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Reportagem: Camel @ Coliseu dos Recreios, Lisboa - 02/09/2018


Com mais ou menos anos de carreira, há poucas bandas que merecem ser referidas como verdadeiros clássicos… e ainda menos se falarmos de clássicos do rock progressivo. Ora, no passado dia 2 de setembro, os britânicos Camel regressaram a Portugal, para nos relembrar os seus clássicos e fazer-nos embarcar numa nostálgica viagem.

Com data única marcada para Lisboa, chega a ser surpreendente como é que estes gigantes do prog não mereceram mais destaque no seu regresso a território nacional, passados quatro anos desde a sua última visita. Desta feita, tínhamos encontro marcado para uma quente noite de domingo, no Coliseu dos Recreios, sem necessidade de qualquer banda de abertura. Mal nós sabíamos o que nos esperava.

Acho que se pode falar por todos quando se diz que este tipo de concertos nos consegue deixar qualquer um com um nervoso miudinho, mas sempre saudável. Para além de contarem com o fundador Andrew Latimer no seu alinhamento, falamos da atuação de uma banda com mais de 40 anos de carreira, e de um concerto onde poderíamos ouvir o icónico “Moonmadness” na íntegra.

A primeira, e mais curta, parte da atuação incidiu sobre “Moonmadness”, onde nos deixámos encantar pela naturalidade com que temas como “Song Within a Song”, “Another Night” e “Lunar Sea” voavam e flutuavam entre as luzes, saídos diretamente dos instrumentos de Latimer, Colin Bass, Denis Clement e Pete Jones, até aos nossos ouvidos. Sendo um dos membros mais recentes, Jones é responsável pelas teclas deste coletivo desde 2016, mas nem por isso revela uma menor entrega em cada um dos temas tocados naquele palco, sobretudo se falarmos da sua capacidade vocal e dos momentos memoráveis que os seus duetos com Latimer conseguiram criar.

Depois de uma curta pausa, os músicos regressam ao palco revigorados e chega a altura de trocar alguns recados com o público, sempre demonstrando o maior carinho pelos seus fãs portugueses, que, verdade seja dita, conseguiram compor uma plateia à altura para os receber. A segunda parte garantiu-nos uma longa e prazerosa viagem pela carreira da banda, desde 1976 a 1999, passando por temas como “Unevensong”, “Rajaz”, “Ice”, “Mother Road” e “Long Goodbyes”, que inúmeras vezes garantiram momentos únicos entre músicos e público, em que tantas vozes se faziam ouvir em uníssono.

Durante esta viagem pelo tempo, não faltou espaço para que cada um dos elementos e instrumentos nos relembrassem de que é feito o virtuosismo. Versatilidade é a palavra de ordem e Andrew Latimer continua a demonstrar toda a sua humildade e simpatia em palco, mesmo com 47 anos de grandes êxitos às costas, e todos os membros da banda acompanham esta simplicidade aliada a uma mestria incomparável. A atenção de Latimer divide-se entre voz, flauta e guitarra, e a cumplicidade sentida entre todos os membros conseguiu conquistar qualquer um que esteve presente no Coliseu naquela noite.

Foi entre intermináveis agradecimentos e aplausos que vemos a banda abandonar o palco, e entre mais uns tantos que os víamos regressar, para o tão desejado encore. Quando todos os presentes pensavam que já nada os poderia surpreender, fizeram-se ouvir os primeiros acordes de “Lady Fantasy” do, também ele icónico, “Mirage.” O quarteto, embora já com alguns sinais de cansaço após duas horas de concerto, não demonstravam vontade de abandonar o palco, e o público revelava ainda menos sinais de querer sair daquela sala sem oportunidade de lhes prestar mais uma homenagem. O adeus fez-se de pé, novamente perdido entre sorrisos e desejos de um breve regresso.

Texto por Andreia Teixeira
Fotografias por Ana Carvalho
Agradecimentos: Ecosmusicais