É motivo de celebração quando uma banda icónica de um movimento que marcou uma geração sobrevive - sendo “sobrevivência” um eufemismo quando se fala de 3 álbuns - à morte de um frontman. Mais ainda Layne Staley que, tal como Chris Cornell, tinham um timbre e uma expressividade inconfundíveis.
Por outro lado, ouvir um novo álbum de Alice in Chains desde "Black Gives Way to Blue", o primeiro sem Staley, que foi “substituído” por William DuVall, é uma experiência mais ou menos atípica para qualquer pessoa que tenha passado algum tempo a ouvir o “Facelift”, o “Dirt” ou o álbum homónimo da banda, “Alice in Chains”. E se esta é uma conversa que seguramente já se arrasta desde 2008, creio que faz sentido perceber como desde aí o som dos Alice in Chains tem evoluído.“Rainier Fog” demonstra bem a direcção que o som dos Alice in Chains tende a tomar. Depois de uma audição superficial, é perceptível que pouco ou nada reste daquela ambiência de vício e decadência, mantendo-se ainda assim um certo abismo emocional. Aquele Sludge mais polido, as linhas de guitarra quase atonais, como em “Red Giant”, são elementos que já existiam no álbum homónimo de 1995, quando Staley já começava a definhar e Jerry Cantrell já era cada vez mais o cerne do grupo. Há também alguns elementos que relembram claramente a obra a solo de Jerry Cantrell, como em “The One You Know” e há em “Never Fade” harmonizações de vozes que, ainda que com um timbre que não assombra como antigamente, relembram uma das imagens de marca do clássico som da banda nos anos 90.
O essencial a reter é que há uma assunção clara e consciente de que os Alice in Chains não são a mesma banda de há 25 anos atrás, por força das circunstâncias. Por isso, em vez de revivalismo sem sentido há uma preocupação em rumar a paragens sónicas que, ainda que relativamente familiares para quem tem seguido o percurso de Jerry Cantrell, são também diversas da herança clássica do grupo de Seattle; mantêm-se coerentes com a trajectória original da banda, sem se manterem estáticos. Não é completamente estranho nem é uma repetição de fórmula impossível. Não vale a pena procurar por aquele feeling dos Alice in Chains dos anos 90. Mas isso não quer dizer que "Rainier Fog" não nos dê 54 minutos de boa música com qualquer coisa de familiar pelo meio.
Review por Daniel Orge