São do Algarve e estrearam-se agora com "Uneven;", através da Raging Planet. O vocalista Francisco Martins contou à Metal Imperium quem são os Villain Outbreak.
M.I. - Entre o Ep "No Story for a Hero" e o álbum, passou algum tempo. O que aconteceu, entretanto?
Muita coisa para ser sincero (risos). Passámos por quatro mudanças na formação, tocámos em concertos com alguma exposição e enfrentámos um longo processo de gravação. Foi um ciclo bastante atribulado em que os altos foram bastante bons, mas em que os baixos poderiam ter sentenciado a banda. Sensivelmente duas semanas depois do lançamento do EP perdemos baterista e baixista, causando o cancelamento de duas datas fora do Algarve. Esse, foi, pelo menos para mim, um golpe difícil de ultrapassar. Nunca baixámos os braços até porque já tínhamos concertos marcados, mas foi difícil de digerir. Os substitutos foram encontrados de forma rápida, mas poucos meses depois voltámos a mudar de baterista e, mais tarde de baixista. Com a formação atual, encontrámos estabilidade e tivemos uma fase excelente em que tocámos na festa do Avante e fizemos as primeiras partes de While She Sleeps, Caliban, no Hell Of a Weekend, e Emmure. Quando decidimos entrar em estúdio, encontrámos músicas que para nós tinham perdido o fulgor por estarem connosco durante anos e o processo de restruturação e gravação foi longo. Felizmente tivemos a ajuda do produtor Carlos Rocha dos Eyeball Studios e dos nossos amigos David Rosado e João Brito que deram um enorme empurrão para que o álbum pudesse finalmente ver a luz do dia.
M.I. - Como se definiriam enquanto banda?
Pode-se dizer que Villain Outbreak surgiu das cinzas de Fafner. Banda de rapcore, que em meados de 2012 ficou sem vocalista. Depois de quase um ano a ensaiar e a compor sem voz, surgiu em conversa, a possibilidade de eu fazer um ensaio com o grupo. A minha anterior banda tinha terminado fazia pouco tempo e tinha um projeto em mãos, que não chegou a ir para a frente. Decidi aceitar apesar de termos estilos díspares. O primeiro ensaio excedeu a expectativas e a química foi imediata. Posteriormente, foi decidido em unanimidade, que o melhor passo seria iniciar um projeto novo, com novo nome, nova imagem, aproveitando as músicas já existentes. No seguimento desta decisão, Fafner entra em hiato e foi criado Villain Outbreak, em Dezembro de 2013.
M.I. - Quem integra Villain Outbreak hoje?
Tassilo Martin e Pedro Rosa nas guitarras, Hugo Costa no baixo, João Dourado na bateria, e por mim, Francisco Martins na voz. Todos já estiveram e alguns ainda estão noutras bandas. O Tassilo participou em vários projetos de música alternativa em Munique, sua cidade natal. Em Portugal, fundou Fafner, e atualmente tem o projeto a solo Pantha Rei, que é um live act onde Tassilo improvisa ambientes utilizando a sua guitarra e efeitos. Para a além disso, também já fez bandas sonoras para filmes. O Pedro fundou os Saída de Emergência, que apesar de parados, ainda não se deram como terminados. Esteve em Young Redemption, Fafner e recentemente fez parte de Cicatriz e dos M.E.D.O. duas bandas de Faro e que ainda se encontram bastante ativas e com discos novos. O Hugo Costa, teve um projeto rock acústico, The Oaks, e partilhou a função de guitarrista com o Pedro nos Young Redemption enquanto fez “uma perninha” nos Brace Yourself. O João Dourado iniciou-se nas bandas de covers, e fez parte dos An X Tasy, Reverse e mais recentemente Fuza Flowz. Atualmente o João está também bastante ativo como baterista de Contra-Corrente, uma banda de punk-rock da zona de Olhão, Fuzeta, Tavira. Eu iniciei-me nos Unsure, e tive passagens pelos Meludiah, Birth Signs e Perpetual Sentence entre outros projetos que nunca chegaram a arrancar verdadeiramente. Sempre como vocalista.
M.I. - Quais as principais influências que poderiam referir?
Temos várias bandas consensuais, de que todos gostamos, como Architects, As I Lay Dying, Killswitch Engage, Slipknot, While She Sleeps, etc, mas não considero como as influências para o som que fazemos. Claro que poderemos ter partes que possam fazer lembrar essas bandas, mas não é nada que tenha sido premeditado. Cada um de nós gosta de outros tipos de música totalmente diferentes. Por exemplo, o Tassilo é grande fã de música progressiva e psicadélica, tendo King Crimson como referência e isso nota-se em alguns dos arranjos que faz. O Pedro tem um passado no rock, no funk e no hardcore, o Hugo é bastante fã de hardcore, o João toca punk, que é o estilo que atualmente o atrai mais. Eu tenho um passado no Death Metal do qual tenho claras influências. Nós sabemos que queremos fazer metal, mas não controlamos realmente as texturas que adicionamos (risos). Entre todos, temos um gosto bastante eclético, e penso que cada um trás influências, não de bandas, mas de estilos diferentes.
