Noite de festa para os apreciadores de death e thrash metal old school. Nesta fria noite de quarta-feira, o RCA Club recebeu os veteranos brasileiros Vulcano, para um espetáculo que prometia ser “brutal”. Para este concerto em particular, o primeiro de dois em território nacional, figuravam ainda no cartaz duas interessantes bandas: os Scum Liquor, vindos da Brandoa e conhecidos pela energia que descarregam em palco; e os Filii Nigrantium Infernalium, que dispensam apresentações.
Foi com um ligeiro atraso que os Scum Liquor começaram a sua atuação, para uma assistência que era a essa altura, significativamente reduzida. Foi, no entanto, com agrado que se verificou uma considerável afluência de público, assim que se começaram a ouvir os primeiros acordes do tema “Shit Starter”, tornando a sala mais composta. Os Scum Liquor lançaram recentemente o seu primeiro álbum, que se intitula “Midnight Pleasures”, e não é de estranhar que todos os temas que tocaram fossem daí retirados, sendo que um deles, “Nonconformity and Hate”, foi pela primeira vez tocado ao vivo. A voz de Neverendoom é extremamente agressiva, fazendo-se acompanhar por um baixo e apenas uma guitarra, que dão bem conta do recado e um baterista que é um espetáculo, dentro do próprio espetáculo. Bom concerto dos Scum Liquor, como já vem sendo habitual, que nos seus trinta e cinco minutos de atuação conseguiram arrancar bastantes aplausos do público presente com a sua música bruta, rápida e direta.
Seguiram-se os Filii Nigrantium Infernalium com o seu black/thrash metal blasfemo. É assim mesmo, as letras dos seus temas não deixam dúvidas acerca da sua opinião sobre a religião. “Labyrinto” foi o tema com que começaram e já se sabia que muitos outros, já clássicos desta banda, fariam parte do setlist para esta noite. As incontornáveis, “Abadia do Fogo Negro” e “A Forca de Deus” foram apenas alguns das malhas que fizeram a delícia dos presentes. Numa banda repleta de músicos experientes, a sonoridade dos Filii é fantástica e as suas atuações parecem melhorar de concerto, para concerto. A entrega em palco de todos os integrantes é fantástica e o vocalista Belathauzer é um comunicador nato, que não perde a oportunidade de, a cada intervalo entre os temas, entreter o público com os seus “ensinamentos”. É impossível não rir. “Pó” e “Matéria Negra” foram cantadas com o auxílio de um convidado especial, que foi apresentado como sendo o Arcebispo Death Spirit. Houve ainda tempo na atuação dos Filii para “Lactância Pentecostal”, “Herança de Outono” e finalmente “Sacra Morte”, que foi dedicada aos Scum Liquor e aos Vulcano.
Os portais do Inferno se abrem para vocês…foi com estas palavras, proferidas por Luiz Louzada, que os Vulcano iniciaram o seu concerto, e que concerto! “The Man the Key the Beast”, tema instrumental, serviu de introdução para um espetáculo que se esperava suficientemente longo, para que permitisse percorrer a longa carreira dos Vulcano. Nesta segunda visita ao nosso país, o clássico álbum de 1986 “Bloody Vengeance” voltou a estar em destaque e foi dele que retiraram a maioria dos temas tocados nesta noite. Mas não se ficaram por aí, a banda visitou também outros trabalhos, incluindo um split que fez em 2006 com os Nifelheim, de onde extraiu “The Evil Always Returns”. Curiosamente, do seu último álbum de originais, que se intitula “XIV”, apenas tocaram o tema “Thunder Metal”, mas presentearam a audiência com “Evil Empire”, tema que irá fazer parte do próximo CD da banda, que será editado pela dinamarquesa Mighty Music, com quem assinaram recentemente contrato.
Este concerto não visava, no entanto, promover nenhum álbum, mas sim, dar aos fãs os seus melhores temas como “Dominios of Death” ou “Holocaust”. Para que esta viagem ficasse completa, faltava ainda visitar o ano de 1985, quando eles ainda compunham em português e assim, pudemos ouvir “Total Destruição” e “Guerreiros de Satã”, antes de a banda se retirar. A audiência estava bastante satisfeita com a atuação dos Vulcano, que foi de muita entrega e simpatia durante todo o concerto, sobretudo o baixista Carlos Diaz, que não se cansou de puxar pelo público. Foi, pois, sem admiração, que voltaram ao palco para finalizar a sua atuação daquela noite com “Ready to Explode”, também do álbum “Bloody Vengeance” e que foi dedicada às duas bandas anteriores, assim como a todos os presentes.
Mais um bom concerto que tivemos o privilégio de assistir, com bastante público, e novamente a um dia de semana, o que parece não constituir problema, quando a qualidade das bandas é boa. Foi o que aconteceu e afirmamo-lo não só pelos cabeças de cartaz, mas também pelas bandas de abertura que foram muito bem escolhidas e responsáveis, também elas, pelo público presente nesta noite.
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Daniela Jacome Lima
Agradecimentos: Metals Alliance