Difícil categorizar esta banda, se lhe quisermos chamar de banda, pois é composta apenas por dois elementos, ou três, para sermos mais precisos. Embora ausente das gravações, o baterista João Vairinhos veio dar uma ajuda aos membros originais, Sara Inglês e Pedro Ferreira nas atuações ao vivo. Mas foi ainda enquanto duo que os Wildnorthe gravaram “Murmur”, álbum lançado no passado dia 21 de outubro através da Ragingplanet e da Regulator Records.
Este sucessor do primeiro registo dos Wildnorthe, o EP “Awe” de 2015, é também ele difícil de descrever, muito por culpa de a sua sonoridade se desviar da que habitualmente temos o prazer de criticar aqui, na Metal Imperium. “Murmur” não é o tipo de álbum que nos surge com regularidade, este tipo de música é mais escasso. Mas a sua sonoridade é mesmo assim, à margem do que a maioria das bandas vai fazendo por estes dias. Vivendo muito de sintetizadores, os Wildnorthe descrevem o seu estilo musical como darkwave/synth, mas abordam muito do chamado pós-punk também. Sobretudo no ritmo linear da batida, que nos pode transportar até à década de oitenta.
Todos os sete temas que compõem este trabalho são cantados pela Sara Inglês e pelo Pedro Ferreira, ou poderíamos até dizer, declamados. Não existe necessidade de fazer qualquer esforço vocal mais exigente ao longo destas músicas, o que poderia inclusive estragar a harmonia presente na voz que este duo aplica nas suas composições. O primeiro single escolhido foi “Howler” e até já tem direito a videoclip. Todas as faixas são dançáveis, atmosféricas e perfeitamente capazes de tomarem conta dos movimentos dos apaixonados por este tipo de som mais alternativo. As letras das músicas mostram-nos o seu lado negro, dando-nos a sua ideia de beleza, que poderá não ser a mais convencional, pois para eles até a morte é preciosa.
Ouvir este álbum dá-nos a mesma sensação que recebemos ao ver um quadro a ser pintado à nossa frente, revelando pouco a pouco a ideia do artista. O mesmo acontece com “Murmur”, que ganha mais sentido a cada nova audição. Ainda que não seja uma referência, deixa-nos uma boa impressão. Muito experimental, expõe a criatividade destes músicos lisboetas que percorrem de forma arrojada caminhos estreitos e difíceis, não acessíveis a todos. Cada vez que ouvimos “Murmur”, sentimo-nos um pouco mais conquistados por ele.
Aproveitamos para informar que os Wildnorthe continuam a dar concertos que visam a promoção deste trabalho e que os vamos poder ver em breve, no primeiro dia do festival Under the Doom. Como já referimos anteriormente, existe muita curiosidade em ver como estes temas resultarão ao vivo.
Review por António Rodrigues