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Reportagem: Soen, Wheel, Ghost Iris @ RCA Club, Lisboa - 31/03/2019



No passado dia 31 de março, o RCA foi palco para os Soen. Liderados por Martin Lopez, encontravam-se a apresentar o seu mais recente álbum, “Lotus”. Depois do sucesso que fizeram em 2015, não havia como não repetir a dose, desta feita acompanhados pelos Wheel e Ghost Iris.

Previa-se uma noite em grande, as portas do RCA tinham aberto meia hora mais cedo, para permitir que toda a gente entrasse a tempo. Foi uma boa decisão, afinal de contas, os bilhetes tinham esgotado por completo. O relógio tinha acabado de mudar para as 21:30, quando se apagaram as luzes e os Wheel subiram ao palco para fazer as honras da noite. Apesar de serem uma banda relativamente recente, com o primeiro álbum lançado em fevereiro deste ano, os finlandeses conseguiram criar o ambiente perfeito para uma noite de metal progressivo. Rodeados por um fumo espesso, os quatro músicos encapuçados abriram o concerto com “Vultures”, mostrando que são capazes de criar tanto melodias mais comerciais, como melodias mais trabalhadas e complexas como na faixa seguinte, “Tyrant”. Esta última mereceu a primeira ronda de aplausos. Durante a atuação, houve muito pouca dinâmica de palco por parte da banda, ainda que o espaço à sua disposição fosse bastante reduzido. “Where The Pieces Lie”, talvez tenha preenchido parte desta lacuna, por ser mais explosiva e mexida. O que faltava em dinâmica foi compensado em musicalidade com “Wheel”, que foi, sem dúvida, o tema melhor recebido, onde foi possível notar fortes influências da famosa “Ticks and Leeches” dos Tool. Apesar de estarem ainda a estrear-se em tours pelo mundo, os Wheel, pelos nesta noite conseguiram fazer fãs.

Terminada a atuação dos Wheel, confirmava-se agora que, de facto, era impossível haver mais bilhetes. O RCA Club estava a rebentar pelas costuras, cheia até nas escadas. Foi com este cenário que os Ghost Iris entraram em cena. Logo à partida, foi possível notar um ar algo apreensivo na cara dos fãs de prog, à medida que a banda fazia a sua aparição no palco, com uma postura mais característica do metalcore. A banda dinamarquesa vinha artilhada de riffs poderosos, com influências de géneros como o progressive metal, core e djent. A setlitst, iniciada com “The Rat & The Snake”, foi quase toda ela baseada no mais recente álbum “Apple Of Discord”, com exceção de um tema, “Parallel Passage”. Se a banda anterior pecou pela pouca dinâmica, os Ghost Iris utilizaram cada centímetro disponível! Foi no tema acima referido em que se deu uma das cenas mais memoráveis da noite, quando um dos guitarristas fez um “stage dive” para o público, que o levantou e passou no ar, enquanto se mantinha a tocar a música. Um momento, que demonstrou o potencial desta banda na interação com o público e que agradou até aos membros mais desconfiados da audiência.

Depois disto chegou a altura mais esperada da noite. Baixaram a luminosidade do palco e ergueram-se as vozes e os assobios do público à medida que o virtuoso Martin Lopez subiu para o seu trono. Surgiram as primeiras notas de “Covenant”, com uma linha de baixo proeminente e atmosférica, entregue por Stefan Stenberg. A simbiose entre o público e Joel Ekelöf não deixou dúvidas… “The sinner will die” ecoou por toda a sala. Seguiram-se os temas “Opal” e “Rival” nos quais a banda demonstrou estar muito coesa em palco. Todos os membros tocavam as faixas sem aparentar qualquer tipo de esforço, mestres na sua arte! A próxima música retomou a cumplicidade com os fãs presentes, que não deixaram Joel cantar sozinho a letra de “Lascivious”, mas não ficou por aí. Também a guitarra de Cody Ford teve direito a um reforço do público na secção mais fria e arrepiante de “Jinn”. “Lucidity” e “Opponent” foram exemplos perfeitos para toda a elegância com que o vocalista Joel Ekelöf executou a setlist, tendo conseguindo, ao mesmo tempo, criar uma harmonia perfeita entre a sua voz elegante e os riffs pesados de Cody Ford e Lars Åhlund.

Talvez o momento mais alto da noite tenha sido alcançado durante uma das faixas do último álbum, “Martyrs”, que logo ao início levou os espectadores a marcar o ritmo com um inevitável headbang, sendo que uma transição igualmente repentina para uma melodia serena criou uma certa intimidade com o público. Foi como cair em queda livre, a sentir a adrenalina no sangue, mas aterrar nos mais acolhedores colchões, e sentir o maior conforto que existe. Até esse momento os Soen apresentaram-se como uma banda muito sólida, capaz de entregar uma performance sem igual, ao vivo. A música que se segue, “Savia”, remete o ouvinte para uma sonoridade característica dos Tool e apesar de todas as comparações que são feitas com esta última banda, os Soen foram capazes de demonstrar que, apesar das influências, a banda acrescenta o seu próprio toque de originalidade e inovação a um som já familiar, destacando-se pela positiva, ao mesmo tempo que se separam desta associação frequente.

Estávamos a chegar ao fim do espétaculo e o encore arrancou ao som da aguardada “Sectarian”. Joel tirou uns minutos antes de entrar na música seguinte de modo a apresentar a banda, que o público recebe com os mais calorosos aplausos, tendo o grupo partido depois para a batida contagiante de “Slithering”. A banda encerrou o espetáculo com “Lotus”, tema título do último álbum. E que maneira de acabar a noite! Sem dúvida, uma experiência aconselhável aos fãs de metal e de música em geral. Os Soen entregaram um som inigualável, complexo mas elegante, que fez a delícia aos ouvidos de todos os presentes. Uma banda a manter bem debaixo de olho, e que esperamos que mantenham a regularidade das visitas a que já nos estão a habituar.

Texto por Miguel Matinho
Agradecimentos: Free Music Events