M.I. - Apesar disso, "Taciturno" soa a post-metal e em "Burning Like A Phoenix" as referências são múltiplas, certo?
Tem tudo a ver com o que estava a dizer antes, não nos limitamos. Se soa bem, fica na música. Estes são dois ótimos exemplos da utilização das nossas várias influências. Temos também músicas mais hardcore no álbum ("(The h)it Happened", "The Streets Speak", outras mais metaleiras como "Rogue One", "As Bright As Black"… Há espaço para tudo. Não queremos fazer algo igual ao que já tenha sido feito mil vezes, mas também não forçamos nada. Na altura de compor, não pensamos em estilos, apenas em riffs, ritmos e vozes que soem bem e consistentes. O facto destas músicas terem sido compostas em alturas diferentes também ajuda a que se soem distintas umas das outras.
M.I. - Serem do Algarve, tem sido uma barreira para poderem rodar pelo país?
Infelizmente tem um pouco de influência, sim. Existem bandas e artistas algarvios que se sabem mexer e que conseguem rodar pelo país. Não é fácil, a geografia não está a nosso favor, pois apesar de haver bons concertos e espaços no Algarve e Alentejo, estamos a cerca de 300km do grande centro mais próximo, onde atividade na nossa “cena musical” é maior, e isso dificulta logo a criação de laços e de contatos. Claro que estes podem ser conseguidos virtualmente, mas não é a mesma coisa. As deslocações são sempre dispendiosas e geralmente ultrapassam o orçamento que as promotoras podem considerar justo para uma banda de abertura. Essa parte é difícil de contrariar. Raramente compensa sair daqui para um concerto único, convém ser pelo menos dois. Isso não impede que o façamos, muitas vezes a nosso risco. Penso que com o tempo se poderá tornar mais fácil caso consigamos fazer o nosso nome crescer, mas para já é… desafiante.
Tivemos a honra e sorte de termos ter três convidados que para além de amigos, são pessoas que admiramos profundamente. O João Ramos, também conhecido por Skatro, vocalista de HoChiMinh é alguém que já conheço há largos anos e com quem tive o prazer de partilhar palco várias vezes quando estava nos Birth Signs e também já em Villain Outbreak. Sempre foi um vocalista que admirámos bastante e haviam pelo menos duas músicas que pediam mesmo a voz dele. O convite foi feito e prontamente aceite para uma delas. Como esperado, o tema ganhou uma dimensão nova e ficámos todos satisfeitos com esta colaboração.
O David Rosado é um veterano do hardcore, tendo estado em bandas Pointing Finger, Broken Distance, Pressure, Rat Attack, Clean Break, etc. Além disso, é também um grande amigo, muito chegado à banda. A sua presença na música mais hardcore do álbum era algo que não poderia deixar de acontecer. É a voz perfeita para a «The Streets Speak» e não íamos perder a oportunidade de ter umas das vozes mais icónicas da cena farense no nosso disco. Em adição à sua participação, ele foi uma peça fundamental nas sessões de gravação da voz estando quase sempre presente, a mandar os seus “bitaites”. O João Brito é um dos músicos mais talentosos da nossa região como podemos comprovar pelo seu trabalho nos Sam Alone & The Gravediggers, nos Dimension e no seu projeto a solo, Altura. Aproveitámos o facto de ele ser grande amigo do Carlos Rocha e num dos dias que passou lá pelo estúdio conseguimos convencê-lo a participar com o solo épico que está na «As Bright As Black». Em adição, ainda se prontificou a compor e a gravar alguns arranjos de guitarra que podem ser ouvidos ao longo de vários outros temas, dando-lhes uma dimensão que deixou-nos a todos de queixo caído. Ficámos muito gratos pela participação de todos eles. Para além disso, tenho de referir que a capa foi construída por dois grandes amigos meus, tendo a Cristina Santos desenhado a cobra e o Ruben Monteiro feito a composição do resto do artwork.
M.I. - Como é o futuro que querem construir?
Tentamos ser realistas e pensar num objetivo cada vez. Claro que queremos o domínio mundial, mas sendo do Algarve, podemos demorar a chegar lá (risos). Para já queremos fazer chegar o "Uneven;" ao máximo número de pessoas possível, bem como tocar o máximo fora do nosso distrito. Planeamos lançar pelo menos um videoclip brevemente e tentar espalhar o nosso nome um pouco por todo o lado. O estrangeiro é também um objetivo. Não queremos que, desta vez, haja um período de tempo tão grande entre lançamentos, por isso já estamos a trabalhar em novos temas que ainda se encontram em estado muito embrionário. Idealmente teremos um disco cá fora daqui a dois anos, e onde não conseguirmos chegar com o "Uneven;", tentaremos alcançar com um novo disco. O futuro que queremos é um futuro onde possamos continuar a fazer a nossa música e ter pessoas que a queiram ouvir.
Entrevista por Emanuel Ferreira