Os 11th Dimension são uma banda com um som muito próprio. Sendo, predominantemente, associados ao som da nova vaga de bandas de metal progressivo, ao longo das suas diversas músicas encontramos sonoridades que nos remetem para influências tão diversas como o rock ou o death metal. No passado mês de Maio, lançaram o seu primeiro LP, "Paramnesia", um álbum conceptual, sobre o qual conversámos com a banda.
M.I. - Os 11th Dimension surgem oficialmente em 2013, mas a verdade é que vocês já vêm juntos de outros projectos. Querem falar um pouco dessa experiência que vos trouxe até aqui?
CC - Tentando resumir um pouco, eu e a Filipa conhecemos-nos na faculdade, e a determinada altura estávamos num projecto juntos onde foi necessário procurar um guitarrista. Por uma pessoa em comum contactámos o Pedro que aceitou o convite e começou a tocar connosco. Pouco tempo depois procurávamos uma pessoa para fazer voz limpa em conjunto com outro vocalista que faria growl e a mesma pessoa sugeriu a Diana que também aceitou o convite e integrou a banda por algum tempo. Honestamente que não sei a razão mas fui convidado a sair desse projecto por um dos membros e a Filipa, Pedro e Diana decidiram que não iriam permanecer tendo eu saído e então propus que ficássemos os 4 juntos na mesma, num novo projecto, que iria começar por se dedicar a covers, para ganhar experiência como banda, mas sempre com o olho num projectos de originais.
M.I. – Durante algum tempo moveram-se no circuito das bandas de covers. Uma questão que hoje é muito falada diz respeito às oportunidades que são dadas às bandas de covers e as que são dadas às bandas de originais. As bandas de originais referem estar, muitas vezes, em segundo plano e até de serem rejeitadas em alguns espaços. É algo que os 11th Dimension também sentem?
FS - Este tema geralmente gera uma enorme controvérsia, que no meu entender é completamente desnecessária. A música é uma forma de arte, seja ela através de projectos de originais ou de covers. Existe normalmente um público alvo diferente para cada uma das situações e acima de tudo, espaço para todos. Não considero que os 11th Dimension já tenham sentido qualquer tipo de rejeição, até porque sinceramente, não é uma questão que nos preocupe. Tal como referi, existe espaço para todos, a música é algo demasiado belo para que se perca tempo com este tipo de “rivalidades”. O que importa realmente é que as pessoas se sintam bem e felizes com o tipo de música que tocam.
M.I. - Qual a origem do vosso nome, o que significa 11th Dimension?
CC - O nome demorou muito tempo a definir porque queríamos algo que deliberadamente nos associasse com o movimento prog/post metal actual, que é o estilo de música onde nos queríamos enquadrar. Nesse sentido procurámos entre várias referências científicas, matemáticas, etc. Uma das ideias que surgiu foi referenciar a Teoria de Cordas que, muito resumidamente, diz que todas as partículas do universo surgem de vibrações em algo que chamam cordas. Não resistimos ao paralelo de cordas e vibrações com a música e, sendo uma das características da teoria o facto de existirem 11 dimensões no total (além das 3 ou 4 que conhecemos habitualmente), acabámos por decidir que o nome seria 11th Dimension.
M.I. – “Paramnesia”, o vosso mais recente trabalho, é uma metáfora entre a realidade e um mundo “mental” alternativo. Qual a inspiração para este álbum?
DR - A inspiração para os conceitos explorados nas músicas vem do próprio dia-a-dia, de experiências na própria pele e também da perceção que tenho do que se passa com uma grande parte das pessoas da minha geração. Trata-se de explorar um pouco as situações de desespero e de sufoco, mas também a capacidade de dar a volta e seguir em frente, quer isso implique uma mudança física ou uma mudança mental.
M.I. – Nos dias de hoje, esse mundo “mental” alternativo é necessário para mantermos o equilíbrio ou é, ele próprio, fruto do desequilíbrio e insatisfação com o mundo real?
