É embaraçoso admitir que só muito recentemente, no River Stone Fest, conheci os Apotheus. Não achei a atitude, confiança e profissionalismo que demonstraram, características normais para uma banda recém-formada, como achava que eram quando os vi subir ao palco e dividi-lo com outros projetos estabelecidos como Omnium Gatherum e Rise to Fall. Este coletivo tem 11 anos de existência, formado em 2008, e é oriundo de Paços de Ferreira, no Porto. Para classificar a sua sonoridade, os termos death melódico, power metal e metal progressivo serão talvez os mais apropriados, mas, dentro de tudo o que é mais uma vez, metal, não parecem existir limitações estilísticas a talhar o processo criativo do coletivo.
A chegada tardia ao universo Apotheus obrigou também ao retrocesso na sua discografia e a escutar “When Hope and Despair Collide” de 2013, que, por sua vez me chutou mais uns 15 anos para o passado com a energia e selvajaria, reminiscentes de primeiros trabalhos de Children of Bodom e Kalmah, mas com um twist thrashy e progressivo.
6 anos separam “When Hope and Despair Collide” deste novo “The Far Star” e evolução é o termo mais óbvio para distinguir ambos os trabalhos. A composição de “The Far Star” é mais focada, as canções são mais memoráveis e facilmente distinguíveis, o conceito profundo e interessante exibe a sua trajetória mais madura, a produção é moderna e “gorda” (mas, ainda assim, não faz justiça ao álbum) e a nível de interpretação a banda progrediu uns quantos níveis – especialmente no departamento da percussão, cujos melhoramentos são inquestionáveis, mesmo para quem nunca pegou num instrumento.
“The Far Star” explora um conceito baseado na obra do escritor e professor de bioquímica Isaac Asimov acerca de algo como a colisão de dois mundos e como tal fenómeno dará origem a uma nova missão e a nova esperança. Optei não me focar demasiado neste aspeto do álbum e deixar que cada um o explore por si. A banda mergulhou nesta temática sem medo e embrenhou-se na descrição musical de cada passo usando todos os instrumentos disponíveis, pequenos interlúdios, coros cantados, samples futuristas, etc. Conseguem efetivamente guiar-nos pela aventura que se propuseram a usar como conceito e fazem-no sem descurar a personalidade de cada canção.
É ingrato quando o único ponto negativo do trabalho é a produção. É um problema demasiado flagrante em todo o trabalho – é frustrante. Quem se lembra de colocar a guitarra a dez quilómetros dos restantes instrumentos e sons que se ouvem? É como se a guitarra tivesse sido gravada há 10 anos e tudo o resto tivesse sido atualizado. Do princípio ao fim do álbum dei por mim a imaginar como aqueles leads melódicos, se bem colocados na mistura, soariam e o impacto que causariam. Nalguns casos, só os ouvintes dedicados, irão ter o prazer de perceber este álbum e tudo o que ele transporta, por causa da produção, o que é imperdoável.
Em jeito de conclusão, este álbum seria provavelmente um 9 em 10 não fosse a produção. Aliás, já os Omnium Gatherum sofreram do mesmo mal com o seu último “The Burning Cold”, que poderia atirá-los para a verdadeira linha da frente do death/power metal melódico - se calhar é uma tara das bandas que se movimentam neste espectro. Pois bem, apesar da produção, comprem este trabalho, coloquem uns (muito bons) auscultadores, abram o livrete e embarquem na viagem, duas ou três vezes, e nunca mais regressarão.
Nota: 7.9/10
Nota: 7.9/10
Review por David Sá e Silva