É com enorme satisfação que temos vindo a assistir ao crescimento deste festival que vai já na sua quarta edição. Fiel aos seus princípios, a organização deste evento continua a não se poupar a esforços para oferecer um cartaz, no qual pontifiquem bandas nacionais consagradas, outras emergentes, a que se juntam sempre algumas estrangeiras. A satisfação do público que visita anualmente o Multiusos da Malveira é um objetivo sempre presente, ao qual se adiciona um outro, sem dúvida nobre. Ajudar os bombeiros locais. Foi o que aconteceu uma vez mais este ano no Oeste Underground Fest. À quarta edição, podemos afirmar que o seu lugar no roteiro de festivais que se realizam no nosso país está já cimentado. A afluência do público foi semelhante há de anos anteriores, ou seja, uma boa casa.
Neste ano as honras de abertura couberam aos Phreneticis., banda de Odivelas que toca death metal progressivo. Tal como planeado, a banda começou a sua atuação às 16h00 em ponto dando início a uma tarde/noite de muita música. Nesta meia hora de atuação a que tiveram direito, este quarteto teve à sua frente uma considerável audiência. O público português parece começar a ganhar noção de que deve comparecer atempadamente aos eventos musicais, não só para desfrutar dos concertos na totalidade, mas também para apoiar todas as bandas do cartaz. De louvar. A atuação destes jovens cativou os presentes. Seguros, mostraram-se bastante descontraídos não acusando a responsabilidade de serem a primeira banda a subir ao palco.” Halved Corpse”, faixa que irá fazer parte do EP que tencionam gravar brevemente fez parte do alinhamento e foi muito bem recebida. Os Phreneticis tocaram cinco temas e despediram-se com “Kingdom of Isolation”, não sem antes nos surpreenderem a todos dizendo que este era o primeiro concerto dado pela banda. Ninguém acreditaria se não fossem os próprios a afirmá-lo.
Seguiram-se os Dharma. Esta banda, também lisboeta, tem um trabalho editado recentemente, um EP intitulado “Obsolete” e, como seria de esperar, foi tocado quase na integra. “Inochi: Agari”, “Paradise” e a instrumental “Obsolete”, foram muito bem aceites pelo público. De salientar ainda nesta banda de metalcore a “pujança” do baixo, que, propositadamente ou não, se sobrepôs por diversas vezes às próprias guitarras.
Eram 17h45 quando os Wicked começaram a sua atuação. Este quarteto que se deslocou do Porto para apresentar o seu thrash metal tocou incompreensivelmente apenas 15 minutos. Tão curta atuação deu apenas para tocarem 4 temas, de onde podemos destacar “Killer” e “Prisioner”, que captaram a atenção do público. Soube a pouco.
Os Congruity surpreenderam com a sua energia e a sua atuação pode ser considerada a melhor até aquela altura. Este trio de Abrantes pratica um black/death metal pujante e a entrega em palco dos seus três elementos cativou os presentes. Com o seu álbum homónimo ainda fresquinho, temas como “Path of Darkness” e “Departure From Light” pareceram caídos do céu para uma assistência que estava necessitada de algo mais violento. O vocalista e também baixista Victor Sapage, foi incansável a puxar por uma assistência que durante os 25 minutos em que os Congruity tocaram, se foi aproximando mais do palco. O interesse sobre este trio foi notório e ouviram-se por diversas vezes alguns curiosos perguntando: “Quem são?”.
Os Basalto, que têm sido notícia na Metal Imperium nos últimos tempos, tiveram meia hora de atuação que souberam preencher categoricamente com o seu stoner. Com o seu mais recente trabalho “Odor” lançado na véspera, a banda apresentou-se muito certinha, com uma performance muito coesa. Era notório que tudo estava bem ensaiado, o que é natural, este era o segundo de uma série de concertos que a banda tem agendados. Tal como havíamos adiantado na review feita recentemente ao seu álbum “Odor”, a voz de António Baptista poderia ser capaz de dividir opiniões. Talvez antecipando esse cenário, os Basalto optaram por não tocar apenas músicas do seu mais recente trabalho, visitando anteriores, onde foram buscar temas instrumentais. Foram apenas três músicas, mas suficientes para conquistarem a atenção da audiência.
