Olhando um pouco pela receção deste disco internet fora, mais do que dissertar sobre o mesmo, serve esta review para, acima de tudo, tentar desmistificar o que é "Legacy of the Dark Lands".
Desde logo reparem que, como o nome indicia, este não é o novo álbum dos Blind Guardian, mas sim uma colaboração entre dois elementos da banda germânica (Hansi Kürsch e Andre Olbrich) e a orquestra filarmónica de Praga. Daí que, embora faça parte do “universo” Blind Guardian, "Legacy of the Dark Lands" não é de todo um lançamento regular da banda.
Este trabalho tão pouco é um álbum de metal orquestral, na medida em que o fator metal (distorção, bateria, etc...) nem sequer está presente no disco, sendo este “apenas” uma simbiose entre a referida orquestra e a divina voz de Hansi Kürsch.
E, acima de tudo, "Legacy of the Dark Lands" não é um disco de música ligeira, muito menos algo que se possa ter a total perceção com apenas uma ou outra escuta, a não ser que tenham conhecimentos vastos de música erudita. Podem esperar, sim, um ou outro refrão, bem como as linhas vocais típicas de Hansi Kürsch, sendo isso apenas a ponta do iceberg de uma obra simplesmente majestosa.
Estamos perante um projeto que começou a ser esboçado no já longínquo ano de 1998, e que foi idealizado liricamente em coautoria com o escritor alemão Markus Heitz. "Legacy of the Dark Lands" é então a sequela da obra Die Dunklen Lande, escrita pelo supracitado autor neste mesmo ano de 2019.
Agora que as apresentações estão feitas, resta falar um pouco sobre o disco e desde logo a primeira impressão não é de todo positiva. Há tanto, mas tanto a acontecer neste álbum, que a meio do disco a vontade é mesmo de cessar a sua audição e pôr algo mais “simples”. É de facto muito complicado não nos sentirmos esmagados por esta obra no início, ainda para mais quando temas como "In the Underworld" ou "In the Red Dwarf’s Tower" parecem não ir a lado nenhum, dando-nos a ideia de ser um amontoado de ideias sem sentido.
Mas Hansi e Andre sabem bem aquilo que escreveram e vão dando-nos aqui e ali, pequenos “doces” como o fantástico “refrão” de “The Great Ordeal”, o “catchy” "Point of No Return", ou a reedição do épico "At the Edge of Time", agora intitulado de "Harvester of Souls", instigando-nos a não desistir do disco. Naturalmente que a grande referência será sempre a voz Hansi Kürsch que, como seria de esperar, carrega o álbum às costas, na melhor e mais arrepiante prestação do alemão alguma vez registada.
Uma vez ultrapassada a fase da descoberta, o caos vai-se mutando em ordem e o cérebro vai descodificando pouco a pouco todas estas notas musicais, abrindo a nossa mente para uma experiência a todos os níveis grandiosa e acima de tudo gratificante.
Porém, esta é também uma experiência assaz complicada e de certa forma injusta de descrever numa simples crítica.
Daí que estas linhas não são de todo um veículo de propaganda para tentar “vender” o melhor álbum de sempre, mais que não seja porque "Legacy of the Dark Lands" não o é de todo. É sim, um pedido para que lhe dêem algum tempo e atenção, especialmente se forem fãs dos Blind Guardian.
Lembrem-se de que banda estamos a falar, afinal de contas, há mais de 30 anos que Hansi e companhia nos têm vindo a dar alguma da melhor música alguma vez composta no metal. Será que os criadores de "Imaginations From the Other Side", "Somewhere Far Beyond" e "Beyond the Red Mirror" não merecem algum crédito? Não deixem que as expetativas vos toldem o julgamento. O que não falta hoje em dia são propostas que misturem metal e música clássica com mais ou menos mestria. Mas se quiserem algo verdadeiramente novo e único têm aqui um excelente exemplo.
Ouçam o álbum e, posteriormente, julguem-no como melhor acharem mas, acima de tudo, dêem-lhe uma oportunidade.
Nota: 9/10
Nota: 9/10
Review por António Salazar Antunes