardo e Sabena Costa
Agradecimentos: Xxxapada Na Tromba