Os lisboetas Black Howling, regressaram este ano com o seu sexto longa-duração, "Return of Primordial Stillness", 3 anos após o lançamento da masterpiece que foi "O Sangue e a Terra", que marcara já uma mudança de direção da banda para um som mais coeso e limpo, o desafio de manter a qualidade desse álbum não era de todo fácil.
Ora, não sejam os Black Howling já veteranos do Black Metal lusitano, e dos mais prolíficos da cena nacional, a sua excelência no ofício do Black Metal veio ao de cima, novamente, resultando num álbum que não fica aquém dos anteriores registos. "Return of Primordial Stillness" é um álbum coeso, mais intenso do que qualquer trabalho anterior desta banda e que demonstra um amadurecimento da mesma, assim como um novo passo na evolução do seu som, com o surgimento de elementos de Doom Metal e os seus riffs densos e cataclísmicos, misturados com as passagens melancólicas e o brilhante uso de vocais limpos em fortes uivos de desespero.
O álbum, que compreende apenas 4 faixas, sendo a primeira e última maioritariamente instrumentais, abre da melhor maneira com a faixa "Iberia" e um dos melhores riffs deste álbum, um rastejante e potente riff de Black/Doom, um início destruidor de um álbum que mistura ao longo de si sempre este sentimento de desolação e positivismo derivado da perfeita mestria que a banda adquiriu ao longo dos tempos de adicionar sempre um cunho melódico nas suas faixas. Segue de seguida para a "Celestial Syntropy (Übermensch Elevated)", o primeiro hino ao niilismo, épica faixa que combina muito bem o uso dos vocais semi-limpos mas místicos, evocativos do caráter pagão que teve sempre presente na música dos Black Howling. O trabalho instrumental é também de louvar, mostrado no contraste causado pelos riffs melancólicos mas dissonantes, que adicionam uma sonoridade caótica a esta ode épica e o excelente trabalho no baixo, que mantém o ritmo sufocante e a ordem e enfatiza a componente Doom do álbum.
A faixa seguinte, "Celestial Entropy (Emptiness Revelation)" não é menos memorável. Continua onde a segunda faixa nos deixou, e demonstra-nos mais uma vez a brilhante capacidade de composição destes veteranos, assim como alguma mestria técnica que os Black Howling também sabem oferecer. O dualismo entre a guitarra doomy e densa e a camada de melodia e "positivismo" que lhe é sobreposta, já característico da banda, apresenta-se aqui no pico da sua execução e a adição de excelentes solos, não pretenciosos, vem enriquecer a música. Esta faixa culmina com dois minutos de pura mestria, apresentando riffs dissonantes e macabros que podiam ter sido tirados de um album de Deathspell Omega, seguidos de um furioso e bélico ataque com um blast incessante e os furiosos berros do vocalista, terminando com o ressonar das guitarras nas profundezas do abismo, enquanto que ecoam os uivos desesperados do vocalista.
O álbum é encerrado com uma ótima outro, "Cosmic Oblivion" que relembra mais o trabalho de Black Howling em " O Sangue e a Terra", sendo melancólica, etérea e representando o final do ciclo e um novo retorno à irrevogável quietude do vazio ancestral que é a alma da raça humana.
Mais um excelente álbum de Black Howling em que, apesar de em certos momentos parecer que largaram um pouco a sua identidade, conseguiram fazer um trabalho digno para ser dos melhores registo de Black Metal deste ano.
Nota: 8.7/10
Review por Filipe Mendes