No passado dia 31 de março, o RCA foi palco para os Soen. Liderados
por Martin Lopez, encontravam-se a apresentar o seu mais recente
álbum, “Lotus”. Depois do sucesso que fizeram em 2015, não
havia como não repetir a dose, desta feita acompanhados pelos Wheel
e Ghost Iris.
Previa-se
uma noite em grande, as portas do RCA tinham aberto meia hora mais
cedo, para permitir que toda a gente entrasse a tempo. Foi uma boa
decisão, afinal de contas, os bilhetes tinham esgotado por completo.
O relógio tinha acabado de mudar para as 21:30, quando se apagaram as luzes e os
Wheel subiram ao palco para fazer as honras da noite. Apesar de serem
uma banda relativamente recente, com o primeiro álbum lançado em
fevereiro deste ano, os finlandeses conseguiram criar o ambiente
perfeito para uma noite de metal progressivo. Rodeados por um fumo
espesso, os quatro músicos encapuçados abriram o concerto com
“Vultures”, mostrando que são capazes de criar tanto melodias
mais comerciais, como melodias mais trabalhadas e complexas como na
faixa seguinte, “Tyrant”. Esta última mereceu a primeira ronda
de aplausos. Durante a atuação, houve muito pouca dinâmica de
palco por parte da banda, ainda que o espaço à sua disposição
fosse bastante reduzido. “Where The Pieces Lie”, talvez tenha
preenchido parte desta lacuna, por ser mais explosiva e mexida. O que
faltava em dinâmica foi compensado em musicalidade com “Wheel”,
que foi, sem dúvida, o tema melhor recebido, onde foi possível
notar fortes influências da famosa “Ticks and Leeches” dos Tool.
Apesar de estarem ainda a estrear-se em tours pelo mundo, os Wheel,
pelos nesta noite conseguiram fazer fãs.
Terminada
a atuação dos Wheel, confirmava-se agora que, de facto, era
impossível haver mais bilhetes. O RCA Club estava a rebentar pelas
costuras, cheia até nas escadas. Foi com este cenário que os Ghost
Iris entraram em cena. Logo à partida, foi possível notar um ar
algo apreensivo na cara dos fãs de prog, à medida que a banda fazia
a sua aparição no palco, com uma postura mais característica do
metalcore. A banda dinamarquesa vinha artilhada de riffs poderosos,
com influências de géneros como o progressive metal, core e djent.
A setlitst, iniciada com “The Rat & The Snake”, foi quase
toda ela baseada no mais recente álbum “Apple Of Discord”, com
exceção de um tema, “Parallel Passage”. Se a banda anterior
pecou pela pouca dinâmica, os Ghost Iris utilizaram cada centímetro
disponível! Foi no tema acima referido em que se deu uma das cenas
mais memoráveis da noite, quando um dos guitarristas fez um “stage
dive” para o público, que o levantou e passou no ar, enquanto se
mantinha a tocar a música. Um momento, que demonstrou o potencial
desta banda na interação com o público e que agradou até aos
membros mais desconfiados da audiência.
Depois
disto chegou a altura mais esperada da noite. Baixaram a luminosidade
do palco e ergueram-se as vozes e os assobios do público à medida
que o virtuoso Martin Lopez subiu para o seu trono. Surgiram as
primeiras notas de “Covenant”, com uma linha de baixo proeminente
e atmosférica, entregue por Stefan Stenberg. A simbiose entre o
público e Joel Ekelöf não deixou dúvidas… “The sinner will
die” ecoou por toda a sala. Seguiram-se os temas “Opal” e
“Rival” nos quais a banda demonstrou estar muito coesa em palco.
Todos os membros tocavam as faixas sem aparentar qualquer tipo de
esforço, mestres na sua arte! A próxima música retomou a
cumplicidade com os fãs presentes, que não deixaram Joel cantar
sozinho a letra de “Lascivious”, mas não ficou por aí. Também
a guitarra de Cody Ford teve direito a um reforço do público na
secção mais fria e arrepiante de “Jinn”. “Lucidity” e
“Opponent” foram exemplos perfeitos para toda a elegância com
que o vocalista Joel Ekelöf executou a setlist, tendo conseguindo,
ao mesmo tempo, criar uma harmonia perfeita entre a sua voz elegante
e os riffs pesados de Cody Ford e Lars Åhlund.
Talvez
o momento mais alto da noite tenha sido alcançado durante uma das
faixas do último álbum, “Martyrs”, que logo ao início levou os
espectadores a marcar o ritmo com um inevitável headbang, sendo que
uma transição igualmente repentina para uma melodia serena criou
uma certa intimidade com o público. Foi como cair em queda livre, a
sentir a adrenalina no sangue, mas aterrar nos mais acolhedores
colchões, e sentir o maior conforto que existe. Até esse momento os
Soen apresentaram-se como uma banda muito sólida, capaz de entregar
uma performance sem igual, ao vivo. A música que se segue, “Savia”,
remete o ouvinte para uma sonoridade característica dos Tool e
apesar de todas as comparações que são feitas com esta última
banda, os Soen foram capazes de demonstrar que, apesar das
influências, a banda acrescenta o seu próprio toque de
originalidade e inovação a um som já familiar, destacando-se pela
positiva, ao mesmo tempo que se separam desta associação frequente.
Estávamos
a chegar ao fim do espétaculo e o encore arrancou ao som da
aguardada “Sectarian”. Joel tirou uns minutos antes de entrar na
música seguinte de modo a apresentar a banda, que o público recebe
com os mais calorosos aplausos, tendo o grupo partido depois para a
batida contagiante de “Slithering”. A banda encerrou o espetáculo
com “Lotus”, tema título do último álbum. E que maneira de
acabar a noite! Sem dúvida, uma experiência aconselhável aos fãs
de metal e de música em geral. Os Soen entregaram um som
inigualável, complexo mas elegante, que fez a delícia aos ouvidos
de todos os presentes. Uma banda a manter bem debaixo de olho, e que esperamos que
mantenham a regularidade das visitas a que já nos estão a habituar.
Texto por Miguel Matinho
Agradecimentos: Free Music Events