Os Raw Decimating Brutality voltam-nos a presentear com um full-length, sete anos e muito cimento depois do seu debut. O sucessor de “Obra ó Diabo” põe de parte a temática da construção civil, mas o peso lírico (ou lítico?) continua mais que presente neste trabalho.
“Era Matarruana” leva-nos numa viagem à pré-história e aos mais belos misticismos e rituais pagãos deste período… mais ou menos. Durante cerca de meia hora os RDB apresentam-nos 15 temas de… como é que eu vos ponho isto? Escacar pedra? Sim, escacar pedra.
“Trono Oculto do Matarruano”, faixa de abertura, dá o mote ao álbum. Pequena intro; grito de guerra; gesso. Curto e grosso, rápido, rasgado (como se alguém estivesse à espera de outra coisa).
Tenho que destacar algumas faixas deste trabalho porque, ainda que o álbum valha muito mais a pena ouvido de início a fim, alguns de vocês podem estar com pressa e não ter meia hora pra ouvir tudo (Tas aqui a fazer o quê? Vai pô-lo a rolar). “Roda em Chamas”, “Calhau no Quintal”, “As Forças Ocultas dos Cromeleques”, “A Fonte de Onde Brotam as Bestas” ou “Invocação da Serpente Colossal” são excelentes exemplos.
Sendo quem são, não é surpresa que as letras (sempre tão percetíveis) sejam de natureza cómico-javarda. Desde divindades minúsculas com "mangalhos" gigantes em “Falos em Pedra” ou deuses cornudos e indígenas serranos, todas estas bases da nossa cultura são abordadas em “Era Matarruana”.
A composição do álbum é, como não podia deixar de ser, claramente direcionada para o Grind, com blasts ao pontapé e power chords a dar com um pau, deixando ainda espaço para o ocasional d-beat lentinho, numa toada mais old-school. No entanto a sua produção vai por um caminho algo diferente do habitual no género, com uma mix mais moderna, mais cheia, mais grave. Produzido pelo Miguel Tereso da Demigod Recordings, tenho a dizer que resulta lindamente. Ganha volume e dimensão sem perder a sujidade, sente-se a velocidade toda, os riffs caóticos, a voz salta cá pra fora sem abafar os outros instrumentos, e o baixo recebe uma reforçada importância nesta mix, que dá mais peso ao já por si musculado som dos RDB.
Tudo isto apenas serve para realçar o excelente trabalho de composição e execução por parte do quarteto português. A voz do Daniel está animalesca, quer no registo mais berrado quer no gutural grave, as guitarras e o baixo em uníssono criam uma parede sonora muito forte e a bateria, bem… digamos que não há muitos bateristas no nosso cantinho que atinjam aquelas velocidades (sim, Rolando, estamos a olhar pra ti).
Em suma, e vou repetir a referência, pedra muito bem escacada.
Esperemos não ter de esperar mais sete anos pelo próximo.
Nota: 9\10
Review por Jordi Lopes