A Rússia é, sem dúvida, um caso intrigante. Tem todas as características para ser um país com uma grande cultura metal: uma vasta cultura pagã, uma grande mistura de povos, um clima frio e sombrio e um forte ensino musical. Este último aspeto, segundo um artigo que li, fomenta o nascimento e proliferação do género, dada a exigência do mesmo.
Contudo, anos de imperialismo, seguidos de muitos anos de comunismo, resultaram num desenvolvimento do género muito aquém das expetativas, especialmente quando comparado com o da sua vizinha, Finlândia.
No entanto, com a queda do Bloco de Leste e entrada da cultura Ocidental na Rússia, o metal tem vindo a crescer no país tártaro e, entre alguns dos produtos mais interessantes do país do caviar, encontram-se os Pagan Reign, que constam já no seu currículo com álbuns como “Tverd”. A banda decidiu fechar 2019 em beleza com o lançamento do seu sétimo álbum, “Art of the Time”, que conta com misturas de música folclore russa com black metal, já conhecidas da banda.
O álbum começa com a música “In Gods We Trust”, com um som saído da era medieval, que imediatamente passa a ser reproduzido por uma guitarra elétrica, sendo seguida por um belo trabalho melódico de Vetrodar (guitarrista), que torna a música numa espécie de ode ou hino ao metal. A instrumentação folclore russa segue-se após o break e acompanha grande parte da música: constante neste álbum, felizmente. Por exemplo, os solos de Domra (guitarra tradicional russa) nesta e nas próximas 2 músicas são algo digno de se aplaudir, pois nem imaginava ser possível tocar um instrumento parecido com uma guitarra portuguesa daquela maneira.
Ao contrário da “In Gods We Trust”, que tem um tom muito mais épico, a música seguinte, “Art of The Time”, tem um tom muito mais desesperado e sombrio, dado o tema da música ser a construção de um legado por parte de um artista antes de morrer, de maneira a não ser esquecido. São vários os elementos que tornam esta música muito mais sombria que a anterior: a flauta inicial, o ritmo mais lento e pesado das guitarras e, acima de tudo, o coro de vozes no refrão, que traz ainda mais um som familiar das terras tártaras.
O álbum continua a todo o vapor, com aquela que, a meu ver, é a melhor música do álbum, “Cult of Blizzard and Fire”. O início parece saído do filme “O Padrinho”, entrando num ritmo frenético, sempre acompanhado de Domra que, por incrível que pareça, não se deixa intimidar pela guitarra. Para além da Domra, contamos com Zhaleika (instrumento de sopro tradicional russo) num mini solo que torna a música bem mais rica.
Apesar de toda esta interação entre metal e sons tradicionais russos, o álbum também tem a sua quota parte de músicas com uma abordagem bem mais direta, como “Rising Hearts” e “Path to the North”, mas enquanto a primeira é uma música bastante forte e, sem dúvida, um possível single, a segunda fica um pouco abaixo das expetativas, especialmente quando comparada com as restantes músicas do álbum.
Adicionalmente, embora a segunda metade do álbum não seja, nem de perto nem de longe, tão boa como a primeira, o álbum flui bastante bem, e contamos com a “Eternal Saga of Glory”, que alui aos soldados soviéticos a caminho dos palcos da Segunda Guerra Mundial.
Quando damos por nós, toda esta experiência Oriental desaparece tão rapidamente como apareceu, deixando a lenda para trás de que a Rússia não consegue produzir bom metal.
Tenho que admitir, black metal não é propriamente a minha praia, por isso, esta review foi o meu maior desafio até agora. Tentei, contudo, ser o mais objetivo possível, e devo admitir que a parte folk do álbum tornou-o muito mais interessante para mim, e sem dúvida que os Pagan Reign têm aqui um menino de ouro.
Principais músicas: “In Gods We Trust”, “Art of the Time”, “Cult of Blizzard and Fire” e “Rising Hearts”.
Nota: 7.6/10
Nota: 7.6/10
Review por João Drummond