O reconhecido e bastante prolífero projeto do multi-instrumentista Andrew Curtis-Brignell deixa em 2019 uma compilação de temas antigos regravados e um novo álbum de originais, o qual estamos aqui para analisar.
E que traz “Gentle Illness” ao já longo catálogo de Caïna? A quem já conhece a banda, o experimentalismo e a aura depressiva mantêm-se, mas o grande destaque diferencial está na produção, neste caso e ao contrário do que fazem muitas bandas, existe uma transição para uma produção intencionalmente crua e de garagem a la black metal dos anos 80, o que poderá afastar muita gente pelo ar descuidado da coisa, mas que não só contribui para fomentar o caos que muitas vezes falta no disco, como também permite aos riffs mais melódicos e aos teclados sobressaírem, não se sobrepondo a mais nenhum instrumento, e proporcionar uma simples e agradável absorção da música. Uma abordagem sonora que o Sr. Brignell já tinha demonstrado a intenção no anterior “Christ Clad In White Phosphorus”, contudo o álbum de 2016 pega na amálgama de blast beats e torna-os em suaves crescendos enquanto que “Gentle Illness” oferece melodias inesperadas no meio de ataques de raiva como “Your Life Was Probably Pointless” ou “No Princes In Hell”, esta última com um interlúdio bastante jazzy que irá para alguns parecer um bom exercício de contemplação do tema e para outros um momento completamente desnecessário.
Existe um certo equilíbrio no álbum entre temas de post-black com todos os componentes necessários para os podermos chamar assim e uma série de momentos instrumentais psicóticos carregados de distorção, algo que não é novidade, mas que talvez esteja neste “Gentle Illness” um bocado mais presente do que o resto do material.
Bem exprimido, o novo álbum de Caïna é o sucessor natural na direção tomada em “Christ Clad In White Phosphorus”, sendo um disco digno de ser apreciado para todos os que gostam de uma experiência atmosférica bastante negra, mas que também carregue algum músculo .
Nota: 7/10
Review por Tiago Neves