35 anos de “Victim of Pain” merecem decididamente ser assinalados. Os Agnostic Front encontram-se em digressão para isso mesmo, celebrar o lançamento deste mítico álbum que ocorreu no longínquo ano de 1984 e que foi também o seu primeiro. Paralelamente, existe também “Get Loud”, um álbum lançado à menos de um mês, para mostrar ao público português, assim como, mãos cheias de clássicos acumulados ao longo de toda a sua carreira e que se tornaram obrigatórios nos seus concertos. Demasiados motivos de interesse contribuíram para que o RCA Club revelasse ser pequeno, face à afluência de público que esgotou a sala. A acompanhá-los nesta noite de quinta-feira tivemos os portugueses Shame on You Humans e os Mordaça.


Os Shame on You Humans foram a primeira surpresa da noite. Esta banda, que se encontra a dar os seus primeiros passos, teve aqui mais uma oportunidade de luxo para dar a conhecer a sua música e aproveitou-a da melhor forma. A banda fez a sua entrada ao som de uma sirene de alarme que se fez ouvir no RCA e apesar de a sala se encontrar longe da sua lotação, teve o condão de levar o público presente a aproximar-se do palco. Aos primeiros acordes de “Sybuya”, o interesse foi crescendo e verificou-se que não estávamos perante uma banda qualquer. Cheios de atitude, os SoYH vieram de Sintra e mostraram ter excelentes músicos na sua formação.
Um guitarrista e um baixista com irreverencia q.b., que são devidamente apoiados pelo incansável Matos na bateria (que a desconjuntou literalmente nesta noite) e que se completam na perfeição, com a fortíssima voz de Bruno. Trinta minutos de punk pujante que terminaram ao som de “Atheist”. Sem dúvida uma banda a ter em atenção no futuro.
De seguida vieram os Mordaça. Mítica banda de Linda-a-Velha, o que já por si é uma referência, tinham lançado um EP no dia anterior. “Tiros Perdidos”, resulta da recuperação de alguns temas que tinham ficado na prateleira e que foram agora recuperados para a edição deste EP, como por exemplo “Brinca Brincando”. Das melhores bandas de hardcore com qualidade feito em Portugal, os Mordaça não vieram de longe e jogavam praticamente em casa. Tocaram para uma audiência que estava perfeitamente familiarizada com a sua música e que não só a cantava como a sentia. O novo trabalho foi visitado por várias vezes, mas os seus temas mais clássicos foram também eles tocados, como “Tiro Pela Culatra” e “Demência”. Atuação enérgica a dos Mordaça, com bastante stage diving a acontecer por parte do público, principalmente na segunda metade da sua atuação, que, diga-se, não foi longa. Trinta minutos de puro hardcore, descarregados com fúria suficiente para uma audiência que, por esta altura, já enchia o RCA. Faltavam ainda os cabeças de cartaz deste evento, mas os Mordaça, foram uns dignos representantes do hardcore nacional nesta noite.

Texto por António Rodrigues
Fotografia por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Amazing Events e Solange Bonifácio

Foi precisamente com um tema do seu novo trabalho “Get Loud” que os nova iorquinos iniciaram o concerto desta noite. A instrumental “AF Stomp” serviu de introdução para a primeira descarga de malhas retiradas de “Victim in Pain” e o público não perdeu tempo em subir ao palco para fazer stage diving. Foi assim do primeiro ao último minuto. Este concerto não era para fracos e a audiência parecia em ebulição. Altura certa para viajar a dois temas da década passada, antes de voltar novamente a mergulhar no novo álbum com “I Remember”. “Victim in Pain” foi por diversas vezes visitado e dele foram retirados tantos temas que acabou por ser quase tocado na integra. O concerto encaminhava-se rapidamente para o final, depressa demais mesmo. Houve ainda tempo para “Crucified”, a cover dos Iron Cross que invariavelmente consta no setlist dos Agnostic Front com o vocalista a pedir mosh pit. A banda convidou ainda todas as mulheres a subirem ao palco antes de tocarem o tema “Gotta Go”. Era a vez de serem elas a fazerem stage diving, segundo Roger Miret que logo de seguida informou os presentes que se encontrava doente, não podendo por isso alongar o concerto conforme gostaria de fazer se estivesse em condições normais. Os Agnostic Front ainda voltaram para interpretarem “Addiction” e terminarem com mais uma cover. Desta vez “Blitzkrieg Bop” dos Ramones.
A Amazing Events conseguiu realizar, mais uma vez, um ótimo concerto e os fãs de punk e hardcore portugueses provaram novamente que acorrem em massa, quando aliciados por um bom cartaz. Apesar dos anos em que se encontram no ativo, os Agnostic Front mantêm a estaleca necessária para darem concertos deste tipo, noite após noite. A sua prestação foi de muita entrega e com certeza que numa próxima visita ao nosso país, o público saberá dizer novamente “presente”.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Amazing Events e Solange Bonifácio