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Entrevista aos Mefisto


O metal underground na Suécia produziu muitos grandes nomes durante os anos 80 e, nos anos 90, o país tornou-se num dos mais produtivos do género death metal. Uma dessas bandas mais extremas foi Mefisto, que ganhou bastante repercussão na cena underground, através de duas demos lançadas em 1986, fortemente influenciadas por nomes como Bathory, Kreator ou Metallica. Mas a banda nunca descolou e deixou de existir. Pelo menos, até a Sweden Rock Magazine escrever um grande artigo sobre o grupo, que fez com que os Mefisto renascessem em 2014. Dois anos depois, lançaram o seu primeiro longa-duração (2.0.1.6: This Is The End Of It All…The Beginning Of Everything…) seguido por Mefisto, em 2017. Agora, temos o "Octagram", o mais novo álbum da banda. O baterista Robban “Thord” Granath, gentilmente respondeu a algumas das nossas questões.

M.I. - Antes de mais, obrigado pelo tempo para responder às nossas perguntas. Os vossos primeiros lançamentos foram algumas demos em 1986… Depois, a banda separou-se durante 28 anos e "renasceram" em 2014. Podemos dizer que os Mefisto têm mais de 30 anos de existência? 

Bem, para ser honesto, não. Eu não tinha planos para unir a banda. Não tinha qualquer contacto com o Omar e ele mudara-se para os EUA. Eu e o Sandro conversámos algumas vezes por telefone, mas foi só isso. Mas, de alguma forma, isso aconteceu. Eu acho que foi por causa da maior revista de música da Suécia, a Sweden Rock, que fez 10 páginas sobre nós. E alguns anos antes, eu tinha voltado a tocar bateria... Uma coisa leva a outra e entrei em contacto com o Omar, com a ajuda da Sweden Rock. E decidimos: “Que diabo! Vamos fazer o álbum que nunca fizemos…”


M.I. - O que aconteceu depois dessas demos? O que vos impediu de continuar a tocar? 

Eu perdi o interesse. Lembra-te de que éramos muito jovens. Havia muito mais para explorar do que ficar numa sala de ensaio.


M.I. - Naquela época, vocês alcançaram um reconhecimento na cena underground e ganharam um estatuto de culto. Onde pensam que poderiam estar hoje se tivessem o mesmo apoio que outras bandas tiveram? Podiam estar ao lado de Bathory, Morbid, Candlemass ou Meshuggah? 

Eu posso parecer arrogante… Mas acho que, se tivéssemos o mesmo tipo apoio e se nos déssemos bem entre nós, seríamos maiores do que essas bandas.


M.I. - Olhando para trás, o que farias para impedir esse intervalo de quase 30 anos? 

Eu acho que foi a vida que se meteu no meio. Fiz uma carreira, comecei uma família e assim por diante. Eu sempre ouvi metal e outros tipos de músicas, mas não tinha nenhum interesse em tocar.


M.I. - Entre as demos dos anos 80 e o primeiro longa-duração em 2016, o que andaste a fazer? A tocar noutros projetos? 

Comecei a tocar bateria novamente em 2010 com um colega de trabalho (Morgan). Provavelmente, foi alguma crise de meia-idade ou algo parecido... Mas foi divertido. E a atenção dos media sociais e de algumas revistas deixou-me louco... “Que diabo... Vamos fazer isso!”. Mas o álbum 2.0.1.6 não era realmente um álbum de Mefisto, da forma que tinha planeado. Era o álbum do Omar. Ele escreveu tudo nesse álbum. Mas como ele voltou para a Suécia, senti-me obrigado a cumprir a missão. Não é um álbum mau. Tem ótimas músicas de metal. Mas, definitivamente, não é Mefisto.


M.I. - O que te fez ressuscitar Mefisto? 

Quando voltei a entrar em contacto com o Omar e o Sandro, senti que poderíamos fazer isso. Mas, para ser sincero, passado pouco tempo chateei-me com os dois e comecei a lembrar-me porque decidi separar a banda.


