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Reportagem: Poets of the Fall e Kandia @ RCA Club, Lisboa - 30/11/2019


Pela primeira vez em cerca de 16 anos de carreira, a banda finlandesa Poets Of The Fall, teve a sua estreia em Portugal, num concerto da tour de apresentação do álbum “Ultraviolet”. Nesta noite de rock, os portuenses Kandia, que têm vindo a ganhar fama, foram os convidados para fazer as honras da noite.


O início do espetáculo esteve a cargo da banda portuguesa e esta foi uma boa surpresa. Ainda que o RCA Club não estivesse completamente cheio, apresentava-se com uma plateia bem composta, com um público que, em boa parte, não conhecia o som dos Kandia. Em pouco mais de meia hora de atuação e com apenas 7 temas, a banda da Maia conseguiu deixar os presentes rendidos. “Clarity” foi a faixa de abertura ideal, um início mais pacífico mas assertivo, encaixado numa música incrivelmente melódica. Os Kandia trouxeram na bagagem um rock moderno e energético, que ficou bem representado pelos temas “All Is Gone”, “Into Your Hands” e “Scars”. Mas não nos deixemos enganar, esta é uma banda muito versátil, que também passa por registos mais sóbrios e pausados, como “Hold on to me” e “Alone”, sendo que este último tema salienta a sua veia mais progressiva. Especial destaque para “Deviant”, que para além de ser um tema muito importante para a banda e para os fãs, foi também um sucesso instantâneo entre todos os presentes. De certeza que o grupo conseguiu arranjar mais uns quantos seguidores nesta noite, sendo que os olhares curiosos e intrigados não deixavam dúvidas.

Terminada a atuação dos Kandia, o palco estava agora inteiramente dedicado à banda finlandesa. Em background, as cortinas decoradas com os visuais de “Ultraviolet” preenchiam o palco, iluminadas sob misteriosas luzes vermelhas, que lançavam o suspense no ar. Assinalava-se assim a entrada dos Poets Of The Fall em cena, deixando os fãs ao rubro. A setlist iniciou com “Dreaming Wide Awake” e a escolha não podia ter sido melhor. Um registo enérgico com aquela faísca, aquela chama que consegue agarrar de imediato e lançar boa disposição pela sala. Todos perdiam o controlo de si próprios e já se instalavam os gritos e braços no ar, que se mantiveram até ao final de “Locking Up The Sun”.

Surgiram  as primeiras palavras de agradecimento, dirigidas aos ávidos fãs, mas sem grandes demoras. “False Kings” foi a escolhida para introduzir o novo álbum e trouxe consigo uma atmosfera diferente do habitual, distinta até daquilo que se imaginaria por parte de uma banda baseada no rock, é uma faixa requintada e que encaixaria perfeitamente num filme ao estilo de James Bond, sedutora e com muito cariz. De seguida, “Temple of Thought” representou o álbum do mesmo nome e logo depois, a banda tocou “Rogue”. Claro que não podemos deixar passar esta última sem fazer referência aos solos incríveis, interpretados por Olli Tukiainen e Jaakko Mäkinen nas guitarras, e Markus Kaarlonen no teclado. Tudo isto não seria possível se não fosse pela linha de baixo eletrizante de Jani Snellman. Foi uma performance de tirar a respiração. 

Para a próxima música, foi pedido aos fãs que ligassem as luzes do telemóvel, como alternativa ao uso dos isqueiros. Perante os nossos olhos estava uma sala completamente iluminada, ao som de um belíssimo sintetizador, reminiscente dos anos 80 e acompanhado pela calorosa voz de Marko Saaresto. “The Sweet Escape” proporcionou o momento perfeito para deixar a paixão a pairar no ar. Mantendo ainda a forte presença do teclado nas melodias, segue-se “Dark Disquiet”, uma das preferidas do novo álbum. Desde o refrão viciante, como aliás é característico da banda, que consegue repetir esta proeza vezes sem conta, e com uma progressão harmoniosa, ao passo marchante, marcado pela estrondosa bateria de Jari Salminen, este é um dos temas que nos fica no ouvido até ao dia seguinte e  isso não é um problema. Depois deste momento, estava na altura de dar voz às guitarras acústicas, que tão bem se esconderam até esse momento e deixá-las ressoar com os corações dos fãs, num momento mais íntimo, com “In a Perfect World”, um título que descreve o ambiente que se fazia sentir e se prolongou durante a próxima música, “War”, que acrescentou um toque de grandiosidade e imponência .

À medida que nos aproximávamos da última parte da setlist, era possível observar o à vontade que os poetas tinham ganho, desde o início da noite, quem sabe por verem a sua estreia em terras lusas, a correr tão bem. As faixas que se seguiam, “Daze” e “Choice Millionaire” são, talvez, o melhor exemplo para ilustrar tudo isto a que nos referimos… E de que maneira! Os refrões delicados e gentis, mas o mesmo tempo aliciantes, permitiram ao vocalista mostrar a sua extensão vocal. No entanto, foi em “Late Goodbye” que se deu um dos momentos mais marcantes daquela noite, infelizmente a chegar ao fim, tal como anunciava a música. Aqui, retomaram-se as notas da guitarra acústica, desta vez num registo melancólico, envolto numa atmosfera mais escura, levada a cabo pelo teclado. As letras, essas contam uma história, que podemos imaginar com toda a clareza na nossa cabeça, eles são de facto verdadeiros poetas. 

O espetáculo não podia terminar sem um encore em grande, até porque havia muitos fãs que ainda esperavam por um tema em particular… A banda retorna assim para “Diamonds For Tears”, seguida por “Lift”, introduzida por um fill fantástico na bateria. Por fim, a banda terminou a atuação com “Carnival Of Rust”, um dos temas mais esperados daquela noite e que foi o desfecho perfeito para um espetáculo fantástico.


Texto por Miguel Matinho
Fotografias por Hugo Rebelo
Agradecimentos: Prime Artists