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Entrevista aos Svart Crown


Os franceses Svart Crown estão finalmente de volta - com um novo single e vídeo, um novo álbum e uma tournée! Com uma nova formação revigorada, a banda está prestes a lançar o seu quinto álbum de estúdio "Wolves Among The Ashes", no dia 7 de Fevereiro de 2020, e certamente é o álbum mais maduro e diversificado até ao momento. Este novo conjunto de músicas promete uma jornada profunda e introspectiva, desde as vibrações do black metal até ao death metal apocalíptico pós-moderno. Através de paisagens tortuosas e sombrias, o quarteto francês explora os traços mais sombrios e psicóticos da humanidade. A Metal Imperium teve o prazer de conversar com o líder JB Le Bail, que nos esclareceu sobre todos os detalhes importantes…


M.I. - Primeiro, gostaria de dizer que adoro o novo álbum. Parabéns!

Obrigado!


M.I. - Este álbum apresenta uma grande variedade de estilos, de cantos gregorianos a sons industriais, de black metal a batidas de trip-hop. Quão confiante é preciso estar para inovar assim?

Há uma nova vibração, um novo sentimento e, emocionalmente falando, até as melodias soam diferentes. É um tipo diferente de coisa, este é um dos meus álbuns favoritos e, até ao momento, existem pessoas que realmente gostam e outras que não gostam, porque não é isto que elas esperavam, talvez porque ainda não ouviram o álbum todo. Algumas pessoas talvez fiquem desapontadas.


M.I. - “Thermageddon” é o primeiro single que lançaram para mostrar o álbum. Por que escolheram esta faixa em particular?

Eu acho que é uma escolha óbvia, uma escolha arriscada... é mais uma faixa clássica.


M.I. - Qual o significado do título do álbum "Wolves Among the Ashes"?

É um refrão retirado da música "Thermageddon": “We are angels of our fall, the enemies of ourselves, our own predators, wolves among the ashes” e resume bem a identidade humana... o homem é autodestrutivo e talvez seja isso que queremos dizer, é uma grande reflexão sobre o mundo, do que estamos a fazer agora e também sobre as lutas internas com as quais todos temos de lutar. Falo muito de mim neste álbum, mas também falo do mundo. Acho que o título é uma frase forte.


M.I. - Por que quiseram retratar a "loucura humana ao extremo"?

Eu não tenho uma opinião muito boa sobre o mundo. Eu poderia estar optimista mas, quando penso no futuro do mundo e no próprio mundo, sou negativo. Também me sinto mais inspirado pela face sombria de tudo e a escuridão e perdição que estamos a enfrentar na sociedade... esta é a minha visão do mundo no momento.


M.I. - Supostamente, o álbum ganhou vida depois de teres visto a cratera de gás de Darvaza no Turquemenistão, um campo de gás natural apelidado de “porta para o inferno” (“darvaza” significa literalmente “porta” em turcomeno) que está a arder há quatro décadas. Qual foi o impacto que isto teve de tal modo que decidiste dedicar-lhe um álbum?

Isso é claramente uma confusão no press release, pois eu não fui mesmo lá. Assisti a vídeos e vi coisas online sobre isso. De qualquer forma, aquelas visões e imagens que vi foram uma verdadeira inspiração... quando tive a primeira previsão e flash, liguei toda a escrita e toda a melodia a uma imagem. Foi visualmente importante para mim e para o equilíbrio, pois sempre tentamos ter capas fortes e design forte. Isto representa a força violenta da natureza e sabemos que há algo maior que nós. Para mim, o melhor disso são todas as cavernas vulcânicas de lava... essa é a maior força do natural que sempre mostrará que há algo maior que nós e maior que o ser humano. A natureza terá sempre a última palavra, é o que eu acho.


M.I. - Sim, e atualmente estamos a testemunhar isso. Há fortes chuvas e inundações aqui em Portugal e incêndios na Austrália... está tudo descontrolado!

Exatamente! Eu escrevi tudo até as letras, antes dos grandes incêndios na Amazónia neste verão, e a palavra "Thermageddon" vem de um dos tipos que criou o Greenpeace. Eles escreveram um livro sobre isso e disseram que a humanidade acabaria por criar o seu próprio Armageddon. Eu acredito que quando o Armageddon vier, não será algo bíblico, porque os assuntos bíblicos são mais metafóricos do que reais. Quero dizer, é interessante de ver, mas acho que estamos a criar o nosso próprio apocalipse. Tudo isto está relacionado com o que estamos a tentar dizer.


