Ser um “metalhead” nos anos 80 e 90, foi um autêntico luxo. Os anos 80 trouxeram-nos a New Wave of British Heavy Metal, influenciando todo um movimento na Bay Area em São Francisco, e o aparecimento também de algumas bandas germânicas no espectro do heavy e power metal.
As grandes bandas que temos hoje, estavam nesta altura a formar-se e a consolidar-se, num período em que descobrir nova música não estava ao alcance de um click como hoje em dia.
Eram anos em que a descoberta era feita através de programas de autor nas rádios, de fanzines, através de tape trading, ou simplesmente numa ida à Bimotor nos Restauradores, para descobrir mais um disco para a coleção, escolhidos através das suas capas que nos transportavam para universos paralelos, ou pela simples recomendação de um amigo ou de uma review.
Os Grim Reaper, não sendo um nome incontornável da cena britânica da época, viveram um período de sucesso entre 1983 e 1987, lançando 3 álbuns que são ainda hoje objeto de culto e procura, trazendo até aos dias de hoje alguns clássicos como “Rock You to Hell” ou “See You in Hell”.
Steve Grimmett, frontman da banda e dono de uma poderosa voz/grito, manteve-se activo ao longo de todos estes anos, com uma curta e pouco consensual passagem pelos Onslaught – "In Search Of Sanity" é um disco de que gosto muito e que tem um lugar especial na minha coleção de vinil, combinando o som thrash da banda com os vocais melódicos de Steve – mantendo depois vários projectos e bandas desde os Lionsheart, à Steve Grimmett Band ou aos GrimmStine.
Depois de se terem juntado para vários concertos reunião em meados da primeira década deste século, 2016 viu uma nova encarnação da banda, denominada como Steve Grimmett’s Grim Reaper, voltar aos discos de originais, lançando há semanas um novo álbum de originais de seu nome “At The Gates”.
“At the Gates”, é um disco declaradamente marcado pelos acontecimentos que Steve viveu nos últimos 3 anos, em que, não só perdeu uma perna por amputação na sequência de uma infecção enquanto estava em tournée em 2017 no Equador, lutando contra a depressão desde então, bem como a mais recente morte do seu irmão há cerca de um ano.
Em termos de letras, este é um álbum um pouco obscuro, abordando desde temas como a morte, à maldade do ser humano. O tema título, começa precisamente por abordar a experiência de quase morte que Steve viveu, estando “At The Gates” (of Hell), tema que volta a abordar no tema “Knock at the Door”.
Em “Venom”, uma das minhas faixas preferidas com uma grande entrada de guitarras e um refrão muito catchy, aborda de uma forma genérica a maldade das pessoas e até o fantasma dos problemas mentais, estando “What Lies Beneath” na mesma linha, com muita melodia de guitarras, mas um pouco mais obscura musical e liricamente.
Este é um disco homogéneo, um pouco mais forte na 1ª metade, que marca de certa forma um retornar às raízes da banda e do género, bem mais pesado que trabalhos anteriores. Apresenta um pendor muito clássico em termos de guitarras e vocais muito melódicos, exibindo algum do poder e amplitude a que Steve nos habituou e abusando de refrãos muito orelhudos e repetidos até à exaustão.
Nota: 7/10
Nota: 7/10
Review por Pedro Rego