O mais recente álbum dos Moonspell, “1755”, lançado em 2017, pode já não ser uma novidade. Porém, o facto de a banda ter iniciado recentemente uma tour europeia com cerca de 50 espetáculos, que visam precisamente promover esse trabalho, pode ter surpreendido os mais distraídos. A turné arrancou em Hamburgo no passado dia 24 de outubro e Portugal foi contemplado com duas datas. Dia 4 de novembro no Hard Club no Porto e no dia seguinte em Lisboa, no Capitólio. Nós estivemos presentes na segunda.
Mesmo sendo uma banda que já não tem nada a provar dentro do heavy metal, os Moonspell pretendem sempre ir mais além. Poderiam ficar a repousar sobre o sucesso de que gozam, editando álbuns em que a fórmula seria sempre semelhante e garantiria bons resultados, à partida, mas recusam-se a fazê-lo. “1755” é um claro exemplo de que a banda pretende sempre mais. Embora cantar em português não seja propriamente uma novidade para eles, nunca o tinham feito ao longo de todo um álbum como acontece em “1755”. Para dificultar ainda mais as coisas, decidiram compô-lo todo em volta de um tema, que aborda a maior tragédia ocorrida em solo nacional, ou seja, o terramoto de 1755. A acompanhá-los nesta tour estão duas bandas com um som bastante distinto. Os suíços Silver Dust com o seu metal gótico, praticamente desconhecidos em Portugal e os já consagrados gregos Rotting Christ, com o seu black metal.
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Eram 20h30 quando começaram a sua atuação para um Capitólio que já se encontrava cheio. Houve quem dispensasse a atuação dos Silver Dust, mas não a dos Rotting Christ. Não foi, no entanto, com nenhuma faixa de “The Heretics” que iniciaram o concerto, mas sim com o tema “Χ ξ ς”, muitas vezes escolhida para primeira música dos seus espetáculos. Tivemos que esperar até ao terceiro tema para que chegassem ao último trabalho. “Fire, God and Fear” foi o escolhido. O público parecia rendido à atuação dos Rotting Christ e a banda aparentava estar a gozar cada minuto em palco, tal era a entrega dos seus elementos. “Κατά τον δαίμονα του εαυτού” veio provar que a noite não era mesmo para promover “The Heretics”, longe disso. Os seus clássicos foram o prato principal, apenas interrompidos aqui e ali pelos novos temas. A seguir a “Dies Irae”, uma das poucas músicas novas, ouve tempo para “Forest of n´Gai”, “Societas Satanas”, “Grandis Spiritus Diavolos”, “The Call of the Aethyr” e claro, “King of a Stellar War”, seguido de “Non Serviam”. Atuação segura dos Rotting Christ que, com a sua entrega, conseguiu conquistar o público, embora tocando poucos dos seus temas novos.
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Quem se deslocou ao Capitólio naquela terça-feira, ainda não se encontrava completamente satisfeito. O concerto não poderia ter já terminado e por isso houve que chamar pelos Moonspell, para que eles regressassem. A banda assentiu e aproveitou para retomar o álbum “1755” através do tema “Todos os Santos”. Seguiu-se a surpresa “Trebaruna”, que segundo Fernando Ribeiro não estava no set list para aquela noite e, por fim, “Full Moon Madness”, pois estes lobos, que foram homens, tinham que se retirar. Durante a atuação dos Moonspell, Fernando Ribeiro falou sobre a importância de tocar em Portugal. Segundo ele, é aqui que o conjunto renova as energias para enfrentar a tour. Muito aplaudidos, de falta de apoio os Moonspell não se podem certamente queixar. Com fãs em todo o mundo, eles sabem que é em solo português que são mais acarinhados. Talvez devido à partilha da nacionalidade.
Uma palavra final para a banda que esteve toda ela muito bem e pareceu dar tudo o que tinha. Não querendo individualizar, a forma como os solos de guitarra de Ricardo Amorim parecem hipnotizar o público, só é explicável pela beleza dos mesmos aliada à qualidade da sua execução. Os Moonspell prometeram um novo álbum de originais para o ano de 2020. Vamos aguardar ansiosamente por ele e pela consequente turné.
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Daniela Jácome Lima
Agradecimentos: Prime Artists