A Bay Area, conhecida como o berço e o emergir de uma nova dinâmica musical, desenraigada da cena metal, com raízes profundas no hard blues e o psicadelismo, demonstra o lado dissidente, contestatário e insubordinante, como resposta à exuberância e laxividade da cena glam metal, dos anos 80. Assim surge, décadas mais tarde, os Black Passage, que pouco ou nada se encaixam num padrão, caracterizam-se pela diferenca, evidenciando uma diversidade de influências e tentando coadunar um equilibrio entre o metal mais moderno e toques quase imperceptíveis de death metal mais melódico, dando destaque a Opeth.
Os seus membros, procedentes e oriundos das mais diversas bandas, como Wolf King, Behold The Desecration e Fallujah, provam que com esta banda é possivel cruzar modernidade, com brutalidade e por conseguinte suavidade, tendo como bases, referidas anteriormente, o Metal Moderno e Metalcore.
Uma das questões que podem emergir, aquando deparado com uma banda como os Black Passage, é a possível rejeição, ou repulsa inicial, um primeiro embate com esta sonoridade, muito própria, com uma produção que outorga aos possíveis ouvintes, uma clareza e limpidez na parte instrumental.
O álbum "The Veil" talvez possa pecar pela simplicidade, ou mesmo uma candura evidente em grande parte das faixas, se considerarmos que prevalece o mesmo ritmo, pouco ou nada transgride, tem passagens quase prevísiveis, havendo com uma certa parcimónia o uso do duplo pedal. Interessante e concomitantemente paradoxal, os vocais deambulam entre um gutural e uma brandura quase apagada, e uma voz que remete a vocais muito simililares a Paul Masvidal dos Cynic. Um dos exemplos que evidenciam este extremismo de opostos, são os vocais nas faixas "Lamenting Ghost" e "Left To Hate", com uma dualidade entre um gutural levado ao limite e um vocal que quase embala o ouvinte.
Desafiante e corajoso, sem dúvida uma forma de abraçar novas inclinações, expressividades e texturas tão dissonantes entre si. Brutalidade que muitas vezes é um tanto comedida, interrompida com passagens mais arastadas, motivadas pela vocalidade, como reiterado anteriormente a Cynic e um tanto a Chino Moreno dos Deftones. Sobressai-se a "Left To Haste", com toques subtis de Opeth, sendo que no decorrer da mesma é inevitável não mencionar algumas influências de Messhugah. A "Table Turns" é movida por uma bateria seca, pedal duplo comedido e ponderado, e gutural, de mãos dadas com a suavidade vocal, análoga numa primeira audição a Corey Taylor.
A salientar é a inexistência e a inocuidade do baixo, que se demonstra irrelevante em todo o álbum. Outro aspecto relevante é o embate com modernidade sonora, guitarras trabalhadas, mas não à exaustão, bastante simplórias, padronizadas, sendo que por vezes emerge uma certa certa intrepidez, denodo e audácia nas guitarrras, mais uma vez remetendo a Opeth, sem dúvida.
Na sua generalidade, o álbum "The Veil", congraça o moderno com a agressividade bem "temperada", na totalidade do álbum. De modo algum se revela como avassalador, demonstrando-se grande parte das vezes uniforme em si, com receio de variâncias que poderiam ser existentes neste trabalho. Ousadia e audácia em privação, pouco transgressor e desenfreado, mas pesado e sólido. Adjetivos que criticam e ao mesmo dão credibilidade a uma banda, que pouco ou nada se encaixa na sonoridade atual, tendo como fontes criativas ambundantes o Metalcore Melódico.
Um grande desafio talvez para os convencionais ouvintes de um Metal mais tradicional, ou mais extremista, é considerar este álbum como um exercicíco para os ouvidos mais conservadores, temerosos e receosos em sair da sua bolha de conforto, admitindo que o peso e a agressividade podem ter uma forma não tão convencional e inflexivelmente ortodoxa de ser expressa, compreendendo uma diversidade e multiplicidade de influências, no modo como "arquitectam" a sua sonoridade.
Nota: 6/10
Review por Norberto Seck