Já está distante o ano de 2014 quando um grupo de cinco jovens de Lisboa se reuniu num estúdio e com o apoio da Infected Records editou no ano seguinte o CD de estreia, “Artigo 21”. Quatro anos depois, o quinteto que dá pelo mesmo nome prepara para colocar no mercado “Ilusão”, novamente pelo selo da Infected, incansável no apoio ao punk rock nacional.
Igualmente gravado nos GeneratorMusic Studios e com produção do incontornável Miguel Marques (este ano parece que vamos ouvir falar muito dele), “Ilusão” mostra que a receita para um disco de sucesso é simples mas não é para todos!
Depois de muito tempo sem apresentar músicas novas ao vivo, no ano passado os Artigo 21 foram timidamente colocando uma ou outra amostra do que aí vinha, recebendo excelentes críticas ao novo material, mas só agora é possível testemunhar a enorme evolução da banda.
“Ilusão” é, a Março de 2019, favorito a disco punk-rock do ano, um estilo musical que tem tanto de underground como de prolífico em edições mais DIY. Mas com lançamentos eminentes de Tara Perdida ou Fonzie, que se juntam ao já editado novo dos Fitacola, mostra bem em que sítio os Artigo 21 estão hoje.
Mas se não acreditam, basta colocar o CD e ouvir. Logo à primeira amostra, “Doutrina”, temos um clássico instantâneo de pouco menos de três minutos, que abre o disco como uma granada! E logo à primeira audição percebe-se imediatamente outra coisa: a produção e masterização (desta feita a cargo do Rui Dias nos Estúdio Mister Master) está perfeita para levar os Artigo a voos maiores. As guitarras do Xiko e do Hipólito estão ao nível certo, sem ruídos desnecessários, o baixo do Áureo marca perfeitamente o ritmo ao longo dos 40 minutos, e a bateria do Nika domina completamente as faixas, tornando impossível não ser contagiado pelo seu ritmo. E a voz? Límpida, perfeita, a mostrar a capacidade do Tiago Cardoso e a sua voz tão característica deste estilo musical.
A fórmula continua a ser letras em português, de carácter interventivo, com uma secção rítmica potente e coesa e dois guitarristas ao desafio, mas desengane-se quem pensa que punk rock é só isso. Pelo menos o punk rock dos Artigo 21 não é. “Só Mais Um Bocado” tem uma base instrumental surpreendentemente melódica e lenta, para acelerar num excelente refrão, que aposto irá funcionar perfeitamente ao vivo, com o público a entoar com a banda. “A Cidade”, faixa mais longa do disco, é também um regresso ao punk mais melódico, com um solo que me fez lembrar as baladas rock dos anos 90.
Mas depois há influência do heavy metal puro e duro nos riffs, por exemplo em “O Que Somos”, faixa que conta com ajuda na voz de Diogo Ramos dos Fitacola, ou até ao rock moderno em “Sabe A Real”, com certeza a faixa mais orelhuda e que poderá levar os Artigo 21 a rádios mais mainstream.
E o punk, onde está?, perguntam vocês... No excelente “Ilusão”, escolhido para single de apresentação do disco e onde Nika e Áureo mostram as suas garras na secção rítmica; em “Nada A Perder”, com um arranque vertiginoso e que não dá descanso; ou nos meus favoritos “Fantasma”, uma faixa para cantar a gritar, como que a exorcizar os nossos próprios fantasmas, mas principalmente “A Nossa Voz”, mais um clássico instantâneo com letra sobre a comunidade.
Um disco a mostrar que às vezes vale a pena esperar a altura certa para arrebentar... e 2019 vai ser o ano dos Artigo 21.
Nota: 9/10
Review por Vasco Rodrigues