O mais recente álbum dos Die Krupps começa com a voz de Jürgen Engler, no tema-título, acompanhada de uma parede de instrumentação variada que os aproxima dos Rammstein. A temática apocalíptica das letras irá ser um tema recorrente ao longo do disco, algo evidente na capa do disco e nas fotos de promoção em que os membros da banda aparecem com óculos que reflectem um mundo em decadência e destruição (a bateria de Paul Keller é o espelho musical deste cenário), assim como nos singles com direito a vídeo “Vision 20 Vision 20” e “Welcome to the Blackout”.
O alarme que soa em “Trigger Warning” e se mantém ao longo do tema pode ser cansativo de ouvir, mas ao entrar ao verso a voz sussurrada de Jürgen, apenas acompanhada pela bateria e sintetizadores, relembramo-nos da voz de Peter Tätgren dos Pain, negra e tentadora em “Zombie Slam” e os ouvidos relaxam, ainda que temporariamente. “Destination Doomsday” continua esta intensidade, com o som dos sintetizadores a lembrar “Nazis auf Speed” de 2013.
Com efeito, a agressividade dos Die Krupps neste registo aproxima-os dos compatriotas KMFDM e Rammstein, mas com menos ênfase na electrónica dos primeiros e sem o humor dos últimos, pelo menos à primeira audição. Em “Fires”, nos momentos finais os sintetizadores de Ralf Dörper e Jürgen Engler relembram as orquestrações de Lyle Livingston dos americanos Dragonlord. De seguida, entra o único tema cantado em alemão “Die Obacht”, a língua materna da banda mas rara neste lançamento, relembrando a voz grave e rasgada de Till Lindemann em “Du Riechst Zu Gut” de 1995.
A vertente política das letras é evidente em “Fuck You” e “Allies”, com as guitarras de Marcel Zürcher e Nils Finksein a marcharem e manterem o controlo, ao mesmo que os samples e sintetizadores que acompanham o vocalista parecem ameaçar um desmoronamento. Ora, este aspecto político das letras é uma espécie de fio condutor de todo o disco, assim como a sonoridade pesada e invocadora de um apocalipse, por exemplo, a sonoridade quase doom do tema final, “Human” (que relembra Sisters of Mercy).
Trata-se pois de um disco de metal industrial por uma das suas bandas pioneiras e que faz lembrar as várias bandas do género, desde os já referidos KMFDM a Filter (passando por Pain e Sköld, entre outros), ao mesmo tempo que presta homenagem a bandas do rock progressivo, mais precisamente a versão de “Carpet Crawlers” dos Genesis. O que é revitalizante neste lançamento são os pormenores que cada tema possui que o fazem sobressair dos demais do género: os sintetizadores que acentuam a letra entoada no refrão de “Wolfen”, ou a voz se assemelhar à de Jonathan Davis dos Korn em “Extinction Time” e a já referida versão dos Genesis. Em conclusão, Vision 20 Vision 20 é um disco de metal industrial consistente, e não demasiado longo, o que dá tempo ao ouvinte para respirar antes de voltar a ouvir e apreciar os detalhes.
Nota: 8/10
Nota: 8/10
Review por Raúl Avelar