Os Skinning vieram para retomar o ritmo mais acelerado que os Basalto haviam interrompido. Este trio que veio de Guimarães, descarregou o seu death metal de forma brutal no palco do Oeste Undergroun Fest. A oportunidade foi aproveitada da melhor forma para brindarem os presentes com temas do seu próximo álbum, “Homicidal Expermitations”, que está por aí a rebentar. Os seus anteriores trabalhos também não foram esquecidos, sobretudo “Slaves of Insanity” de onde retiraram “In the Name of the Whisper”. Honra seja feita aos Skinning, pois foi ao som da sua música que os ensaios para o mosh pit começaram a ganhar consistência junto ao palco.
Após a atuação dos Skinning e enquanto em palco se procediam às alterações necessárias para a receção aos Biolence, foi tempo de agradecimentos. Primeiro, por parte do Presidente da Junta de Freguesia da Malveira. De seguida, pela Vereadora da Câmara Municipal de Mafra, encarregue da pasta da Proteção Civil. Ambos agradeceram à organização do evento, mostrando-se disponíveis, por sua vez, a ajudarem igualmente no que for necessário para que este festival se mantenha.
Voltando à música. Eram cerca das 20h30 quando os Biolence começaram a tocar. Esta banda que se deslocou desde Vila Nova de Gaia para nos trazer o seu fulgurante death metal, principiou a sua atuação com “Devoured”, do seu mais recente álbum “Violent Ehxumation”. Desse trabalho tocaram ainda “Merda” e “Holy Word”, com o vocalista a pedir “movimento” ao público e a consegui-lo. A banda visitou os seus anteriores trabalhos e conseguiu ainda encaixar no seu set list, “Deathhammer”, uma cover dos Asphyx que foi também ela muito apreciada.
Pelas 21h20 a primeira banda estrangeira da noite começou a sua atuação. Os Biolence já tinham deixado anteriormente o público preparado e os Valafar souberam aproveitar a situação, para presentear a assistência com um magnifico concerto. Estes ingleses trouxeram um death metal que foi muito bem-vindo por quem se encontrava a assistir. A simpatia do vocalista também ajudou. Sempre a incentivar o público, não se esqueceu de repetidas vezes mencionar que adorou a forma como a banda havia sido recebida no nosso país. Os Valafar começaram por tocar dois temas do seu primeiro álbum “Helheim”, para se dedicarem depois em exclusivo ao seu mais recente trabalho “Wolfenkind”. Foi daí que retiraram “Brotherhood of the Wolf”; The Ballad of Plainfield”; “Path of the Warrior” e “Born of the Nine”, com que deram a sua atuação por concluida. Estes ingleses foram de uma entrega que deve ser louvada, fazendo com que os seus 35 minutos em palco tenham parecido “muito curtos”. Antes de terminarem, havia já quem fizesse stage diving.
Os Corpus Christii foram a primeira banda nacional a entrar em palco, da qual podemos dizer com relativa segurança, não ser desconhecida para nenhum dos presentes. No ativo desde 1998, dificilmente alguém que se identifique com a música underground não se terá já cruzado com o seu black metal num ou outro concerto. O interesse da parte do público foi evidente, notando-se uma maior proximidade com o palco. Era um espetáculo para seguir com atenção. A atuação dos Corpus Christii focou-se principalmente nos seus trabalhos mais recentes de onde retiraram, por exemplo “The Infidels Cross”, num concerto que tinha algo de especial para o seu frontman, Nocturnus Horrendus, que tinha o seu pai a assistir entre o público. Hail Satan foi a palavra de ordem numa atuação à Corpus Christii.
