Quem seja conhecedor do estilo musical destes senhores sabe que eles tocam algo que se enquadra no Funeral Doom Metal. Foi assim com os seus dois primeiros álbuns e é assim também com “Terrene”, que será lançado no próximo dia 29 de novembro e que sendo um álbum conceptual, pretende dar continuidade ao que havia sido iniciado com o antecessor, “S”, de 2017.
Neste novo trabalho, no entanto, os Mesmur apresentam-nos algo de diferente em relação aos anteriores, sobretudo ao primeiro. Esta banda que conta com elementos oriundos dos Estados Unidos, Austrália e ainda Itália, continua a praticar um som “sujo”, fazendo uso de uma voz “cavernosa” também. O ritmo, esse, consegue ser ainda mais mórbido, lento em grande parte dos temas, mas sem nunca se tornar monótono. As 4 faixas que compõem o álbum são longas, não havendo nenhuma com menos de 11 minutos.
A novidade surge nos contrastes que conseguem proporcionar. Logo no primeiro tema, “Terra Ishtar”, conseguimos ouvir propositadamente os dedos de Jeremy L, percorrendo as cordas da sua guitarra na mudança de acordes, transmitindo-nos a sensação de um som cru. Porém, a meio dessa mesma faixa, somos transportados para um ambiente celestial, onde podemos escutar a violoncelista convidada Nadia Avanesova, para logo de seguida sermos empurrados de novo para a escuridão inicial.
Na segunda faixa, “Babylon”, somos surpreendidos por uns teclados hipnotizantes, que são progressivamente substituídos pela obscuridade característica desta banda, para voltarem a surgir no final, completando o ciclo.
Nas restantes faixas estes contrastes mantêm-se. Podem surgir através de um trabalho de bateria que pode parecer estar paralelo à música, fora dela, ou dos sintetizadores, rompendo momentaneamente com aquele arrastar pesado que o som da guitarra oferece, quando acompanhado por aquela batida lenta. São como nesgas de luz que nos são dadas no timing certo para nos tirarem momentaneamente da mais completa escuridão, mas que rapidamente fogem, deixando-nos novamente mergulhados na bruma.
Os Mesmur esforçaram-se para nos oferecerem um digno sucessor de “S”. A participação, neste álbum de Don Zaros, teclista dos Evoken é disso exemplo. Também o cuidado com a apresentação visual é demonstrativo desse objetivo, para isso, recrutaram o pintor ucraniano Cadaversky que fez um fantástico trabalho para a capa do álbum.
Os conhecedores dos anteriores trabalhos dos Mesmur vão certamente verificar que a tentativa feita em “S”, para se distanciarem do som que caracterizou o primeiro álbum, foi agora completamente conseguida. “Terrene” é um digno sucessor de “S” e embora possa não surpreender os apreciadores de Doom Metal, não deixa por isso de ser consistente e não irá desiludir ninguém certamente.
Review por António Rodrigues