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Reportagem Casainhos Fest 2019 - 31.08.2019


O final de Agosto marca para muitos o regresso ao trabalho depois de merecidas férias de Verão. Para a comunidade metálica nacional, marca também a romaria a uma pequena localidade no concelho de Loures, de seu nome Casaínhos, para aí assistir a um festival que já vai estando enraizado na agenda de muitos.


Na edição deste ano, o calor abrasador voltou a brindar todos com a sua presença, e quando os Crab Monsters subiram ao palco às 15 em ponto, a grande maioria do público presente “escondia-se” numa das sombras existentes no recinto. Com o sol de frente, a banda de Castelo Branco suou a camisola ao passar em revista o disco de estreia “High on Guts”, editado pela Hell Xis, arrancando com “Violent World” e fazendo logo ali início de celebração com a plateia. Destaque para as faixas “Welcome to Jail” e “Naked Alive”, a fazer os 30 minutos de actuação passar num instante.


Troca rápida de banda, com os H.P.S. (Hard Punk Spirit) a iniciar a sua prestação com “músicas que não lembram ao Diabo”, segundo o vocalista Vítor Libânio. O quinteto ainda dá os primeiros passos na cena punk nacional mas tem cativado quem os vê ao vivo, seja pela qualidade musical, atitude despreocupada ou letras divertidas. “Zombie Catita” arrancou a meia hora de actuação, sempre pincelada com toques de humor do vocalista, fosse na apresentação dos membros da banda como seus primos ou introduzindo a faixa “HPS” como “Hoje Perdi os Sapatos”. Como alguém dizia na plateia já mais composta, estes gajos têm tudo para poder ir longe...


Pelas 16h30 foi altura de ouvir o vencedor do concurso de bandas de São João da Madeira, algo que é habitual no Casaínhos Fest e que faz sempre com que venha um autocarro de fieis seguidores dos sons pesados do norte do país. Este ano coube aos Maxila representar esse concurso de bandas e o sludge do trio mostrou qualidade perante um ambiente visivelmente indiferente a esta sonoridade. Apesar disso não faltou apoio à banda que junta ex-membros dos EAK. O desconhecimento do seu som, virtude da juventude da banda, também ajudou a que muitos decidissem ficar pela área de restauração.


Público caloroso não faltou aos The Year, que se estreavam no Casainhos Fest e que partiram para uma grande actuação, alicerçada no EP “Beasts” editado o ano passado pela Hell Xis. O hardcore marca sempre presença neste festival, e com Devil In Me no cartaz eram já muitos os amantes desse tipo de som que marcavam presença na plateia. “Bastion”foi o ponto alto de uma actuação onde a dado momento o vocalista João Correia decidiu fazer a festa junto do circle pit em frente ao palco. A poeira começava finalmente a levantar.


E poeira não faltou na prestação dos HoChiMinh. A banda de  Beja tem um enorme grupo de fãs e sempre que aparece pela capital é a loucura. Embora esta tivesse sido a última actuação do baterista, Pina, João Ramos e companhia decidiram despedir-se dele com uma das melhores performances que me lembro, de tal forma que até o irrequieto vocalista teve direito a crowdsurfing. Nenhuma novidade no alinhamento nem na valia dos instrumentistas em cima de palco, a mostrar bem que merecem o culto que têm obtido. Resta agora esperar pelo novo disco, que resultou de uma sensacional campanha de crowd funding.


E se João dos HoChiMinh fez crowdsurfing, também Nuno Rodrigues dos We Are Killing Ourselves teve o mesmo direito. A banda de Almeirim não deixou ninguém descansado durante os 40 minutos que esteve em palco, saltando e fazendo saltar, quer quando tocava material mais velhinho quer com o excelente novo tema “Perish”. Com novo disco no prelo, o futuro parece risonho para os WAKO.


Com o sol abrasador finalmente a bater em retirada e o recinto muito bem composto, foi tempo de receber a primeira das duas bandas internacionais desta edição do Casaínhos Fest. Os dinamarqueses Hatesphere mostraram o seu death/thrash a um público muito participativo, sempre acicatado por Esben, que estava constantemente a pedir ainda mais empenho. “Reduced to Flesh”, editado o ano passado, é um excelente disco e foi dele que saíram os destaques da noite, com “Can of Worms” à frente de quaisquer outras, antes de convidarem para palco Raça dos Revolution Within para “Sickness Within” de 2005.


Com os amantes do thrash a guardarem energias para mais tarde, foi a vez dos punks tomarem de assalto a frente de palco. Primeiro para testemunhar o regresso a Casaínhos dos Devil In Me, onde em 2017 tinham posto um ponto final na sua carreira. Felizmente a banda de Poli Correia regressou este ano com energia renovada e deu talvez o concerto da noite. Incansáveis, não deram tréguas à plateia, especialmente em clássicos como “Soul Rebel” e “Knowledge Is Power”, e mostrando um pouco do futuro próximo, com “Celebration”.


Dos Tara Perdida não é preciso relembrar a sua importância no panorama musical português. Eles transcendem o universo punk rock e são hoje acarinhados por milhares de norte a sul do país. Com uma legião de fãs militante – bastava ver a quantidade de t-shirts da banda que a plateia envergava – e que os segue por toda a parte, eram eles que a maioria ali estava para ver. Mas antes, a organização do evento subiu ao palco juntamente com um representante da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Loures, para agradecer a presença de todos, naquilo que representa um carimbo de apoio ao evento por parte da autarquia.


Mas vamos ao que interessa, que foi a prestação dos Tara Perdida. Cinco estrelas, como habitualmente, percorrendo toda a discografia da banda nos 90 minutos que lhes foram atribuídos. Com novo disco este ano, “Reza”, a banda de Ruka e Ganso não deixou os clássicos da era João Ribas de lado, com a voz de Tiago Afonso a ecoar pelo recinto como uma locomotiva a mil à hora. Os destaques ficam difíceis numa banda tão boa como os Tara, mas clássicos são clássicos, e “O que é que eu faço aqui”, “Jogar de novo e Arriscar”e “Desalinhado” foram um pouco melhores que os restantes.


Depois dos Tara Perdida, Casaínhos podia perfeitamente ter terminado ali. Mas para os thrashers ainda havia os espanhóis Angelus Apatrida para esgotar a energia que restava. “Cabaret de la Guillotine”, o último trabalho de originais, foi o destaque da apresentação da banda de Albacete, que não deixou de visitar toda a discografia, mas o frio que veio da serra e o cansaço de muitos fez com que não tivesse tido o impacto merecido. Mesmo assim, Guillermo e companhia tiveram muito mosh na frente do palco, que não deixaram que caísse o pano sobre o festival sem acarinhar a banda de nuestros hermanos.

Texto e fotos: Vasco Rodrigues
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Agradecimentos Casainhos Fest