Liderados por um dos fundadores do género, Morten Veland, os Sirenia tiveram o seu regresso a Portugal a 10 de novembro, numa noite muito aguardada pelos fãs do metal sinfónico. O grupo encontrava-se a apresentar o seu mais recente álbum “Arcane Astral Aeons”, acompanhado pelas bandas Triosphere, Paratra e Season of Tears.
Tal como estava planeado, o espetáculo teve início às 19:45 em ponto, com a atuação dos Season Of Tears, uma banda com 3 vocalistas distintos e que contribuem para uma mistura de elementos de diversos estilos, que abrangem o death metal, o black metal e o metal sinfónico. A faixa de abertura escolhida foi a “Dark Card”, que pertence ao último EP do grupo. Logo à partida, o quinteto francês enfrentou algumas dificuldades técnicas com um dos microfones e que se mantiveram durante uma grande parte da sua setlist. No entanto, a banda não se deixou intimidar e quis causar boas impressões na sua estreia em terras lusas, compensando as dificuldades técnicas com muita energia e uma boa interação com o público. As poderosas notas soltas da 7ª corda, conjugadas com a subtileza da voz de Juliette, criaram uma harmonia do estilo “A bela e o monstro”, que tinha tanta energia quanto serenidade. Apesar da sala bastante despida que se podia observar, foi, sem dúvida, um bom aquecimento para o resto da noite.
Esta noite prometia ser muito diversa, no que diz respeito aos géneros dentro do metal, e a banda que se segue, os Paratra, foram talvez o melhor exemplo disso. O quarteto oriundo de Mumbai trouxe, decerto, uma novidade ao palco do RCA. Estamos a falar do guitarrista Akshat Deora, que levou consigo um instrumento musical conhecido como sitar. Já com uma sala mais composta, o grupo começou por apresentar o seu mais recente álbum, “Genesis”, representado pela faixa “Now or never”, que já pôs uns quantos pés a mexer. Mas foi com a “Duality” que o grupo ganhou o coração dos espectadores, com particular destaque para a performance do sitar. Sem dúvida uma atuação que fez levantar algumas sobrancelhas, misturando musica eletrónica com groove metal e elementos musicais da cultura indiana, mas que também trouxe algum “ar fesco” à atmosfera das restantes bandas.
Em seguida foi a vez dos Triosphere subirem ao palco, tendo sido já possível notar alguma antecipação nos olhares da audiência, que se traduziu numa maior afluência à linha da frente. Os noruegueses deram início à sua atuação com um tema do último álbum, “The Heart Of The Matter”, representado por “My Fortress” e, rapidamente, aumentaram a entropia na sala de concertos. Com os temas que se seguiram, “Steal away the light” e a (arriscaria dizer) preferida do álbum “The Sphere”, a banda mostra-se muito coesa em palco, com a sua quase década e meia no ativo a dar frutos. Comparativamente à atuação do grupo no ano passado, no LAV, desta vez tivemos direito a uma Ida Haukland menos constipada e, por consequente, com uma voz mais nítida, impactuosa, que dava vida às músicas, como se fez notar na secção solo em “Breathless”. Foram ainda visitados temas mais antigos como “Sunriser”, que deu oportunidade aos fãs de se deixarem encantar pelos solos virtuosos de Marius "Silver" Bergesen, que chamaram a atenção de todas as câmeras e olhares. Talvez o momento mais destacável da atuação tenha sido durante “Trinity”, que conseguiu pôr até os mais teimosos a fazer headbang, terminando a faixa com aplausos e assobios, quase mais alto que a própria banda, esforço esse que foi recompensado com a estreia em tour de “Marionette”.
Após um breve intervalo, era a vez dos tão aguardados Sirenia subirem ao palco para encerrarem a noite. Bastou o som do background de “In Styx Embrace” para se notar logo uma plateia muito mais desperta, de olhos bem abertos, que presenciava pela primeira vez Emmanuelle Zoldan, que se juntou ao grupo como vocalista feminina em 2016. E nada mais, nada menos que as faixas “Dim Days Of Dolor” e “Godess Of The Sea”, retiradas do álbum lançado no mesmo ano, para mostrar o talento de Emannuelle, que não surge por acaso. Era notório o treino vocal que a cantora francesa possuía, derivado da sua carreira e estudos em ópera, conseguindo entregar aos fãs uma voz controlada e clara, que podia atingir as notas mais agudas sem transmitir o mínimo esforço. A reação do público não engana, Emanuelle mostrou que encaixa perfeitamente no resto da banda. E razões não faltam para tal, como a interação e boa disposição da cantora para com os fãs, que obrigou toda a sala a mexer-se e bater o pé ao ritmo de “Queen Of Lies”. A apresentação do novo álbum, que já se estava a revelar um sucesso, tomou uma outra dimensão quando o público, conhecedor sem piedade de todas as letras, se juntou ao refrão… “Into The Night” ouvia-se por todo o recinto.
Infelizmente a noite não podia durar para sempre e Morten avisou os fãs de que restavam apenas duas músicas. E como ninguém queria ir para casa sem poder dizer que deu tudo o que tinha, a banda retirou quase tudo o que os fãs ainda tinham para dar com “My Mind’s Eye” e “The Other Side”.
As luzes apagaram-se e a banda abandonou o palco, regressando em seguida para se despedirem dos fãs. Deixando o melhor para o fim, terminaram a sua atuação com a poderosa “Path To Decay “ e um tema mais antigo “Sister Nightfall”.
Texto por Miguel Matinho
Fotografias por Daniela Jacôme Lima
Agradecimentos: Prime Artists