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Reportagem: Hammer Smashed Fest @ Motoclube do Oriente, São João da Talha - 30/11/2019



Dia 30 de novembro, vários adoradores de Grindcore, Hardcore Punk, ou música extrema no geral, afluíram a um local um pouco improvável.

Em São João da Talha, mais concretamente no Motoclube do Oriente, realizou-se o Hammer Smashed Fest, que contou com várias bandas de peso nacionais assim como os lendários do mincecore, os belgas Agathocles.

Para começar é importante frisar o excelente trabalho da equipa por trás deste festival, que conseguiu organizar um excelente evento na sua estreia, que correu na perfeição e num espaço com excelentes condições, boa comida, boa disposição e claro, muita cerveja.

A noite abriu com Undersave, uma das melhores bandas nacionais de Death Metal dos últimos anos, que entrou a todo o gás com os seus potentes riffs, técnicos e cavernosos. Apesar de uma falha no quadro elétrico que ocorreu no segundo tema, a banda não se deixou perturbar, o som estava ótimo e os Undersave aproveitaram-se disso com uma excelente prestação. Exímios, tanto nas partes mais a rasgar, com time-signatures pouco ortodoxas, como nos riffs mid-tempo e eerie. O baterista a tocar com grande naturalidade, a guitarra impecável e um baixo bem presente na mix, a dar um reforço na profundeza do som, a noite abriu da melhor forma.

De seguida vieram os veteranos Grog, sempre enérgicos em palco e muito comunicativos com o público. Mais uma vez, excelente trabalho por parte dos técnicos de som. Destruidores nos breaks e grooves e completamente avassaladores nas secções rápidas, o concerto de Grog foi um miasma de brutalidade, que refletiu o percurso e experiencia da banda, englobando temas das várias eras da sua carreira. É ainda de notar o som e ritmo destruidor que o Rolando Barros impõe ao vivo na bateria, assim como a grande vantagem do fretless bass, cavernoso, e que dá muita riqueza ao som.

A terceira banda foi Systemik Viølence. Enérgicos e avassaladores, e o estandarte atual no Punk de protesto nacional, sempre com mensagens diretas, intolerantes, distópicas e cheias de ódio. O set foi composto maioritariamente por faixas do excelente EP, “Anarquia-Violência” e do “Satanarkist Attack”. Foi curto, simples e direto ao assunto, uma ode ao Hardcore/Crust Punk dos 80’s, com a garra e crueza do Hardcore Japonês, e o peso de uns Anti-Cimex. Bateria D-beat, solos dissonantes, riffs afiados, anarquia e brutalidade, que pedir mais?

Os Acromaníacos, também um clássico do Punk sujo e javardo nacional, entraram em palco bem dispostos, nos seus fatos de macaco e a comer uma banana, logo para abrir o espetáculo. A banda da casa deu o concerto em que o público esteve mais interativo, talvez também por ter sido depois do jantar e o teor de álcool no sangue já tinha levantado. Houve espaço para cantar o 28º aniversário da banda, mosh, dança, crowdsurf e muita cantoria, os Acromaníacos deram um concerto animado como sempre.

Aproximando-nos do final, tocaram os Raw Decimating Brutality, com um set de Grindcore esmagador e primitivo, direto da idade da pedra. Bons breaks, bem sincronizado com uma boa prestação dos músicos, toda a plateia era um mosh. Apesar da unidimensionalidade do som dos RDB, deram um concerto muito entretido.

Por fim, vieram as lendas do mincecore. Os belgas Agathocles, que já andam nestas andanças desde ‘85, não são desconhecidos para a cena, sendo um dos principais estandartes do Grindcore político e ativista. Depois da sua passagem por Barroselas, em 2018, eis que regressam a território nacional, para um concerto mais intimista neste HSF. Um set a rondar os 40 minutos, que conteve temas tanto de início da carreira de clássicos como “Theatric Symbolization of Life” ou “Razor Sharp Daggers”, assim como temas mais recentes. Repleto de mensagens políticas, contra o sistema e as correntes do capitalismo, os Agathocles presentearam-nos com um excelente concerto, repleto de “grinders” curtos e aniquiladores, malhas de Punk que espezinham as entranhas, com um tom de baixo que estoira os miolos e riffs de guitarra da velha guarda do Grindcore. Único ponto fraco a apontar aqui será o fraco som na bateria, com a tarola demasiado fraca e totalmente inaudível durante os blast beats, que aliado a alguma imperfeição do baterista em manter o tempo impedia o som de se elevar a outro nível de brutalidade.

E assim foi uma excelente primeira edição do Hammer Smashed Fest. Longa vida a este festival e muitos parabéns a toda a equipa organizadora que fez um ótimo trabalho. Que para o ano haja mais!

Texto por Filipe Mendes
Agradecimentos: Misophonia