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Reportagem: Stoned Jesus e Somali Yacht Club @ RCA Club, Lisboa - 01/11/2018


Os ucranianos Stoned Jesus, apoiados pelos compatriotas Somali Yacht Club, brindaram-nos com duas passagens por solo nacional, a primeira pelo Porto, no Hard Club e esta no RCA Club, em Lisboa, para duas excelentes noites de Stoner Rock.

Esta passagem deve-se à atual digressão dos Stoned Jesus, “The Pilgrimage Tour”, em apresentação do mais recente disco da banda, “Pilgrims”. Não são no entanto os únicos a apresentar um novo registo, pois os Somali Yacht Club trazem também na bagagem “The Sea”, o segundo álbum da banda.

A banda de abertura entra no palco com energia e inundam a sala com o seu som cósmico característico, em especial nas leads, que apresentam um “feel” de Post-Rock e até Shoegaze e nas basslines ressonantes que põem o ouvinte em estado de trance.

De facto, a mistura de Stoner Doom com Surf Rock e Post Rock, que caracteriza o som dos ucranianos, funciona bem ao vivo, em especial com a excelente mixagem que pudemos testemunhar neste concerto, com um baterista com um excelente som de bass drum, a dar mais densidade à nebulosa que é o som da banda e a marcar o ritmo desta marcha cósmica. Apreciei também a prestação do vocalista, muito sólida, tanto nos vocais pesados que dão um sentimento mais negro a esta viagem, como nas vocalizações limpas, banhados em reverb, que acrescentam mais uma camada transcendental à música. Este esteve também interativo com o público ao descrever como foi a sua viagem até Portugal.

No geral, os Somali Yacht Club apresentaram-nos um set homogéneo, sem muita variedade sobre a qual refletir, mas com bons momentos nos extremos do espetro do seu som, tanto nos solos e build ups melódicas, como nos riffs mais groovy e bluesy de Stoner Rock ou até nos riffs mais pesados e monolíticos de Doom a tender para o Atmospheric Sludge.

Para terminar, com uma barreira de feedback, despedem-se do público e dão o set por concluído.

Chega então a entrada dos Stoned Jesus, momento pelo qual a maioria dos fãs certamente ansiava, com o concerto número 400 da banda, tal como anunciado pelos mesmos.

Abrem a setlist com duas ótimas músicas (e as mais progressivas) do último registo; “Feel”, a “balada” do álbum cativa desde início o público com as suas excelentes hooks, com riffs melódicos e linhas de baixo sonantes, e “Hands Resist Him” entra para contrastar com o seu potente riff afiado com um certo cunho de Sludge; tudo isto passado com a tremenda qualidade de som que acompanhou o concerto.

De seguida interagem com o público, fazendo uma piada sobre o seu nome, e foi de facto muito agradável ver a boa disposição e cumplicidade que a banda manteve ao longo do concerto com a plateia, sempre muito simpáticos, com muita proximidade e a tornar esta noite ainda mais divertida, em particular Igor, o vocalista e guitarrista, mais participativo.

Prosseguindo com o set, tocam “Distant Light”, talvez a faixa mais forte do novo lançamento, que entra ainda com mais potência do que a versão do álbum e perfura o crânio dos ouvintes com o seu tremendo riff dissonante. Tocam também “Black Woods”, faixa mais antiga, do álbum de estreia, de um Stoner Doom puro e ortodoxo e também “Thessalia”, regressando ao ultimo álbum.

Aqui, tocam “Water Me”, após pedirem ao público que se mantivesse em silencio devido à natureza de “start-stop” desta faixa. Fazem soar o riff simples e monocórdico que compõe quase a totalidade desta faixa, mas que é enriquecido com os vocais dementes e algo dinâmicos por trás que tornaram esta faixa um pouco menos monótona do que a versão de estúdio. Apesar de ser uma faixa mais fraca, pudemos assistir a uma excelente prestação do baterista, com ótimas fills e sem nunca falhar o tempo complicado desta música, o final, com os vocais dos membros em uníssono e os melódicos riffs de post-rock, também trouxe algo de positivo à faixa.

De seguida, tocam a já icónica “I’m the Mountain”, do segundo álbum da banda, que começa cantada pelo público que esteve muito presente com o som das suas palmas mais à frente na música. Esta faixa foi também executada na perfeição ao vivo, com excelentes pormenores meio improvisados, cirurgicamente inseridos, a quebrar as repetições dos riffs, que tornaram faixa ainda mais cativante!

Aproximando-nos ao fim, os Stoned Jesus tocam “Apathy” e retiram-se do palco, apenas para voltar e tocar duas das mais energéticas músicas da setlist. A primeira, “Excited”, o principal single do novo álbum, tocado de uma maneira tão enérgica como se fosse a primeira da noite e eximiamente executada como até aqui já nos tinham habituado. Finalmente, terminam em grande e cheios de garra com “Here Come the Robots”, faixa do álbum “The Harvest” e a mais acelerada de toda a discografia dos Stoned Jesus, que põe toda a plateia a saltar para dar por concluído o concerto.


Texto por Filipe Mendes
Fotografia por Jorge Pereira
Agradecimentos: Garboyl Lives