Os ucranianos Stoned Jesus, apoiados pelos compatriotas
Somali Yacht Club, brindaram-nos com duas passagens por solo nacional, a
primeira pelo Porto, no Hard Club e esta no RCA Club, em Lisboa, para duas
excelentes noites de Stoner Rock.
Esta passagem deve-se à atual digressão dos Stoned Jesus,
“The Pilgrimage Tour”, em apresentação do mais recente disco da banda,
“Pilgrims”. Não são no entanto os únicos a apresentar um novo registo, pois os
Somali Yacht Club trazem também na bagagem “The Sea”, o segundo álbum da banda.
A banda de abertura entra no palco com energia e inundam a
sala com o seu som cósmico característico, em especial nas leads, que
apresentam um “feel” de Post-Rock e até Shoegaze e nas basslines ressonantes que
põem o ouvinte em estado de trance.
De facto, a mistura de Stoner Doom com Surf Rock e Post Rock,
que caracteriza o som dos ucranianos, funciona bem ao vivo, em especial
com a excelente mixagem que pudemos testemunhar neste concerto, com um
baterista com um excelente som de bass
drum, a dar mais densidade à nebulosa
que é o som da banda e a marcar o ritmo desta marcha cósmica. Apreciei também a
prestação do vocalista, muito sólida, tanto nos vocais pesados que dão um
sentimento mais negro a esta viagem, como nas vocalizações limpas, banhados em reverb, que acrescentam mais uma camada
transcendental à música. Este esteve também interativo com o público ao descrever
como foi a sua viagem até Portugal.
No geral, os Somali Yacht Club apresentaram-nos um set
homogéneo, sem muita variedade sobre a qual refletir, mas com bons momentos nos
extremos do espetro do seu som, tanto nos solos e build ups melódicas, como nos riffs mais groovy e bluesy de Stoner
Rock ou até nos riffs mais pesados e
monolíticos de Doom a tender para o Atmospheric Sludge.
Para terminar, com uma barreira de feedback, despedem-se do público e dão o set por concluído.
Chega então a entrada dos Stoned Jesus, momento pelo qual a
maioria dos fãs certamente ansiava, com o concerto número 400 da banda, tal como anunciado pelos
mesmos.
Abrem a setlist com duas ótimas músicas (e as mais
progressivas) do último registo; “Feel”, a “balada” do álbum cativa desde
início o público com as suas excelentes hooks, com riffs
melódicos e linhas de baixo sonantes, e “Hands Resist Him” entra para contrastar com
o seu potente riff afiado com um certo cunho de Sludge; tudo isto passado com a tremenda qualidade de som que acompanhou o concerto.
De seguida interagem com o público, fazendo uma piada sobre
o seu nome, e foi de facto muito agradável ver a boa disposição e cumplicidade
que a banda manteve ao longo do concerto com a plateia, sempre muito simpáticos, com muita proximidade e a tornar esta noite ainda mais divertida, em particular
Igor, o vocalista e guitarrista, mais participativo.
Prosseguindo com o set, tocam “Distant Light”, talvez a
faixa mais forte do novo lançamento, que entra ainda com mais potência do que a
versão do álbum e perfura o crânio dos ouvintes com o seu tremendo riff
dissonante. Tocam também “Black Woods”, faixa mais antiga, do álbum de estreia,
de um Stoner Doom puro e ortodoxo e também “Thessalia”, regressando ao ultimo
álbum.
Aqui, tocam “Water Me”, após pedirem ao público que se
mantivesse em silencio devido à natureza de “start-stop” desta faixa. Fazem soar o
riff simples e monocórdico que compõe quase a totalidade desta faixa, mas que é
enriquecido com os vocais dementes e algo dinâmicos por trás que tornaram esta
faixa um pouco menos monótona do que a versão de estúdio. Apesar de ser uma faixa
mais fraca, pudemos assistir a uma excelente prestação do baterista, com ótimas
fills e sem nunca falhar o tempo complicado desta música, o final, com os vocais
dos membros em uníssono e os melódicos riffs de post-rock, também trouxe algo
de positivo à faixa.
De seguida, tocam a já icónica “I’m the Mountain”, do segundo
álbum da banda, que começa cantada pelo público que esteve muito presente com o
som das suas palmas mais à frente na música. Esta faixa foi também executada na
perfeição ao vivo, com excelentes pormenores meio improvisados, cirurgicamente inseridos, a quebrar as
repetições dos riffs, que tornaram faixa ainda mais
cativante!
Aproximando-nos ao fim, os Stoned Jesus tocam “Apathy” e retiram-se
do palco, apenas para voltar e tocar duas das mais energéticas músicas da setlist. A primeira, “Excited”, o
principal single do novo álbum, tocado de uma maneira tão enérgica como se
fosse a primeira da noite e eximiamente executada como até aqui já nos tinham
habituado. Finalmente, terminam em grande e cheios de garra com “Here Come the
Robots”, faixa do álbum “The Harvest” e a mais acelerada de toda a discografia
dos Stoned Jesus, que põe toda a plateia a saltar para dar por concluído o
concerto.
Texto por Filipe Mendes
Fotografia por Jorge Pereira
Agradecimentos: Garboyl Lives