No passado dia 10 de julho, Lisboa recebeu a visita de dois dos expoentes máximos do rock e metal internacional: Kiss e Megadeth. O Estádio Municipal de Oeiras, rebatizado Mário Wilson, foi o local escolhido e talvez por não ser um local tradicionalmente recetivo a eventos do género, quando os Megadeth subiram ao palco, pelas oito e meia, a plateia estava bastante despida de público.
Dave Mustaine continua com uma presença imponente, apesar da sua voz já não ser a de outrora. Mesmo assim, Oeiras recebeu um desfile de clássicos, a começar logo com "Hangar 18", iniciando da melhor forma este concerto. Seguiu-se "The Conjuring" e "The Threat is Real", com elevada nota para a formação que acompanha Mustaine, com destaque para o brasileiro Kiko Loureiro na guitarra e o baterista Dirk Verbeuren. Arriscaria mesmo dizer que, juntamente com o baixista original, David Ellefson, esta é a formação mais forte dos Megadeth de há muito tempo!
"Sweating Bullets", "Take No Prisoners" e "Trust" mostraram uma banda coesa, se bem que era notório algum cansaço na voz do eterno líder da banda. "Tornado of Souls" mereceu um enorme aplauso do público mal os primeiros acordes soaram, facto que foi ajudado pelo enorme fluxo de público no recinto, que depois de enormes atrasos nos procedimentos de entrada, estavam finalmente perto dos seus heróis. A banda percebeu isso mesmo e atacou os três últimos temas como se disso dependesse a própria vida, gastando o resto de energia que ainda tinha em "Dystopia", "Symphony of Destruction" e o grande final com "Peace Sells...", cantado em uníssono por um estádio já perto da lotação esgotada e com a mascote da banda em palco. Regressariam poucos minutos depois para um encore de apenas um tema, "Holly Wars".
Pela plateia era possível encontrar vários "Kiss", alguns deles que viajaram de diversos pontos da Europa, para testemunhar o regresso a Portugal, 35 anos depois! Leram bem, pois foi no dia 11 de outubro de 1983 que a banda de Paul Stanley e Gene Simmons tocou no velhinho Dramático de Cascais. A entrada da banda acabou por demorar mais do que o previsto, com sucessivas tentativas falhadas para erguer um pano gigante com o logótipo da banda na frente de palco, cujos cabos acabariam por dar de si e inviabilizar o processo. Assim, foi pelo seu próprio pé, e sem o cair do pano habitual que a banda entrou em palco, passavam cinco minutos das dez da noite. Problemas de som marcaram o início do concerto, com a famosa introdução “Alright, Lisbon... You wanted the best, you got the best! The hottest band in the world – KISS!” a demorar a entrar no sistema de som, perante visível embaraço da banda. "Deuce" arranca entre explosões e fumo, com a sensação clara que na régie estavam a ser resolvidos os problemas de equalização, não totalmente solucionados em "Shout It Out Loud', com pouca guitarra na monição. Excelente mestre de cerimónias, Stanley ganhou alguns minutos ao interagir com o público e à terceira arranca finalmente "War Machine" com excelente som e enormes chamas nos ecrãs. "Firehouse", do disco de estreia do coletivo, antecedeu o momento em que Gene cuspiu fogo de uma espada feita archote. Ao mesmo tempo, Stanley certificou-se que Oeiras está feliz: “Are you having a good time?”, repetindo várias vezes a um público que respondeu em plenos pulmões. Tommy Thayer toma o lugar do seu líder para vocalizar "Shock Me", seguindo depois para um solo com foguetes vindos da guitarra à mistura. Puro entertainment! "Say Yeah", "I Love It Loud" e "Flaming Youth" antecederam o grande momento para Gene Simmons, com o clássico "Calling Dr. Love", recebido em êxtase, esse que se prolongou em "Lick It Up", cantada em uníssono. Vestido com o tradicional fato de morcego, Gene protagonizou em seguida um dos momentos mais aplaudidos da noite quando, onde durante o seu solo de baixo, cuspiu 'sangue' da boca. Agarrado com um arnês às suas costas, voou vários metros acima do palco, pousando numa plataforma, interpretando aí "God Of Thunder".
A euforia voltou a atingir o seu pico com "I Was Made For Loving You", iniciando desse modo a parte final do concerto, com Paul Stanley a indicar que queria estar junto do seu público, pedindo que para tal os mesmos gritassem o seu nome. Nesse instante, voou então por cima da plateia até à regie, onde atacou com "Love Gun", regressando da mesma forma ao palco para terminar a atuação com "Black Diamond". O encore era esperado mas começou com o velhinho "Cold Gin", continuou em grande com uma enérgica "Detroit Rock City", seguida de um final apoteótico com "Rock And Roll All Nite", que culminou com uma forte chuva de confettis, explosões, fumo e fogo de artifício.
Texto por Vasco Rodrigues
Fotografias por Nuno Conceição / Everything Is New
Agradecimentos: Everything Is New