Os Destroyers of All brindaram a assistência com o seu death metal progressivo rasgadinho. Estes conimbricenses não só focaram a sua atuação no seu último trabalho “The Vile Manifesto”, editado este ano, como também prepararam o setlist de forma a que se encontrasse alinhado com esse mesmo álbum. Até à quarta música a sequência foi a mesma, altura em que introduziram “Hate Through Violence”, tema do anterior álbum, “Bleak Fragments”. Dos sete temas tocados pelos Destroyers of All, apenas dois não pertencem ao seu último registo. A banda ainda viajou no tempo até 2013, onde foi buscar ao seu EP de estreia, “Into the Fire”, a faixa que lhe dá nome. Antes de se despedirem, o vocalista João Mateus lembrou com saudade a anterior passagem dos Destroyers of All por aquele festival, dizendo ser sempre uma honra tocar ali.
Havia uma certa curiosidade sobre o concerto dos Gwydion. Ainda estava na memória de muitos o fantástico concerto que tinham dado recentemente no Back to Skull e, sabendo que são uma banda que tem um certo número de seguidores, que faz questão de os acompanhar nos seus concertos, a expectativa era elevada. A noite já ia longa quando subiram ao palco (a baterista Marta fazia-o pela segunda vez, já lá tinha estado anteriormente com os Dharma), porém, era evidente a falta de um elemento. A meio da atuação foi explicado que, por problemas pessoais, o baixista Bruno não poderia estar presente. A entrega de todos os elementos fez com que a sua ausência fosse minimizada e assim que começaram a tocar, o público focou-se na festa que se fazia e esqueceu o assunto. O tema “793” e “Thirteen Days” funcionam na perfeição, com o público a participar, cantando e sempre em movimento, “dançando”, por vezes. O seu folk metal leva a que aconteça. Aliás, as músicas dos Gwydion pedem isso mesmo, muita interação com o público. “Strength Remains”, também do seu último álbum “Thirteen” foi outro perfeito exemplo da comunhão existente entra a banda e o seu público. Os concertos dos Gwydion são assim mesmo, muita comunicação, muita simpatia, como se não houvesse necessidade da existência de um palco, numa simbiose perfeita onde todos se divertem.
Por esta altura já o horário tinha “derrapado” um pouco, o que é natural dada a quantidade de bandas que já tinham passado por aquele palco. Apenas faltavam os Basement Torture Killings tentarem acabar com a pouca energia que por aquela altura existia entre o público. Na verdade, após os Gwydion terminarem, notou-se que alguma da assistência abandonou o recinto. Talvez não tenha sido a melhor decisão. Estes ingleses ofereceram aos resistentes um grande espetáculo de grindcore. Não foi apenas a sua música a fazer ter valido a pena assistir ao seu concerto, existe todo um teatro em volta da sua atuação que o torna interessante. Os seus quatro elementos parecem ter sido retirados de um filme de Rob Zombie. Beryl, a vocalista, surge vestida e maquilhada como se fosse uma boneca, sempre com um sorriso inocente no rosto e torna-se difícil de acreditar que é dela a voz que estamos a ouvir. Porém, sempre que não estava a cantar, divertia-se a estropiar um peluche que tinha levado consigo para o palco, ou bebia cerveja. A música dos Basement Torture Killings tem um ritmo frenético e todo o show envolvente captou imediatamente a atenção dos presentes. A atuação da restante banda foi também muito boa. As entradas para os temas eram dadas pela bateria, quatro batidas rápidas e seguiam para outro tema, sem paragens, sem conversas. Foram onze temas em pouco mais de meia hora.
Em jeito de balanço final podemos dizer que esta edição do Oeste Underground Fest foi bastante satisfatória em termos de afluência de público, tal como já tem sido hábito em anos anteriores. As bandas encontradas pela organização para figurar no cartaz levam a que assim seja. Elas revelam uma preocupação existente em aliar qualidade e diversidade de estilos, dentro do que é considerado como música pesada, algo que é também característico deste festival e se saúda.
Texto por António Rodrigues
A Metal Imperium agradece à organização do Oeste Underground Fest