DR - Eu considero que é bastante salutar para a nossa sanidade mental termos a capacidade de criar esse escape, o nosso próprio “safe space” onde não há impossíveis podemos projetar tudo aquilo que queremos atingir. Definitivamente que ele é moldado por aquilo que se passa no mundo real, mas no fundo é algo que já é intrínseco ao ser humano, sobretudo enquanto somos crianças. Infelizmente, com o passar dos anos, tendemos a renegar esse lado e a concentrar as nossas forças em manter os pés sempre assentes na terra, como se essa fosse a nossa única opção, e tornamo-nos demasiado maquinais. Como em tudo na vida, a chave está no equilíbrio; e se é com ações concretas no mundo real que vamos conquistando os nossos objetivos, não nos podemos esquecer que o sonho é o primeiro passo na cadeia, e é ele que motiva essas ações.
M.I – Quatro anos separam “Odyssey”, o vosso primeiro EP, e “Paramnesia”. O que mudou nos 11th Dimension e na sua forma de fazer música?
CC - Numa palavra: crescemos. O EP foi muito importante porque nos obrigou a perceber tudo o que implica passar uma música da cabeça para um mp3 numa plataforma de streaming porque decidimos que seríamos nós a fazer todos esses passos. Começámos a compor tirando mais partido do que a tecnologia nos permite fazer, o trabalho em si a ser feito com uma visão mais de longo prazo, tentando poupar trabalho mais à frente, gravar passou a ser parte integrante do processo de composição para mais facilmente nos colocarmos do lado do público (ninguém tem a total percepção de como algo soa enquanto está a tocar no ensaio) e encontrámos a forma de compor que permite debitar ideias mais rapidamente sem alienar nenhum dos membros. O próprio processo de gravar o Paramnesia ensinou-nos quase tanto como o Odyssey e tudo o que disse está muito mais refinado e afinado agora. Musicalmente, é inegável que 4 anos fazem muita diferença na música que nos influencia e penso que isso é audível quando comparamos as músicas que já vêm do Odyssey com as que apareceram apenas no Paramnesia, se por um lado fomos buscar ambientes que não surgiam 4 anos antes, por outro também perdemos o medo de ter riffs de metal básicos focados só em ser pesados e agressivos.
Finalmente, o orgulho não me permite deixar de dizer que, quando se está num grupo onde todos os elementos estão sempre a puxar para ser melhores, 4 anos fazem toda a diferença no que toca à nossa habilidade técnica, o que por sua vez permite executar outro tipo de coisas.
M.I. – Quais são as vossas principais influências musicais? Para além do Metal, que outros estilos vos interessam?
FS - Sendo o Metal o estilo transversal a todos os elementos da banda, diria que cada um de nós tem várias influências musicais diferentes, que acabam por colidir de uma forma interessante na composição das músicas de 11th Dimension, não nos restringindo assim a um único estilo de música. Falo por exemplo de estilos musicais como Rock, Pop, Jazz e até mesmo Música Clássica.
M.I. – Como é que estão a promover o vosso álbum? Quais as reacções da crítica?
DR - Apostámos em algumas plataformas de promoção online, que fizeram com que a notícia do lançamento do álbum chegasse a uma infinidade de páginas, zines, rádios e etc a nível internacional, o que definitivamente foi uma boa ajuda. As reviews que fomos encontrando, tanto por cá como lá fora, foram todas extremamente positivas, o que naturalmente nos deixa orgulhosos. Sabemos que não é possível agradar a toda a gente, sabemos que não somos perfeitos, mas o feedback que nos tem chegado tem mostrado que isto valeu bastante a pena.
M.I. - O mercado internacional é algo que ponderam?
PM - Impossível em 2018 não pensar no mercado como um todo, vemos um mercado global, não fazemos distinção entre nacional e internacional, a nossa música está exposta ao mundo, pronta para ser consumida e apreciada por quem assim o desejar, estamos em todas as maiores plataformas digitais e vendemos merchandise para todo o mundo, podemos “gabar-nos” de o Paramnesia já ter chegado a quase todos os continentes. A única limitação neste momento é a deslocação física para outros países, mas esperamos crescer o suficiente para abrir essas portas, no fundo nos dias de hoje não é assim tão diferente fazer uma viagem de 3h para tocar no Porto ou um voo dessa mesma duração e estar em Londres, Paris ou Berlim, é tudo uma questão de oportunidade e disponibilidade.
M.I. – Numa palavra, como se definem?
Audazes.
CC - Carlos Costa; FS - Filipa Simões; DR - Diana Rosa; PM - Pedro Marques
Entrevista por Rosa Soares