Após seis lançamentos, demos e EP's, com uma relativa visibilidade no undergroud, e 3 anos após o seu último lançamento, estes austríacos regressam com o seu muito aguardado álbum de estreia. Sob o selo da notória Terratur Possessions, os Kringa revelaram para o mundo o seu primeiro longa-duração e o maior feito da discografia da banda, ao mesmo tempo que apresentaram o álbum de outra com quem partilham membros, Hagzissa, e ainda conjuraram um lançamento debaixo do véu do seu projeto mais negro, Alruna.
Focando-nos em Kringa. Com este projeto, a banda retorna com uma fórmula mais refinada do seu som, fórmula essa que não transgride os cânones do Black Metal mas ao mesmo tempo não se limita a segui-los. Em vez disso, os Kringa caminham paralelamente a essas delineações do género, conseguindo moldá-las à sua visão, com os seus dotes de songwriting, pervertendo mentes e devorando a luz enquanto que conjuram extásicas reverências ao oculto.
Poucas bandas no underground do género têm a intensidade que os Kringa apresentam, quer em palco, quer em estúdio, de uma forma tão honesta e singela que não parece nada forçada. O ouvinte podia invocar o termo "teatralidade", para descrever a expressividade dos vocais, os berros de Vritra, mais graves, extáticos em "Unwind the Gap Anew!", que soam a um profeta senil a pregar sobre a aniquilação do reino dos vivos ou a tentar contactar aqueles que vivem para lá deste plano de existência, mas a verdade é que a insanidade está tão presente, a execução é tão brilhante, que nada soa mais genuíno. Estes vocais, conjugados com os vocais mais ríspidos e agudos de Berstuk, produzem momentos de genuína êxtase e insanidade.
As guitarras são cortantes e cristalinas. Desdes as licks com melodias abismais, às atmosferas de incenso criadas pelos riffs mais atmosféricos de "Eroding Passage" ou "Eyes of Stone", é de notar também a forte influência de Punk no som dos Kringa (tanto é óbvio que os membros da banda têm alguns projetos de Punk), com a forte frequência de riffs catchy e do "tum-pa tum-pa" na bateria, que nunca leva a banda por caminhos mais luminosos. Até mesmo o início de "Cloak of Unbound Fears", com um riff muito agradável, melódico, que quase podia ter saído de uma banda de Stoner, ao ser sobreposto pelos vocais em transe de Vritra, abre caminho para uma das faixas mais extáticas do álbum, sempre catchy mas em crescendo, um transe que termina na eclesiástica fase final de comunhão com o abismo.
Os Kringa jogam aqui todas as cartas que têm, e mostram um culminar da sua carreira musical, que tem vindo a melhorar de lançamento em lançamento. Sem dúvida um dos projetos mais interessantes do Black Metal atual, que, ao contrário de muitos projetos do underground contemporâneo, não precisa de estética nem fantochadas para vingar.
Nota: 9/10
Nota: 9/10
Review por Filipe Mendes