A Noruega continua a surpreender-nos com óptimas bandas de Black Metal. Apesar dos Helheim não serem novatos na cena, parecem ter sido um pouco negligenciados por ela... "Rignir", o seu décimo álbum está aqui para nos provar que eles merecem os holofotes! A Metal Imperium conversou com Vgandr sobre o novo álbum e tournée.
M.I. - Helheim existe há 27 anos e muitas bandas norueguesas que se formaram nos anos 90 ainda estão activas. Tens alguma ideia da fórmula para todo este sucesso?
Não, na verdade não. A única coisa de que tenho certeza é que Helheim é uma banda de irmãos. É importante para nós aproveitarmos o que estamos a fazer e sentir que somos criativos. Todas as ideias de nos tornarmos uma grande banda estão além de nós e estamos bastante à vontade com quem somos como banda. Nós ouvimo-nos e respeitamo-nos. Não há egoísmo e coisas infantis. Nós não temos uma grande máquina atrás de nós que nos pode puxar para qualquer direcção. Somos a fonte criativa e, felizmente, seguimos um caminho em unidade, em vez de segregados. Se tudo isso é fundamental para o sucesso de permanecer juntos como banda, então fico à vontade com isso. Mas acho que bandas diferentes têm opiniões diferentes. Todas as entidades são diferentes.
M.I. - Este ano os Helheim lançarão o seu 10º álbum "Rignir" e, de acordo com a banda, "este foi de longe o álbum mais intrigante que fizemos até agora. Esperem o inesperado!". O que querem dizer com isto exactamente?
De muitas formas, foi o álbum que exigiu o próximo passo para nós, especialmente a nível vocal. Mas também a maneira como criamos algumas das músicas como por exemplo Rignir e Snjova. Elas são bastante diferentes em muitos aspectos, e levou muito tempo para que (assim como as outras) soassem como queríamos que soassem. Todo o conceito lírico também foi o mais demorado que já fiz até agora.
M.I. - O álbum é composto por 8 faixas e escreveste letras inspiradas no ljóðaháttr, uma forma de verso aliterativo do Norueguês Antigo usada amplamente nos Eddas. Quão complicado foi transformá-los em músicas?
A música é criada sem pensar nas letras em mente e vice-versa. São entidades separadas que são colocadas juntas depois de tudo estar pronto. As letras eram realmente difíceis de escrever, já que todas tinham que seguir um certo padrão rítmico, e o facto é que todas as letras poderiam ir para qualquer música do álbum, já que todas seguem um certo padrão. Nós trocamos as músicas por letras diferentes até nos sentirmos confortáveis com a música que compunha a letra.
M.I. De qual gostas mais: da Edda Prosa ou da Edda Poesia? Em qual te baseaste mais?
Eu não tenho favorito. Eu basicamente usei o Håvamål como trampolim para a forma de verso aliterativo.
M.I. – Todos os título de Rignir aparecem como dinamarqueses ou islandeses porque Edda é uma obra literária da Islândia Medieval. És fluente nessas línguas?
Não, não mesmo. Nenhum dos títulos está em dinamarquês. Estão todos na língua nórdica, ou velho islandês. Eu sei ler dinamarquês como se fosse norueguês, mas falar pode ser difícil às vezes. Norueguês, sueco e dinamarquês são na verdade apenas dialectos uns dos outros. As fronteiras criam a separação do dialecto para o idioma. O islandês é difícil de entender, embora falássemos mais ou menos assim há séculos atrás. Os títulos do álbum estão no Norueguês antigo, mas as letras são escritas em norueguês e cantadas no nosso dialecto de Bergen.
M.I. - É preciso voltar a 2003 e 2006 para ver álbuns / faixas com títulos em inglês. Esta é uma escolha consciente? Expressam-se melhor em outras línguas ou elas encaixam-se melhor nos vossos temas?
Naquela época, chegou a um ponto em que estava farto de escrever em norueguês. Eu queria expressar-me de maneira diferente. Então cansei-me de inglês e nunca mais voltei a esse idioma. Agora sinto-me bastante à vontade apenas a escrever em norueguês e não consigo imaginar o retorno ao inglês.
M.I. - Qual é o significado do símbolo azul na capa?
