Caldas da Rainha continua a demonstrar grande dinamismo, no que toca à divulgação de projectos musicais. Uma das pessoas que mais tem ajudado nesta tarefa é Diogo Pé de Ladrão, que tem criado nos silos da cidade, um pólo cultural como poucos... Este ano, o festival por ele criado celebra a sua 4ª edição e voltou a receber um cartaz bastante eclético e diversificado, com sonoridades Metal, Punk, Hardcore ou Crust/Grind.
A edição deste ano começou com o fastcore dos Antinomia, banda oriunda do Porto que conta com membros de Back Alley Lobotomy e Discórdia. Chamados para substituir os Afta, conseguiram aquecer o ainda reduzido público que ia chegando aos Silos. É interessante ver a juventude dos seus integrantes, o que parece demonstrar que temos um underground vivo e borbulhante.
De Coimbra vieram os Carne pa Canhão, sempre um favorito do público underground, face à performance sempre dinâmica do Umbra, com os adereços intermináveis a ilustrar cada tema. Com temas maioritariamente anarquistas, apresentavam nas Caldas o novo CD "Síndrome de Revolta", com "Carne pa Canhão" a iniciar a actuação, seguindo na quase perfeição o alinhamento do disco. Entre chapéus de chuva, capacetes militares com chifres ou seringas com líquidos de proveniências dúbias, foram desfilando temas como "Classe Operária", "Eles Andam Aí" ou "Toxinas".
O hardcore não podia faltar e os Not Enough pegaram naquilo que a banda anterior tinha feito e continuaram a fazer mexer a plateia. A banda da capital apresentou a sua demo de 2016, misturada com temas mais antigos. Ficou na retina o arranque com "Our Own Fight" e em especial "Vultures" e "Bonds", numa excelente actuação.
Também de Lisboa chegaram os Atomkrig e o seu crust d-beat ao estilo dos grandes Discharge. Som sujo e agressivo numa prestação agridoce, pois tal como a conhecemos, a banda acabou nas Caldas a sua atividade, com o Sérgio e o Pawel a terem de seguir por outros caminhos, que a vida assim decidiu. Para quem assistiu a esta derradeira etapa, ficam na memória temas como "Fire and Brimstone" - a abrir a prestação -, "Left For Dead", "Echo Brains" o "This is War", terminando esta viagem com o clássico dos Doom, "Natural Abuse". Já estamos com saudades...
Os BORF trouxeram o Hardcore Power Violence da Cidade Invicta, com João Forte a fazer juz ao seu apelido. Presença musculada plena de raiva interior, enquanto eram debitados temas como "Sleep" e "Loss" bem recebidos por uma plateia que compunha bem o novo espaço deste festival.
Dos Konad acabam por faltar palavras. São duas décadas de punk com cheirinho a crust, para a banda de Vila Franca de Xira, sempre seguidos por uma falange de apoio que faz a festa onde quer que vão. Com um novo disco a rebentar por aí, a banda liderada por Kampino foi igual a si própria, com "Vlad" e "Irae Dei" do disco de 2015, a arrancar a melhor actuação do festival. Mas não demorou muito a termos surpresas, com o avanço do novo disco a chegar com "Release Yourself", a demonstrar que vem aí disco com o inglês a fazer parte integrante, facto que demonstra a tentativa de internacionalização da banda. Já merecem!! "Inverno Nuclear" e "Death Bombs" fecharam com chave de ouro a actuação dos ribatejanos.
Quase na recta final da edição deste ano do Pé de Ladrão Fest, os Diabolical Mental State entraram em palco, em substituição dos Cruelist. A banda que deixou já de ser uma promessa, para ser uma certeza no metal/hardcore arrancou com "Long Way Down" e "The Village", faixas que a plateia reconhece e acompanha com muito mosh em frente ao palco. Sempre acompanhados por membros da sua Diabolical Crew, a quem invariavelmente dedicam a faixa com o mesmo nome, os DMS lutaram com problemas técnicos ao longo da atuação mas nunca esmoreceram nem perderam a pica de ali estar. O final com "Home Invasion" fez saber a pouco, mas com tantas bandas ao longo da tarde/noite acaba por ser normal um set mais contido. Mais um grande concerto de Apache e companhia.
O final do festival veio com os Vai-te Foder, banda que desde 2003 mostra o seu crust desde a cidade dos Arcebispos, Braga. O quinteto toca rápido e bem, encaixando as suas faixas como se de um rolo compressor a nitrogénio se tratasse. "Realidades da Miséria" e "Sem Futuro" iniciaram a batalha vocal entre Paulo e Patife, os dois vocalistas de serviço, e a plateia mostrou-se conhecedora e disposta para gastar ali o resto da energia. Com um alinhamento que dividia as músicas a tocar com "pausas para falar e beber", foram 50 minutos de suor e agressividade, mas no bom sentido.
Venha a edição de 2020, Diogo! Parabéns!
Texto e fotos: Vasco Rodrigues
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Agradecimentos: Pé de Ladrão Booking