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Mizmor - "Cairn" Review


A abertura melancólica de guitarra acústica de “Desert of Absurdity”, seguida de um riff de guitarra esperançoso a relembrar Alcest, quase leva o ouvinte a pensar que “Cairn” é uma viagem convidativa, mas as letras de A.L.N. (mentor e único instrumentista de estúdio) relembram que, efectivamente, estamos perante a travessia de um deserto imperdoável.

Falo de viagem, pois este novo álbum dos Mizmor foi concebido como um álbum conceptual, que conta a história de uma viagem por parte do seu intérprete (o próprio A.L.N., como poderá ser comprovado numa entrevista online realizada a Emma Ruth Rundle). Uma viagem espiritual, mas difícil, como a voz comprova, oscilando entre grunhidos, gritos ou simples recitação (ainda que em tom agressivo), sendo que a calma apenas surge entre as passagens de guitarra sem distorção. E assim se encerra a faixa de abertura deste álbum, quase com a mesma paz com que começa, mas com a tensão e o perigo já instalados no ouvinte.

O segundo local de confronto espiritual de A.L.N., “Cairn to God”, trata-se de  um tema que começa lento quase como um drone dos Sunn 0))), com a bateria e os gritos a contribuírem para uma atmosfera doom cada vez mais pesada. A própria voz parece influenciada por David Vincent (ex-Morbid Angel, actual Vltimas), adequada a um tema que fala do confronto de uma crença espiritual com a morte de Deus (cairn designa um tipo de sepultura ancestral). A tensão dispersa-se em distorção, antes de ser retomada para o último verso do tema.

“Cairn to Suicide”, retoma a atmosfera mais inquietante do primeiro tema (a relembrar Alcest na sua fase mais pesada), com o confronto lírico, desta vez com a possibilidade do suicídio como alternativa a Deus, mas que é descartada à medida que o intérprete prossegue a sua viagem.

O último tema, “The Narrowing Way”, começa com um som de tempestade e um drone de guitarra a lembrar Earth, e que, mesmo quando a bateria e segunda guitarra entram, se mantém (recordando os temas mais negros dos Red Sparowes). A voz entra tortuosa (num registo a lembrar George Clarke dos Deafheaven), com os restantes instrumentos a aumentarem gradualmente a parede sonora que a apoia. O drone de voz e feedback de guitarra que marcam os momentos finais do disco, são por si um momento meditativo que embala o ouvinte, após um tema bastante pesado e opressivo.

Por fim, há que destacar a exímia execução instrumental do disco, desde a bateria em “Desert of Absurdity”, ao baixo que sobressai em “Cairn to god”, à utilização de guitarras acústicas em pontos-chave de “Cairn to Suicide”, passando pela transição instrumental entre tema e pelas variações de dinâmicas em cada tema. 

Concluindo, “Cairn” é um álbum de black metal conceptual, único e pessoal que se destaca pela sua complexidade tanto lírica como instrumental, e poderá ser melhor experienciado como uma viagem ininterrupta, cada tema a funcionar como uma etapa da mesma.

Nota: 9/10

Review por Raúl Avelar