O sempre controverso Niklas Kvarforth tem um novo projecto de Avantgarde Black Metal chamado Lice. O álbum de estreia da banda "Woe Betide You" foi lançado no dia 10 de Maio e o baterista J, teve uma intensa conversa (em que não se poupou a críticas!) com a Metal Imperium ...
M.I. - Como é que esta banda se juntou?
O Niklas e eu conhecemo-nos há quase 20 anos, e isto foi sempre tema de conversa. Quando o Kirill se juntou há cerca de 6 anos, começamos a fazer música e a gravá-la.
M.I. - Como surgiu a ideia de chamar Lice à banda?
É um nome que eu tinha em mente há tempos, é simples e eficaz e o seu simbolismo é simplesmente perfeito.
M.I. - O comunicado de imprensa afirma que "Lice oferece exactamente o que é necessário na actual cena de metal: honestidade dolorosa". Achas que a cena de metal carece de honestidade? Em que sentido?
Eu não me importo muito com coisas como comunicados de imprensa, mas sim, a cena do metal é construída principalmente com falsa convicção, fé falsa, clientes falsos, praticantes falsos, artistas falsos, sons falsos, hipsters, posers, impostores e outsiders. Perdeu toda a sua graça.
M.I. – O Niklas disse que “por um lado, os Lice têm ligação ao antigo Black Metal norueguês, mas em outras partes, nota-se a influência de Joy Division ou Tom Petty. É um som meio f*dido”… como surgiu a ideia de misturar géneros musicais tão diferentes?
A música que fazemos nunca é preconcebida, vem naturalmente e organicamente, usamos todo o nosso conhecimento para transmitir certas mensagens, sentimentos e encantamentos de certas forças para os destinatários em busca.
M.I. – Quanto às letras, pode dizer-se que os Lice lidam com os mesmos temas que os Shining. Por que sentem a necessidade de abordar os vossos sentimentos através de um projecto diferente? Que mensagem estão a tentar transmitir com os Lice que ainda não transmitiram com outras bandas?
Então, de acordo com o teu raciocínio, todos os projectos de Black Metal devem ser considerados desnecessários, já que as letras lidam com os mesmos fundamentos centrais. Eu não acho que os Lice tenham muito em comum com qualquer uma das nossas outras bandas. A mensagem é muito clara... tens as letras, tens o visual e tens a música, usa o cérebro, não sejas preguiçosa e tira as tuas próprias conclusões.
M.I. - Qual é a relação entre a capa e o álbum "Woe betide you"?
Eu não entendo este tipo de pergunta, a obra de arte não é apenas uma peça aleatória, cada pequeno detalhe está lá por uma razão, do jeito que eu queria que fosse. Se a relação entre o título e a imagem não está clara para ti, bem... Talvez seja esse o problema, hoje em dia as pessoas precisam que tudo lhes seja alimentado em vez de investigarem e tirarem as suas próprias conclusões ...
M.I. - A gravação foi feita em 4 estúdios diferentes. Por quê?
Nós moramos longe uns dos outros, então foi uma questão de conveniência usar todos esses estúdios / sessões.
M.I. – Ter o Niklas na voz, numa nova banda como Lice, traz mais atenção ao projecto? Quão complicado é lidar com toda a atenção?
O Niklas não me interessa como ícone, temos objectivos comuns e ele é um artista excepcional com um alcance vocal muito amplo e a qualidade dele era necessária para transmitir a mensagem da maneira apropriada. Não nos importamos com coisas como a atenção ou a falta dela.
M.I. - És mais criativo sóbrio ou quando estás sob efeito de álcool ou drogas?
A minha criatividade não está ligada ao abuso de substâncias ou à falta delas.
M.I. - Já escreveste algo quando estavas sob a influência de algum tipo de substância e percebeste que tinhas criado algo fabulosos/horrível quando ficaste sóbrio?
Não.
M.I. - Achas que a maioria das bandas fala sobre coisas que não são capazes de fazer, que a cena é basicamente baseada em besteiras?
Facto correcto em 95% dos casos.
M.I. – O Niklas disse numa entrevista que "criou música que faria as pessoas cometerem suicídio e outros actos de violência". Estás ciente se isso já aconteceu? Se alguém realmente cometesse suicídio enquanto ouvia a tua música, não te sentirias culpado de alguma forma?
Eu não estou ciente disso. Não, eu não sentiria nenhuma culpa a esse respeito, as pessoas deveriam apropriar-se das suas acções / vidas.
M.I. - Achas que o suicídio é um acto de coragem ou um acto de covardia?
Depende das razões por trás do acto em si.
M.I. - Sempre foste autodestrutivo e a escuridão dentro de ti come tudo e todos ao teu redor. Já fizeste algum tipo de terapia para lidar com isso? A situação piorou ou melhorou com o tempo?
Acho que te referes ao Niklas ao fazer tais declarações, pois eu sou um indivíduo muito privado que não tem qualquer desejo de partilhar o seu íntimo. Penso que ser assim não é fixe, nem suficientemente chocante, mas tento evitar qualquer tipo de drama.
M.I. - Como é a tua relação com os fãs, mesmo sabendo que não és muito sociável? Alimentas-te da sua energia e paixão pela tua música?
Eu não tenho fãs porque ninguém me conhece, não quero fazer parte do circo, um impulso do ego não é algo que eu desejo. As pessoas devem concentrar-se no trabalho que lhes é apresentado e esquecer todo o resto.
M.I. - Se não fosses um músico que vive da música, o que serias?
Eu não vivo da minha música. Não quero comprometer certas coisas na minha vida, portanto, faço o que for preciso para manter as coisas do jeito que quero que elas sejam.
M.I. – Os Lice vão tocar ao vivo? Quando é que os fãs portugueses terão a oportunidade de vos ver tocar aqui?
Depende se houver interesse suficiente para justificar todo o esforço para que isso aconteça. Estamos abertos a essa possibilidade.
M.I. - Por favor, deixa uma mensagem aos fãs portugueses e leitores ao Metal Imperium. Que os Lice tenham muito sucesso!
Obrigado por nos receberem e esperamos ver-vos em breve.
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Entrevista por Sónia Fonseca