Para o terceiro sábado de setembro estava agendada a terceira edição do festival Artilharia Pesada, que apresentou como já vem sendo hábito, um cartaz forte formado somente por bandas portuguesas, sendo de louvar o apoio que a Metals Alliance, promotora deste e de outros eventos, tem dado ao metal nacional ao longo da última década.
O thrash metal rápido e melódico dos Speedemon iniciou a tarde da melhor forma, tendo a banda de Vila Franca de Xira sido protagonista de um concerto enérgico e tecnicamente conseguido, com qualidade para em próximos eventos atuarem em posições bem mais acima nos cartazes. Temas do longa duração de estreia deste quarteto, editado este ano, como "King of the Road", "Wall of Pain", "Atrocity Divine" e "Thunderball" soaram bem ao vivo e o público, que ainda não era muito numeroso, mostrou-se agradado com a prestação do grupo. Tanto que aquando do vocalista da banda ter anunciado a última música, ouviu-se um dos espectadores a pedir mais três, o que reflete de certa forma o quão entusiasmante estava a ser o concerto.
Os algarvios Shadowmare não destoaram e protagonizaram um bom concerto, com uma sonoridade bastante distinta e mais modernizada do que a do grupo anterior. Vindos de Faro, trouxeram na bagagem os temas do seu disco de estreia "Shades of the Untold", lançado este ano e que apresenta um death metal melódico contemporâneo. Destacou-se a boa combinação entre o vocalista com um registo mais agressivo e a voz mais semi-melódica de um dos guitarristas, que dava mais enfase aos refrães. Esta é uma banda relativamente recente que acrescenta sangue novo ao metal nacional e que mostrou neste concerto que merece estar debaixo de olho. João Infante não se esqueceu de agradecer ao RCA Club e ao Hugo Fernandes da Metalsalliance pela oportunidade concedida aos Shadowmare de irem apresentar a sua música à capital.
Já os Karbonsoul são sobejamente conhecidos pelo público lisboeta que frequenta espetáculos underground. A banda onde pontuam Muffy e Rstein apresentou-se pela primeira vez como quintento, com a adição do guitarrista Fábio Mata, apresentado desde logo pela frontwoman do grupo. Esperamos que as novidades a partir de agora não se fiquem por aqui e que o grupo lance em breve o seu álbum de estreia, porque o potencial está bem patente nas músicas do grupo e as prestações de Karbonsoul apresentam-se cada vez mais coesas, como ficou demonstrado nesta atuação no RCA. Aguardamos por saber como vão evoluir musicalmente no seu primeiro longa-duração. Mafalda Hortas terminou esta mais que positiva atuação a cantar de joelhos e depois deitada. Era hora de descansar um pouco e jantar por isso o público teve direito a um intervalo grande para isso mesmo.
Depois de recompostos por esta pausa, os espectadores tiveram direito a um dos concertos mais explosivos da noite, que teve como protagonistas os Mass Disorder. A banda da margem sul do tejo levou ao RCA Club, o seu thrash moderno e poderosíssimo, mostrando claramente que pode vir a ser um dos expoentes máximos desse género, em Portugal. Não faltou a frase já célebre em salas de espetáculo portuguesas: "Bora lá caralho". O público percebeu a mensagem e divertiu-se. Mosh e headbang foram uma costante neste concerto, com os espectadores a corresponderem ao poder que estavam a ouvir. A banda apresentou vários temas do seu auspicioso álbum de estreia, "Conflagration", editado no ano passado e a resposta dos espectadores esteve à altura do mesmo.
Os Okkultist são uma banda recente, somente com três anos de existência, e que pese embora pareça ter algumas arestas para limar, assinaram contrato com a Alma Matter Records, a editora dos Moonspell, que viu potencial no death metal vocalizado no feminino, praticado pela banda lisboeta. Da parceria com a editora de Fernando Ribeiro e companhia já nasceu "Reinventing Evil", álbum lançado em março deste ano e que serviu de base para a atuação da banda de Beatriz Mariano. A cantora de death metal concentrou-se mais na sua performance do que na interação com o público, sendo que só no final do concerto dirigiu umas breves palavras de agradecimento para com todos os presentes. O death metal português tem futuro e uma das bandas dessa continuação dá por nome de Okkultist.
A Artilharia nesta noite era mesmo pesada e uma das grandes provas disso mesmo foram os Sacred Sin. A qualidade patenteada pelas bandas presentes neste evento que foi encabeçado pela banda de José Costa justificava a presença de bem mais do que a centena de pessoas que estiveram presentes mas quem esteve nesta noite, no RCA Club, a assistir a esta veterana e importante banda do metal nacional, juntamente com o sangue novo dos ótimos coletivos que tocaram antes, não ficou arrependido de ter comparecido. José Costa apelou a que se mantenha a união presente nos fãs de metal e destacou a presença de público presente no evento com t-shirts de sub-géneros tão distintos como de death metal, black metal e power metal. O discurso de união é bem relevante numa altura em que com as redes sociais se acentua o discurso nada construtivo para a cena, de pessoas que acham que o seu gosto é superior ao dos outros e de que só aquilo que ouvem é que é bom. No mínimo dá que pensar. O death metal negro e característico da conhecida banda portuguesa, que transparece facilmente o quanto se diverte a tocar ao vivo, tendo finalizado em grande a sua atuação e este festival com "Vipers - Rise From The Underground" tema que representa o presente do grupo e a "Darkside" clássico incontornável que representa o passado e a ascensão dos Sacred Sin.
Parabéns à Metals Alliance por ter reunido mais um ótimo conjunto de bandas e por continuar a fazer eventos deste calibre que se apresentam como uma mais-valia. Cá estaremos para quarta edição do Artilharia Pesada, que será seguramente mais um evento a não perder.
Texto por Mário Rodrigues
Fotografias por Diana F. Rodrigues
A Metal Imperium agradece à Metals Alliance