Em 2018, o SWR Barroselas Metal Fest chega finalmente à maioridade internacional. 21 anos a promover o encontro entre a comunidade metálica nacional e internacional, celebrado este ano com um cartaz bastante ecléctico, e que levou à vila minhota milhares de interessados, entre habitues e repetentes.
Barroselas costuma ser sinónimo de chuva e tempo frio mas quem se dirigiu à bilheteira para iniciar a celebração deste ano foi brindado por um sol radioso que, apesar de substituído por alguns aguaceiros no segundo dia, “teimou” em ajudar na tarefa de quem ali estava para ver quase meia centena de bandas.
E o primeiro dia arrancou com pontualidade britânica às 17 horas, com os OAK a arrancar as hostilidades na SWR Arena. Para quem nunca foi ao Festival, o SWR Barroselas é como assistir a um enorme jogo de ténis humano, em que cada um de nós toma o lugar de bola gigante e circula entre os três palcos do recinto. O recinto mostrava já uma moldura humana interessante, fruto do facto de ter o campismo mesmo ao lado do pórtico de entrada e da SWR Arena ser mesmo ali à mão de semear. O doom death do duo portuense deixou boas lembranças, sendo seguido pelos germânicos Placenta Powerfist, que trouxeram até ao Minho o seu death metal brutal cheio de letras com humor negro e referências gore.
No Warriors Abyss, o palco principal, ouvia-se já o check sound dos sul-africanos Vulvodynia, eles que estavam previstos atuar mais tarde, mas por força do cancelamento dos Sourvein tiveram de antecipar a sua actuação. E que actuação foi! Com um som entre o brutal death metal e o metalcore, não poderia ter sido melhor o arranque a 100% do festival. A plateia agradeceu o esforço do quinteto de Durban, que ainda tentou algumas palavras na língua de Camões. Em troca, mosh e stage diving com fartura! O alinhamento centrou-se no disco de 2016, “Psychosadistic Design”, com destaque para “Flesh Tailor” e o encerramento apoteótico com “Drowned in Vomit”.
Mudança de palco e mudança de ritmo. Da Austrália para o palco secundário chegaram os Départe com o seu post black metal emotivo. A banda da Tasmânia centrou a sua atenção no seu único disco, “Failure, Susbide”, com faixas longas de sonoridade sombria.
A plateia gostou mas notava-se um burburinho no recinto, pois preparava-se a entrada no palco principal dos italianos Mortuary Drape.
Um som perfeito e uma estética de palco sublime, com a banda a envergar capuzes similares a ordens religiosas, mostraram que a banda continua com uma forma excelente, pese embora os seus mais de 30 anos de atividade! “Primordial”, o clássico “Mortuary Drape” e uma versão hipnotizante de “Vengeance From Beyond” mostraram exactamente isso!
Os dinamarqueses Hexis brindaram quem tinha decidido deixar o jantar para mais tarde com uma excelente prestação de black metal repleto de mensagens anti-cristãs, mas era novamente no palco principal que se iriam centrar as atenções. Master’s Hammer é um nome com três décadas no panorama black metal experimentalista e a banda de Praga, capital da República Checa, era um dos nomes a gerar muita curiosidade desde a sua confirmação no cartaz deste ano do SWR Barroselas. No cardápio, a revisita do clássico álbum “Jilemnicky Okultista” de 92, que tocaram com o profissionalismo que se esperava, mas que acabou por não causar o impacto desejado na plateia, com muitos a não conseguir acompanhar a prestação da banda, principalmente face às letras em checo. Mesmo assim, boa adesão em alguns momentos da actuação, como em “Géniové”.
Os holandeses Teethgrinder acabaram por ter junto a eles no palco secundário mais gente do que possivelmente estariam à espera, e isso fez com que a sua prestação tivesse sido das melhores naquele palco. O seu grindcore criou o caos junto do palco, com destaque em “Forcefed”.
Mas se a prestação de Teethgrinder foi das melhores, o grande nome do primeiro dia do SWR Barroselas foi mesmo os norte-americanos Exhorder.
Ao entrarem em palco, muitos foram os que vociferaram um “até que enfim”, certamente uma referência para a sua estreia em solo lusitano para uma banda que desde 1985 desbrava os caminhos do thrash metal, e que influenciaram bandas como Pantera. A agressividade do som dos Exhorder está bem patente nos seus parcos albuns editados e é ao vivo que a banda continua a manter a chama viva. Em Barroselas, a actuação foi logo prejudicada com uma pausa de cerca de 10 minutos devido ao baterista ter danificado a tarola, mas assim que o problema foi resolvido, o comboio arrancou novamente a toda a velocidade, tocando diversos clássicos do disco de estreia “Slaughter In The Vatican”, mas também com incursões por “The Law”. “Death In Vain”, “Exhorder” e “Slaughter in the Vatican” fizeram levantar o pó na Warriors Abyss, com uma plateia visivelmente satisfeita e muito suada. Destaque igualmente para a estreia no baixo de Jason Viebrooks, ex-Heathen, que reforça a banda de Nova Orleaes.
Tarefa difícil para os noruegueses Obliteration, que tiveram de subir ao palco secundário depois da passagem trucidante dos Exhorder, facto que foi ainda mais notório com o também norueguês Mortiis. O ex-Emperor anda na estrada a tocar na íntegra “Ånden Som Gjorde Opprør”, clássico de dark wave ambiental de 1995, mas perante cerca de centena e meia de “sobreviventes”, o multi-instrumentalista teve contra si o cansaço e a falta de conhecimento da obra. A expectável nula interação verbal (e até visual) com o público fez com que a plateia se fosse reduzindo, encerrando assim de forma lenta e algo penosa um primeiro dia que merecia melhor desfecho.
Reportagem por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: SWR