M.I. - Este álbum apresenta dois ex-membros, Ranko e Clément Flandrois, que regressaram à banda... como foi a experiência de trabalhar novamente com eles?

É como se eles nunca tivessem desistido. Aliás sempre nos relacionamos e passávamos tempo juntos, mesmo quando eles não estavam na banda. É como se todos tivéssemos crescido durante quatro ou cinco anos e a banda já não é a mesma banda. Todos evoluímos pessoalmente, e acho que estamos mais focados nas nossas coisas e é mais pacífico em termos de comunicação. Tudo foi mais fácil… por exemplo, o Clément acabou de escrever coisas dois meses antes da gravação e o que ele colocou no álbum é realmente importante, pois coloca o toque final que faz uma grande diferença, na minha opinião.


M.I. – Foste tu que escreveste 95% dos álbuns de Svart Crown... aconteceu o mesmo com este?

Eu escrevo sempre da mesma maneira, e concentro-me principalmente quando estou sozinho. Escrevo algumas ideias e tento pegar nas melhores coisas. Gravo tudo e depois tento trabalhar em algumas estruturas e coisas assim. Quando estou feliz com algo, mostro aos outros membros da banda e fazemos alguns ajustes. A inspiração vem a qualquer momento quando não estou em tournée, quando estou inspirado, e pode vir de qualquer coisa... das pessoas ao meu redor, da banda, de qualquer coisa... tudo pode ser inspirador, só preciso de me concentrar e estar atento.


M.I. - Já tiveste bloqueio de escritor?

Sim e é realmente frustrante. Mas estou sempre a escrever coisas e, quando não sinto que as coisas estão certas, não escrevo mais. Não exerço pressão sobre mim mesmo, porque não sinto que precisamos de gravar um álbum por ano ou a cada dois anos. Prefiro demorar mais tempo e gravar outro álbum quando estivermos prontos, porque não faz sentido gravar algo com o qual não estamos realmente felizes. Desde que terminamos a gravação do álbum, mal toquei guitarra porque não estava com vontade. Sabes, para tocar preciso de me sentir diferente e, agora, sinto-me diferente e só quero pegar na guitarra e tocar. Preciso de sentir essa necessidade de escrever e, quando a tenho, fico mais inspirado.


M.I. - Disseste que a parte mais difícil do processo foi quando tiveste que fazer as vozes porque tiveste que abrir novas portas e deixar o teu ego de lado. O que queres dizer com isto?

O problema é que, desta vez, senti que as músicas precisavam de algo mais, precisavam de algo realmente bom para as vozes. Acho que coloquei pressão em mim e tive essa inspiração, mas não tinha tanta certeza sobre as minhas ideias, não tinha certeza de que os outros gostariam delas. Não me sentia confiante e estava sempre a questionar-me e a lutar porque não tinha a certeza do que queria e sentia um pouco de medo, o que tornava as coisas mais complicadas. Por isso, tive que estar mais confiante com as minhas ideias e, uma vez que abri o meu coração e apresentei as minhas ideias aos outros, eles realmente entenderam e as coisas acabaram bem.


M.I. - Desde o segundo álbum, trabalham com Francis Caste. Quão importante é para vocês trabalhar com pessoas que conhecem? Não acham que trabalhar com alguém diferente pode injectar algo extra na banda?

Nós pensamos nisso algumas vezes, mas realmente temos uma ligação especial com o Francis. Álbum após álbum, trabalhamos com ele, porque estamos a fazer algo diferente e ele traz algo novo para a banda. Vemos o Francis como alguém que pode fazer um óptimo trabalho em termos de qualidade e também em termos de confiança. Isso é realmente importante. Eu só quero trabalhar com um tipo muito porreiro, confiante e trabalhador, com boas ideias, que entenda todos os aspectos de tudo. Gravar um álbum pode ser longo e complicado e eu gosto de estar numa zona de conforto e trabalhar com ele é incrível, porque ele realmente nos entende e sempre traz algo interessante para o mix.


M.I. – Estás na banda desde o primeiro dia e és o único membro permanente. Quão complicado tem sido ser o líder da banda nos últimos 15 anos?