Azul representa o frio. O símbolo pode representar uma gota de chuva, bem como as sete montanhas de Bergen, que são bastante chuvosas.
M.I. - A banda andará em tournée com Madder Mortem e Vulture Industries. Quais são as tuas expectativas?
Tenho grandes expectativas para esta tournée. Quer dizer, somos bons amigos dos rapazes dos Vulture e, embora não conheçamos os humanos dos Madder, ouvimos coisas boas sobre eles. Acho que será uma tournée bastante relaxada de várias maneiras. Os dias de deboche completo em tournée estão mais ou menos acabados (excepto em algumas ocasiões, (risos) ). Quando se trata da participação, sou mais cétpico, já que todas as bandas são pequenas e não têm um grande número de seguidores. É importante ser realista e ter as expectativas mais baixas em determinadas situações, ou podes ficar desapontado. Eu prefiro ficar positivamente surpreso por ter baixas expectativas do que o contrário. Tendo dito isto, é claro que sempre daremos o nosso melhor à audiência, contanto que haja a energia e a atmosfera certas, não importa se são 50 ou 500.
Não sei, para ser honesto, as memórias são traiçoeiras. O que posso dizer é que tento cuidar-me um pouco mais. Já não tenho 20 anos e sinto-o. Não estou a dizer que sou velho ou algo assim, mas é claro que ter 41 é muito diferente de ter 18-19. Ao pensar nisso, acho que em certas coisas fui muito aventureiro. Tudo era novidade e, hoje em dia, nada é novo. Hoje o foco é diferente. A tournée não é vital para mim, mas tocar ao vivo é.
M.I. - Infelizmente, não há datas portuguesas incluídas na tournée. Já tocaste aqui? Em caso afirmativo, o que achaste da audiência portuguesa? Se não, gostarias de vir cá?
Eu só estive em Portugal com os Taake. Tocamos no Barroselas. Esse foi um grande festival e gostaria de voltar lá com qualquer banda. Os portugueses foram extremamente simpáticos. Realmente quero dizer que foram muito abertos e úteis. Isso fez-me sentir bem-vindo. Porra, temos que ir a Portugal.
M.I. - Conheces a cena metal portuguesa?
Receio que não. Tanto quanto eu sei, só conheço uma banda e é tão óbvio a banda de que eu estou a falar que nem vou dizer o nome deles.
M.I. - Se pudesses viajar no tempo... que conselho darias a ti mesmo há 20 anos? Por quê?
Não me escute. Sou um merdas (risos).
M.I. - A banda já existe há mais de 25 anos... alcançaste todos os objectivos que pretendias quando criaste os Helheim? O que resta para os Helheim alcançarem?
Sim e mais. Somos todos muito afortunados com a forma como as coisas estão a correr para nós e não quero reclamar de nada. Fizemos algumas escolhas estranhas e erradas, mas esse é o curso dos acontecimentos. Casos errados podem causar um efeito positivo depois. Aprendes e cresces com os teus erros. Se escolheres sempre olhar para trás em desespero e te arrependeres, pode ser quase impossível crescer no futuro. Pelo menos essa é a minha filosofia. Não resta nada para fazer além de continuar a fazer o que estamos a fazer e isso é levarmo-nos aos nossos limites para em todos os álbuns que criamos. A nossa paixão para criar absorve as ideias mundanas do que pode alcançar. Isso é secundário na melhor das hipóteses. O foco total e a dedicação exigem que fiques cego para as distracções em teu redor. Entramos numa hibernação criativa onde nada mais importa do que o nosso espaço de trabalho criativo.
M.I. - Muito obrigado pelo teu tempo. Espero que te divirtas na tournée. Desejo-vos todo o sucesso com "Rignir" e espero venham a Portugal um dia. Deixa uma mensagem para os leitores da Metal Imperium, por favor.
Muito obrigado, Sónia. Esperamos realmente que a oportunidade possa surgir um dia para os Helheim irem explorar e tocar em Portugal. Espero que existam alguns portugueses que tenham ouvido falar de nós, senão está na hora de nos descobrir. Termino esta entrevista citando-me a mim mesmo: O paganismo é resistência!
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Entrevista por Sónia Fonseca