M.I. - O vosso primeiro concerto como Mefisto, não foi há muito tempo - 2015, em Montreal. Como é que isso aconteceu? Estavas nervoso? Como se prepararam para isso? 

A razão pela qual fizemos o nosso primeiro concerto em Montreal foi porque me recusei a tocar na Suécia. Teria ficado muito nervoso. Mas estar no estrangeiro fez-me sentir seguro. Foram como umas férias curtas. Foi divertido, mas o concerto não foi muito bom. Nós não tivemos tempo para ensaiar juntos... O Omar não se lembrava das letras, a minha execução na bateria foi má, etc.


M.I. - Sobre o vosso novo álbum (Octagram)… Que tipo de feedback têm recebido (media, fãs ...)? 

Muito bom. A maioria dos media / fãs realmente gostaram. Descrevem-no como muito honesto. Não é death metal, nem black, nem trash, nem doom… É uma mistura de tudo. 


M.I. - Sobre o que é o Octagram? O que abordam liricamente? 

É um álbum conceptual. As letras começam com O (Octagram), C (Circulus Est Clasus), T (The cult of death), A (Armageddon) G (Grand Demons At War), R (Roots Ov Thy Soul), A (Alpha and Omega), M (Megalomania). A música é muito sombria. A letra é ainda mais sombria. É sobre o mal e as trevas. E a letra segue um conceito. Muito influenciado por letras de death metal da velha guarda, mas com um pensamento mais profundo. Até as podemos ler tal como um poema.


M.I. - Li que sentiste que o vosso primeiro álbum ("2.0.1.6: This Is The End Of It All…The Begining Of Everything…") não era um verdadeiro álbum de Mefisto. O vosso segundo álbum (Mefisto) já estava mais ligado às vossas raízes... Qual é a posição do "Octagram"? É um sucessor natural de Mefisto? Ou algo mais? 

2.0.1.6 foi um álbum do Omar. Eu apenas toquei bateria e co-escrevi a maioria das letras. O álbum Mefisto (2º) escrevi-o com meu amigo Morgan. Esse álbum foi o que eu queria que o nosso primeiro álbum tivesse soado. Maléfico e sombrio, mas muito musical, de uma forma não muito simples e directa. Como ouvinte, precisas ter a mente aberta e gostar de diferentes tipos de metal. Mas a escuridão está lá... E, mais importante, eu decidi fazer todos os vocais, em vez de trazer um novo vocalista para a banda.


M.I. - De "2.0.1.6." para "Octagram", o que mudou na banda? Quais são as diferenças entre os 3 álbuns? 

Mefisto e "Octagram" são aquilo que eu quero que sejamos, em termos de som. Eu adoro música sombria. Não é preciso tocar super rápido, deve é ser pesado. Eu nunca toquei batidas rápidas nos anos 80 e nem sei como as tocar. A minha grande inspiração foram, e são, os primeiros anos de Celitc, Slayer, entre outros.


M.I. - A última música do" Octagram" é "Megalomania" ...  É o mesmo nome que a vossa primeira demo de 1986 ... Qual é a ligação? 

É um flirt com a demo. E o tema "Megalomania" é como eu defino a nossa música. O melhor de todos os géneros numa mistura.


M.I. - De onde tiras as ideias e influências para tua música? 

Tenho as minhas bandas favoritas, é claro. Não ouço muita música nova. Acho que sou um velho chato. Quando oiço metal, ainda é o mesmo dos anos 80. NWOBHM ou death metal da velha guarda, como Celtic Frost, Bathory, Slayer e bandas alemãs. Posso arranjar problemas em dizer isto, mas sou um grande fã de Alice In Chains. Eles realmente capturam a escuridão nas suas músicas. E acho que podes ouvir alguns apontamentos da música deles no nosso último álbum. Muitas mudanças de tempo e assim…


M.I. - Vocês têm um novo elemento na banda... Porque sentiram a necessidade de um novo instrumento (guitarra) e o que é que o Chaq Mol trouxe ao vosso som? 

