Mais uma noite para mais tarde recordar, daquelas que o Sabotage Club gosta de nos proporcionar. Desta vez os contemplados foram os apreciadores de stoner/doom metal. Duas bandas nacionais, ambas com álbuns “fresquinhos” para dar a conhecer a um publico que quase encheu aquele mítico espaço. Primeiro os Vircator, banda que já está habituada a estas andanças, em segundo um projeto mais recente, os Stones of Babylon. Em comum tinham, para além da sua sonoridade característica, o facto de ambas prescindirem de vocais. Pois é assim mesmo, foram duas atuações completamente instrumentais.
A primeira banda a subir ao palco foram precisamente os Vircator. Esta banda formada em 2012 lançou recentemente o seu terceiro álbum, “Arcano” e veio a Lisboa apresentá-lo. O seu concerto, como referimos, focava-se no seu último trabalho e foi o que este quarteto fez na integra. Embora não respeitando a ordem em que os temas estão distribuídos no álbum, todos eles foram tocados, não ficando nenhum de fora. Esta banda de Viana do Castelo não deixou certamente ninguém desanimado com a sua atuação. O seu rock stoner tem uma forte componente psicadélica, progressiva e também experimental, dentro daquilo que este estilo musical permite. Durante a sua atuação de quarenta e cinco minutos tiveram a audiência presa a cada acorde, a cada tema.
Este era um dia de festa e o facto de os Vircator tocarem em primeiro lugar nada queria dizer. Em situações normais seria o inverso, mas os Stones of Babylon tocavam em casa e os Vircator tinham pela frente uma viagem cansativa para norte de Portugal. Concluída a apresentação do álbum “Arcano”, houve tempo ainda para mais dois temas retirados dos seus anteriores trabalhos: “At the Voids Edge” e “Sar-I-Sang”. Quando o concerto parecia estar concluído o público pediu mais, ao que a banda acedeu, tocando ainda mais um tema para contentamento de todos os presentes.
Seguiram-se os Stones of Babylon que subiram ao palco quando faltavam vinte minutos para a uma da manhã. Estes concertos não são para fracos, destinam-se aos resistentes e verdadeiros apreciadores de stoner, que são muitos, a avaliar pela quantidade de público presente na sala. “Hanging Garden”, o álbum de estreia deste trio foi também todo ele tocado. Cinco temas, na sua maioria longos, que foram interpretados com uma qualidade tão elevada que se fechássemos os olhos e ignorássemos o ruido de fundo, poderíamos julgar estar a ouvir o CD no conforto do nosso lar.
Com apenas três elementos na sua formação, os lisboetas Stones of Babylon são uma banda que pratica um som a roçar a perfeição nas suas atuações ao vivo. Se já tinham captado a atenção do público em geral com o seu EP de 2018 “In Portuguese We Say Padrada”, nos finais de 2019 decidiram deixar Jorge Jesus sossegado e presentearam-nos com “Hanging Gardens”, editado pela Raging Planet. Com uma recente alteração na sua formação, as suas composições neste trabalho estão mais sóbrias, continuando ainda a explorar todos os caminhos possíveis dentro deste género musical.
Após terem terminado a interpretação de todos os temas que compõe “Hanging Gardens”, o baterista Branco pegou no microfone e após fazer os agradecimentos da praxe aos Vircator, ao Sabotage Club pelo convite e também ao público presente pelo apoio, decidiu lembrar Pawel, guitarrista e membro fundador da banda, que por motivos pessoais teve de abandonar este projeto.
Estava na hora de visitar o EP de estreia para tocarem “Zubr”, tema com que tencionavam finalizar a sua atuação. Apesar de serem sensivelmente 01h45, ainda havia quem quisesse mais, tendo por isso os Stones of Babylon voltado a pegar nos seus instrumentos para tocarem “Anunnaki”, terminando o seu concerto de seguida sob fortes aplausos.
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Sabena Costa
Agradecimentos: Sabotage Club