Sala cheia! Foi assim que a comunidade metálica decidiu premiar a organização do festival Xxxapada na Tromba, esgotando a sala do RCA Club nos passados dias 18 e 19 de Janeiro.
Aquela que seria a última edição do festival nos moldes que o Sérgio Páscoa e a Rita Limede foram habituando os fãs das sonoridades mais brutais arrancou mais tarde do que o anunciado, face ao cancelamento dos Dehydrated, pelo que eram quase 19 horas quando os espanhóis Moñigo subiram para mostrar o que vale o seu gore-grind. O público estava já em números generosos para aquela hora e dia de semana e recebeu o trio madrileno, que ainda o ano passado tinha passado pelo Sebadelhe Metal Fest, de maneira muito calorosa, interessada em ver como funciona uma banda grindcore sem baterista.
Igualmente do país vizinho, mas agora de Palencia, chegaram os Rato Raro e um death/grind muito interessante. Banda veterana, com mais de 25 anos de palco, e na sua segunda presença no Xxxapada, o trio de voz, bateria e guitarra incendiou a plateia, sempre com Toño a comandar as hostes, mas infelizmente teve de encurtar a prestação por problemas técnicos.
De terras de Sua Majestade a Rainha Isabel II chegaram os Crepitation para 45 minutos de um excelente death metal. Apesar da intro com techno de manhoso valor e da banda anunciar que não percebiam porque tinham sido convidados para estar ali porque já não tocavam música extrema, a banda originalmente de Liverpool mostrou a força do seu recentíssimo “Onset of Horrendosity”, o split-EP com os Fetor, mas foram faixas como “Gelatinous Intergalactic Spunk Trumpet” ou “Pathological Armoured Ferret Tank”, e o mais recente “Antiques Chodeshow” que fizeram a sala estremecer.
Antes da pausa para jantar subiram ao palco os polacos Meat Spreader, que por falta dos Dehydrated “cairam” para essa fase do festival. Mas nem a fome, que fez esvaziar de alguma maneira a bem composta sala, impediu o quarteto de mostrar o poder do seu grindcore, com destaque para faixas do novo “A Swarm Of Green Flies Over The Rusty Plot”.
Repostas as energias, as portas do RCA voltaram a abrir para a segunda parte do primeiro dia do Xxxapada, com o palco a receber os Cripple Bastards. Com Giulio the Bastard ao leme e um disco novo para apresentar, foram três quartos de hora intensos e com mínima interacção com o público, a mostrar que o importante para os italianos é mesmo debitar notas o mais veloz possível. Depois da passagem pelo SMSF 2016, os super veteranos do crust/grind (30 anos de estrada!!) apresentaram o novo LP “La Fine Cresce da Dentro”, segundo fruto da parceria da banda com a mítica Relapse Records.
Da República Checa vieram os Epicardiectomy e o seu brutal death metal, que regressavam a Portugal com o novo “Grotesque Monument of Paraperversive Transfixion” debaixo do braço. Com a sala perto de rebentar pelas costuras e já com gotas de água a pingar do tecto, a festa fez-se na frente do palco, com a grande maioria das novas faixas a originar largos mosh pits repletos de criaturas de dimensões paralelas (Pikachús, unicórnios, zebras com sapatos com luzes psicadélicas nas solas, etc).
Longa ia já a primeira noite do Xxxapada na Tromba quando entra em palco a primeira banda nacional, os Grog, sinónimo da importância internacional deste certame, e que poderia facilmente ser comprovada ouvindo as diversas línguas e dialectos falados pela plateia recheada do RCA. “Uterine Casket” abriu as hostilidades, retirado do recente “Ablutionary Rituals” e seguiu-se uma excelente prestação de Pedro Pedra e seus amigos, num concerto que contou com dois convidados muito especiais: Sérgio Afonso, dos Bleeding Display, no clássico “Rotten Grave” e João Dourado, o primeiro baterista da banda, que mostrou em “Cannibalistic Devourment” que ainda está ali para as curvas.
Os holandeses Inhume foram os primeiros a sentir o algum cansaço que já era evidente na plateia, com a reacção ao seu death metal a apenas a acontecer a espaços. Mesmo assim, a banda mostrou porque razão existe desde 1994 e foi puxando pelo público, que parecia ter escolhido o exterior da sala para repor energias.
Mas aos primeiros acordes dos norte-americanos Brodequin, a sala renasceu e a estreia no nosso país foi bem conseguida. A banda de Knoxville, Tennessee, desde “Methods of Execution” de 2014 que não edita, mas foram as faixas dos primeiros discos que animaram mais as hostes, agora visivelmente a pensar já no dia seguinte.
O final ficou a cargo dos Satan’s Revenge On Mankind, que se apresentaram em palco de bata ensanguentada e máscara de cirurgia, perante uma sala que lentamente ia perdendo a excelente moldura humana. Mesmo assim os germânicos não se fizeram rogados e abanaram mais uma vez a sala de Alvalade com faixas do aclamado “Supreme Malicious Necro Terror”.
Um fabuloso primeiro dia, a prenunciar um fechar de cortinas em grande para o festival!!
Texto: Vasco Rodrigues - 08 Fevereiro 19