Confesso que considero corajosas todas as bandas nacionais que, ao invés de optarem pelo caminho mais fácil, cantando os seus temas em inglês, onde tudo parece rimar e fazer sentido, apostam em fazê-lo na língua de Camões, com todas as dificuldades e consequências que essa decisão acarreta. Os lisboetas My Master The Sun são esse tipo de banda e escolheram jogar nesse campeonato. Apesar de o nome ser inglês, não se deixem enganar, é em português que eles se expressam nas suas composições.
Após três anos de interregno, vai ser finalmente lançado, no próximo dia 11 de novembro, o mais recente trabalho desta banda, que se intitula “1000 Ogivas de Fel Cairão Sobre Ti”. A Metal Imperium já teve oportunidade de o escutar e pode dizer que fizeram um bom álbum de doom metal, ao qual que misturaram a dose certa de rock sludge/stoner. As letras das músicas, tal como tinham feito no LP anterior, procuram abrir os olhos aos ouvintes, tocando no nervo social. Alertá-los e fazê-los pensar, encaminhando-os para a introspeção.
“O que não me mata torna-me muito mais fraco”. É assim que inicia “Fraco”, primeiro avanço deste novo álbum e que já foi dado a conhecer pela banda, no passado dia 24 de setembro. A mensagem é direta e curta, para se encaixar nesta primeira faixa, de apenas 90 segundos. É, porém, no tema seguinte, que a voz de Ricardo Falé melhor expressa rancor, destilando ódio em cada palavra de “1000 Ogivas”.
O tema “Uma” tem também ele uma letra muito interessante. Velocidade da luz, saltos quânticos, matéria negra, o infinito. Palavras que poderiam ter sido retiradas de um qualquer livro de Stephen Hawkings, para no final terminarem o tema dizendo que “Todo o universo não chega para nós”, seguido de um riff de guitarra muito aliciante, em que também ela se parece lamentar. “O Dia Em Que O Tempo Parou” é um tema que, apesar de instrumental, consegue ser pesado e sombrio, como praticamente todo o álbum.
Todo este trabalho é bastante negativo, negro e não nos oferece mensagens de esperança nem soluções. O conceito é precisamente esse. Todo o instrumental vai também nesse sentido. Música pesada que se arrasta por vezes. A exceção é feita em “Quartelmotel”, faixa mais rápida deste trabalho, para logo nos dois temas seguintes, os My Master The Sun regressarem ao seu som característico, em “Queda Livre” e “Apneia”. A primeira mais calma, a segunda mais musculada, ambas grandes malhas.
“1000 Ogivas de Fel Cairão Sobre Ti” é um murro no estômago. Não se limita a ser obscuro, lembrando desilusões. Com este álbum os My Master The Sun não pretendem causar depressão a ninguém. Eles vão mais além e inspiram revolta. É para aí que canalizam toda a raiva que emana deste trabalho, contra o conformismo.
Este novo trabalho dos My Master The Sun tem edição da Raging Planet e será apresentado em concerto, no próximo dia 16 de novembro, no Sabotage Club. Esse evento irá servir igualmente, para darem a conhecer aos seus seguidores o seu novo guitarrista, Sérgio Barata. De seguida, a banda andará pelo país a promover “1000 Ogivas de Fel Cairão Sobre Ti”, tendo já uma série de concertos agendados.
Nota: 8.4/10
Review por António Rodrigues