Eu comecei a banda quando era muito jovem e tive a ideia de criar a minha própria música, mas não é um caminho calmo e descontraído. Tentei fazer isso com outras pessoas, algumas pessoas que estavam ligadas a mim e que tornavam as coisas mais fáceis, mas algumas pessoas não. Então, eu apenas tento manter o barco a flutuar, mas também cometo erros e sou humano. Tento dar o meu melhor ao lidar com pessoas e membros... mas pode ser complicado.


M.I. - Na tournée de 2020, estarão acompanhados pelos Gost. Quais são as tuas expectativas?

Acho que vamos tentar apresentar algo um pouco diferente e globalmente mais intenso. Nós queremos intensificar o nosso espetáculo ao vivo em termos de produção e tudo mais. Queremos propor algo mais ao ouvinte, para que ele realmente tenha algo interessante para ver e ouvir. Estamos a trabalhar nesses aspectos e esperamos conseguir fazê-lo corretamente. Espero que consigamos ir à maioria dos territórios que sempre fizemos no passado e talvez conquistemos novos territórios.


M.I. - Mas não virão a Portugal ... a última vez que tocaram aqui foi na tournée com os Rotting Christ e Carach Angren ...

Sim, nós tivemos uma boa vibração aí com as pessoas. Nunca tivemos a oportunidade de voltar para festivais ou mesmo para uma tournée… Portugal é um lugar distante para o roteiro, pois temos que passar por Espanha… às vezes não podemos dizer nada, porque é uma daquelas situações de tournées em que temos de “pegar ou largar”... vamos tentar voltar porque realmente gostamos de tocar aí. Tivemos um apoio muito forte.


M.I. - Sim, eu estive no concerto no Porto e concordo totalmente! Foi intenso e acho que deveriam voltar, mas entendo que algumas bandas não vêm aqui porque a logística é complicada. Bem... li que és um grande fã de Alice in Chains. Já pensaste em fazer uma cover de um tema deles?

Nós nunca fizemos nenhuma cover, nunca gravamos nenhuma cover, mas costumávamos tocar algumas músicas deles no começo da banda. Claro, isso seria algo realmente interessante de fazer e eu adoraria fazê-lo. Não há plano, mas pode tornar-se real um dia...


M.I. - Se o fizesses, qual o tema que escolherias e por quê?

Essa é uma pergunta complicada. Realmente não sei. Existem tantas boas faixas. Eu acho que uma faixa que seria adequada… porque quando fazes uma cover de uma banda, precisas de pensar na atmosfera que trazes… os Alice in Chains têm uma música sombria “Love, hate, love”, que é uma muito boa e eu adoro a letra… acho que combina perfeitamente com o nosso universo.


M.I. - Já estás a promover o álbum e algumas faixas já foram lançadas, mas o álbum só verá a luz do dia a 7 de Fevereiro de 2020... por que é que a espera é tão longa? Não seria melhor lançá-lo um pouco antes do Natal e vender mais cópias?

Essa não é uma escolha nossa, tem a ver com o planeamento da editora. São eles que decidem o plano de lançamento. Obviamente, eles disseram-nos que o Natal seria um período complicado para bandas mais pequenas como nós por causa dos lançamentos das bandas maiores. Por isso, a editora prefere sempre lançar os nossos álbuns depois do ano novo e antes do verão.


M.I. - Agora que o álbum está pronto e tem uma data de lançamento, o que farás até lá? Vais descansar?

(Risos) Não! Ainda temos muito trabalho para fazer. Vamos descansar um pouco no Natal, mas temos todas as promoções para fazer, o que dá imenso trabalho. Também estamos a preparar alguns vídeos para gravar e temos todos os aspectos da tournée para tratar... temos que ficar de olho nas reservas e planos do que queremos fazer. Também temos que preparar o novo set ao vivo e queremos que seja fixe. Queremos preparar algumas músicas que nunca tocamos antes porque queremos tocar algo diferente. Vamos tocar alguns clássicos, mas queremos tocar algo diferente também... portanto, há muito trabalho para fazer.


M.I. - Muito obrigado pelo teu tempo! Desejo-vos muito sucesso para o novo ano que aí vem! Por favor, deixa uma mensagem aos vossos fãs e leitores portugueses da Metal Imperium! Espero ver-vos tocar aqui em breve!

Muito obrigado pela entrevista. Faremos o possível para voltar a Portugal, porque é um país que mantém viva a chama e seria ótimo tocar aí mais uma vez.

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Entrevista por Sónia Fonseca