About Me

Une Misére - "Sermon" Review


O disco de estreia dos Une Misére, abre com um riff pesado de estilo doom, passando para uma sonoridade mais thrash, com a voz de Jón Már Ásbjörnsson a lembrar a de Jens Kindman, dos Meshuggah, no Ep I. Desta forma, o disco não faz prisioneiros, preparando o ouvinte para o que se seguirá nos temas seguintes.

Os membros desta nova banda vêm da cena hardcore, mas a mistura de sonoridades coloca-os num patamar diferente, aproximando-os do metal e da música alternativa, um pouco como os Code Orange fazem desde "I Am King", algo que se nota logo com o riff desolador que abre o tema, “Sermon”. A bateria de Benjamín Bent Árnason relembra por vezes Chris Addler (ex-Lamb of God), especialmente nos momentos em que segue as guitarras.

Em “Overlooked/Disregarded”, o experimentalismo dos guitarristas Fannar Már Oddsson e Gunnar Ingi Jones mantém-se, algo que ajuda a destacar os Une Misére como uma banda mais longe do som hardcore/crossover tradicional e a torná-los mais únicos. Com efeito, ao longo dos temas seguintes, a alternância entre dinâmicas dentro dos temas e a utilização de duas vozes, a par da já referida tendência para o experimentalismo ao nível da sonoridade das guitarras, faz com que "Sermon" seja um disco interessante do princípio ao fim, sem correr o risco de desgastar o ouvinte que não esteja familiarizado com este tipo de sonoridade (um pouco como os Today is the day conseguem em "In the Eyes of God").

A secção rítmica ajuda a manter o som coeso à medida sempre que surgem momentos mais experimentais, atente-se no breakdown de "Beaten", na violência controlada de “Damages” (o tema mais death metal do disco, as guitarras lembram Decapitated), ou o interlúdio instrumental atmosférico, “Offering”. O tema que encerra o disco, “Voiceless”, funciona como um resumo sonoro de tudo o que ouvimos em "Sermon", desde o peso da voz, acompanhada pela banda como uma secção rítmica de duas guitarras, baixo e voz, aos sons que vão sendo criados à medida que o tema caminha para o verso final (altura em que o baixo de Þorsteinn Gunnar Friðriksson é mais audível).

Na verdade, os Une Misére acabam por soar não como outra banda, mas como um grupo com uma identidade própria, o que é de louvar para um álbum de estreia (por exemplo, a voz limpa que surge inesperadamente em “Fallen Eyes”, ou o sample de bateria no início de “Beaten”). O factor surpresa presente nas dinâmicas dos temas faz com que esta banda consiga manter o ouvinte atento ao longo disco, sem saber o que esperar, e levando a que se queira ouvir o álbum repetidas vezes.

Nota: 8/10

Review por Raúl Avelar