O Chaq Mol acabou por ser um grande fã da banda e realmente gostou do álbum "Mefisto". Estávamos ligados através do nosso agente Roger. Ele é uma pessoa amável e a nossa relação era boa. Então ele foi convidado a fazer alguns solos no "Octagram" ("Armagedom" e "Roots Ov Thy Soul"). O Morgan é um ótimo compositor e, com o Chaq Mol inspirado ao estilo Yngwee Malmsteen, serviu à banda como uma luva. Então pedi-lhe que se juntasse à banda e ele disse que sim, é uma honra. Damo-nos muito bem. Ninguém na banda, eu, o Morgan ou o Chaq Mol tem um grande ego. E isso é super importante se queres estar numa banda.


M.I. - Quais são os vossos planos para uma digressão em 2020? 

Nenhuns. Não somos uma banda de digressões. Provavelmente, vamos só tocar meia dúzia de concertos, no máximo, se tivermos alguma oferta de um festival underground porreiro. Não se trata de dinheiro. É sobre paixão. Não há dinheiro envolvido na nossa decisão.


M.I. - O que é que ouves hoje em dia? Quem são os melhores, neste momento, no metal mais extremo? 

Como disse antes... Infelizmente, não ouço muitas bandas novas. Mas acho que o Old Star, dos Darkthrone é um bom álbum que saiu no início deste ano. E ouço Triptykon. Gosto muito desse projeto. Super pesado e sombrio.


M.I. - O metal sueco teve o seu expoente no final dos anos 80 e início dos anos 90. E, durante anos, foi o metrónomo para o vosso estilo de música. Quando pensamos em metal extremo, apenas a Suécia vinha à mente. Agora, o maior nome do metal escandinavo é Ghost, com os refrões pop cativantes e vocais suaves (não me interpretes mal! Eu gosto de Ghost e está sempre na minha playlist!). Bandas como Ghost podem trazer novos fãs ao metal escandinavo ou que os ouvem e Mefisto, por exemplo, são dois tipos diferentes de pessoas? Ouves Ghost? 

Sim, adoro Ghost. Eles são realmente bons. O Tobias Forge sabe escrever um bom “gancho”. Ouve os refrões deles... São ótimos! É como ABBA, mas pesado e sombrio. Acho que o peso da música não é o quão forte e rápido podes tocar, é a estrutura das músicas. Penso que Alice in Chains, por exemplo, são muito mais pesados do que a maioria das bandas de death / black metal. Acho que “invejosos sempre irão odiar”, sabes… Por isso, é claro que  Ghost é super importante e é a maior banda sueca do momento. De resto, gosto dos primeiros anos de Entombed, com aquele som tipo “serra eléctrica”. 


M.I. - E bandas de metal portuguesas? Conheces alguma? 

Ouvi Monspell no outro dia. Gosto deles. E adoro Portugal. Passo lá muito tempo. Eu e minha namorada (ela é portuguesa) temos um apartamento na Costa de Caparica, nos arredores de Lisboa. Eu adoraria levar Mefisto a Portugal, se formos convidados…


M.I. - Muito obrigado pelo teu tempo. Algumas últimas palavras para os fãs portugueses e para aqueles que gostariam de saber mais sobre Mefisto? 

Se temos fãs em Portugal, adoraria conhecê-los. O meu amigo LG Petrov, de Entombeb AD, foi aí recentemente e fizeram uma pequena atuação. E sobre Mefisto… Nós não somos de fácil audição. Somos influenciados por muitos géneros, mas ainda queremos fazê-lo à moda antiga. Espero que isso possa ser percebido na nossa música. Felicidades! Eu amo Portugal!!!

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Entrevista por Ivan Santos