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Obsidian Tide - "Pillars of Creation" Review


Quando falamos do Metal progressivo, Síria será muito possivelmente o último país do qual  talvez poucos ou nenhum de nós citaria, contudo enganamo-nos redondamente, sendo que desta forma deparamo-nos com mais do que uma banda e um álbum que fala por si. Podemos mencioná-lo como uma viagem sonora, de uma riqueza que só ao ouvir com toda a atenção podemos percecionar ou mesmo entender como esta banda é detentora de uma musicalidade muito peculiar, digna de ser adjectivada como original e autêntica. Qualidades e competências, não lhes faltam, quando os mesmo se tratam de antigos membros de bandas, como Symphony X e Mike Lepond's Silent Assassins.

Os Obsidian Tide, formados na cidade de Tel Aviv, em 2012, premiam-se por uma sonoridade que, pelo iniciar do álbum, poderemos asseverar da existência de uma complexidade moderada, mas que mesmo assim não deixa de tocar no âmago do ouvinte, pois capta a nossa atenção pela forma hipnotizante como se expressam. Uma viagem única, entre texturas divergentes, entre a agressividade vocal, concomitantemente com uma limpidez nos vocais, dando aqui um contrabalanço entre peso e suavidade, inteligibilidade do que se pretende dizer e a insanidade do gutural.

Melódico de forma deslumbrante, mas não ao exagero, cativante desde o primeiro minuto, simplicidade nas guitarras que, com o decorrer das faixas, se tornam mais complexas, trabalhadas, emergindo aqui a dualidade entre o uso do acústico e peso moderado de guitarras que tendencionam para um prog e que, por instantes, se suscitasse os Voivod, não seria de todo um erro.

Os Tool podem-se dizer que muito se incorporam neste álbum e, para isso, temos a faixa "Pillars of Creation", que não deixam hesitação em afirmar de que são mais do que evidentes na sua influência. Meticulosos e sedutores, os solos de guitarra dando aqui toques hipnotizantes que agarram-se aos tímpanos. A existência de um certo "ambiental", concede às faixas uma determinada estrutura, tornando a mais vigorosa, sendo que aos poucos progride de uma calma para agressividade progressiva, com vozes guturais que ao mesmo tempo têm um arrasto bem vincado. Dessa forma, bastante subtil, passa-se sem haver interrupção, havendo uma continuidade clara, passamos para a faixa intitulada " Seven", norteada por uma percursão que concede a abertura para um baixo muito análogo a Justin Chancelor. Influências de Maynard James Keenan evidenciam-se.

Sem dúvida a faixa "Seven" convida a uma experiência de tonalidades vocais, desde do mais ténue ao sombrio gutural, sonoridade oriental, evocando aqui a flauta e um baixo credulamente simples e a bateria a acompanhar de um modo repetitivo, seguidas das guitarras com laivos a Adam Jones. Não será de todo errado asseverar de que é inequívoco no decorrer desta faixa um certo improvisionalismo. Reiterando mais uma vez, as vozes sem dúvida têm em destaque o gutural, subjugado grande parte das vezes pela voz apaziguante, não de uma forma abrupta, anuindo a cada faixa uma dose de dependência e curiosidade em querer escutar a próxima faixa.

A dar credibilidade e uma distinção merecedora de ser referida, o baixo, pela forma como é incorporado em todas as faixas, reminiscente também, muita das vezes, dos Tool, sem pensar duas vezes. Considera-se pungente, original, mantém-se regular no álbum, não omisso como muitas das vezes acontece. Aqui o baixo participa como acompanhamento, que liga a guitarra e a bateria, como o seu suposto propósito, e que também busca a sua individualidade e dá graças com ligeiros solos, no sentido da sua brevidade, dissipando-se a sua personalidade individualista, para o retorno de um acompanhamento que liga a guitarra à bateria.

A bateria autónoma, por vezes desconexa, ganha e demonstra independência em todas a faixas, com variações interessantes, mostra também a sua ausência dando o ensejo a que outros instrumentos tenham a sua marca, e aqui vai o exemplo, como a flauta e o piano, dando uma nova "roupagem" à sua musicalidade. Será assim errado fazer sobressair, ou mesmo aqui patentear, um clássico do progressivo chamado King Crimson? Talvez não seja assim tão despropositado.

Um evidenciar de um certo orientalismo, devido ao uso da flauta, anuindo desta forma um carácter próprio e elegante à sua sonoridade, quando misturamos um som pesado com toques do Médio Oriente e, para mais, quando menos esperamos e na última faixa a "Magnananimous", do qual somos defrontados por um acústico e um não aguardado solo de saxofone, do qual iremos aprofundar prosteriormente.

Agressividade regrada e razoável, temos por salientar a faixa "The Harbinger and The Millenial Vengeance", com um iniciar pungente, e no seu decorrer deixa-se levar por por um vagar acompanhado por guitarras hipnotizandes, mas não de uma complexidade quase barroca. O baixo mais uma vez demonstra a sua relevância e com um solo improvisado mesmo no meio da faixa, seguindo-se guitarras que ressoam a John Petrucci, imbuídos por melodias hipnotizantes marcadas pelo compasso da bateria que anunciam o remate, ou seja, o encerramento da música. Por uns imininentes segundos espalhados pela faixa, irrompem-se influências de Opeth, seguindo pela límpidez e integibilidade dos vocais concomitante com guturais rasgados.

A última faixa, de uma brandura enternecedora, que mais parece aquelas melodias de circo e que, do nada, irrompe uma estrutura, tão Opeth misturando com a orientalidade típica da banda, revela-se sedutora a forma como as guitarras soam, com pujança e ligeireza, de forma alternada. Dois instrumentos que fazem o culminar desta faixa, a flauta no meio da faixa anuindo um toque oriental e o solo de saxofone temeroso e ousado, sem ser longo e extenuante, mas tipícamente aplicado no cenário Prog. Há aqui um todo evidenciar de originalidade e empenho de criar algo que, mesmo bebendo e ímbuido de diversas influências, não deixa de deixar a sua marca, que mais parece descontextualizar toda a estrutura. Os Obsidian Tide dão aqui, e sem sombra de hesitação, uma demonstração de aptidão de inclusão de instrumentos e a sua harmonização, não omitindo e aplaudindo o solo acutilante e incisivo de guitarra que antecede ao do saxofone, finalizando deste modo com uma guitarra acústica que remete de forma preponderante a Black Sabbath.

Uma viagem conceptual, baseada numa narrativa em que o foco se centra num homem que perscruta o seu próprio "esclarecimento" e assim se define a estrutura de todo o álbum. As verdades e agruras, com as quais se irá deparar, fazem parte da sua busca, fazendo deste modo escolhas que irão mudar a sua vida. "Pillars of Creation", sem dúvida, não prima exclusivamente na astúcia dos seus executantes, incorporando aqui uma história que, ainda que fictícia, poderá ser uma lição de vida, de busca de nós mesmos. Para álem da complexidade do qual este lançamento padece, temos de citar a influência que seria uma negligência caso não fossem delatada, os Jethro Tull.

Remata-se desta forma e, não pretendendo estender muito, para não tornar a leitura penosa e quase biblíca, deixa-se aqui a seguinte declaração, obrigatório para ouvir e, se possível, mais do que uma vez. Cativante e sedutor, dois adjectivos como forma panegírica e de elogio, sendo uma obra perfeita para se ouvir durante uma viagem, fechando os olhos e deixando se levar por toda a emotividade e sensibilidade do qual este álbum carrega, para onde a nossa imaginação quiser levar, sem destino predestinado.

Nota: 9/10

Review por Norberto Seck